Notícias
Dia dos Povos Indígenas
Hospital da Ebserh em São Luis realiza primeiro transplante em indígena no Maranhão
Após transplante renal, Naiane Guajajara, segue na Casa de Saúde Indígena em São Luís para acompanhamento.
São Luís (MA) - Naiane Pereira Guajajara, 15, indígena da etnia Guajajara, da aldeia Mangueira-Bacurizinho em Grajaú, terá ainda mais motivos para sorrir e agradecer no dia marcado para celebrar as conquistas e memória de seu povo, comemorado nesta quarta-feira, 19 de abril. A data marca o Dia dos Povos Indígenas, como forma de celebrar a diversidade das culturas e de incentivar a garantia de direitos dos povos originários. Com um sorriso no rosto, Naiane comemora uma linda conquista em sua vida. Após quatro anos de hemodiálise, passou pela cirurgia de transplante de rim no dia 24 de março, trazendo um marco não só para ela como para o Hospital Universitário da UFMA (HU-UFMA/Ebserh/MEC): É a primeira indígena transplantada no Maranhão.
Quando chegou no ambulatório da Unidade de Nefrologia, ela já era uma paciente com uma doença renal crônica, com perda da função renal e por isso tinha indicação para diálise, tendo iniciado o tratamento em junho de 2019. O HU-UFMA é único centro de diálise para crianças no Maranhão. A chefe da Nefropediatria do HU-UFMA, Janeide Siqueira, destaca as questões que mais impactavam durante o tratamento “Assim como todos que precisam fazer hemodiálise e que moram longe da capital, é necessário ter um local de apoio na cidade. No caso deles, a Casa de Saúde Indígena (Casai). Lá é o local que recebe e faz as intermediações entre os indígenas e os serviços do SUS. Entre as principais dificuldades que eles enfrentam está em morar fora da aldeia durante o tratamento e não participar das festividades. A cultura é muito forte e precisamos respeitar”.A nefropediatra relata como foi a dinâmica para não ter problemas de não aceitação para o tratamento quando começaram a chegar indígenas na hemodiálise: “Marcamos uma conversa com o representante dos caciques da aldeia para explicar algumas questões importantes, pois para fazer um transplante é preciso uma série de cuidados que precisam ser garantidos, inclusive, no pós-operatório, momento em que eles já estão inseridos novamente na aldeia. Ou seja, se a família e o cacique não estiverem com o total entendimento da importância de manter todos os cuidados, há um risco da descontinuidade. Então esse foi um momento muito importante”.
A família precisou se mudar para São Luís para acompanhar o tratamento da Naiane, já que o deslocamento do município de Grajaú para a capital era praticamente um dia de viagem, 563km de distância. A mãe da Naiane, Geana Pereira Guajajara, é só gratidão a Deus e a equipe pela oportunidade da filha ter uma nova vida, longe das quatro horas de hemodiálise, durante três dias da semana. “Foi uma grande surpresa para nós depois de tanto sofrimento. Chorava vendo-a naquela máquina e hoje sou muito feliz por esse milagre”, comemora aliviada.
Já passaram pela Hemodiálise do HU-UFMA cinco indígenas. Atualmente, dois permanecem fazendo o tratamento três vezes por semana. Enquanto isso, uma nova perspectiva chegou para Naiane, que precisará agora seguir com outros cuidados. Ela fará uso regular da medicação contra rejeição e deverá comparecer periodicamente para avaliação ambulatorial. A responsável técnica do Transplante, Teresa Cristina Pereira, esclarece que o transplante é um tratamento que vai trazer muitas melhorias para ela “É importante dizer que a doença renal crônica não tem cura, mas o transplante é um tratamento que pode oferecer uma qualidade de vida, sem tanta restrição quanto na época da hemodiálise. Ela poderá fazer algo que não damos o devido valor, que é tomar água à vontade, algo que ela não poderia fazer antes e agora pode.”
Por ser um procedimento de alta complexidade, contou com uma grande equipe desde o pré-operatório até o pós-operatório, envolvendo os profissionais de nefrologia, do transplante renal, da urologia, cirurgião vascular, anestesista e toda a equipe multiprofissional que manteve os cuidados durante a internação, entre eles, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e farmacêuticos.
A nefropediatra Janeide Siqueira prevê que o transplante será um divisor de águas para Naiane: “Eu vejo que o transplante dela pode servir como estímulo dentro da própria aldeia por verem que é uma coisa boa; que a família, após o tratamento, pode voltar para o território. É um incentivo aos outros indígenas, para quando tiver a possibilidade do transplante, eles já estarem mais conscientes dos benefícios” completa.
Com uma boa recuperação e adaptação, ela já está de alta desde o dia 14 de abril, 20 dias após o transplante. “Naiane teve uma boa evolução pós-cirúrgica, o que é normal em se tratando de doador falecido, pois o rim pode demorar um pouco a ter uma função plena” explica a responsável técnica do Transplante, Teresa Cristina Pereira. “É muito importante frisar que foi de doador falecido, pois uma família, mesmo em um momento de dor pela perda de um familiar amado, disse SIM para doação e pôde salvar a vida de alguém, aqui, no caso, da Naiane” acrescentou Teresa.A família ainda precisará ficar por São Luís por, pelo menos, três meses para os devidos acompanhamentos pós-transplante. “A possibilidade de ela voltar para a aldeia traz ganhos enormes para a qualidade de vida, porque durante a hemodiálise não era possível. Após o transplante, ela tem que vir na consulta semanalmente, mas ao longo do tempo vai aumentando o intervalo e, com isso, vai ficando cada vez mais próximo dela voltar para as origens, para a sua aldeia e para sua cultura”, explica Janeide.
Saiba mais
De acordo com o último Censo Demográfico realizado no Brasil pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, a população indígena brasileira chegava a quase 900 mil pessoas por todos os estados do país, inclusive no Distrito Federal. Histórias de conquistas, de lutas, de superação, de aprendizado e de solidariedade desses povos se entrecruzam nas diferentes frentes de atuação dos hospitais universitários, geridos pela empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, estatal vinculada ao MEC.
Conheça um pouco das outras histórias clicando AQUI .
Sobre a Ebserh
O Hospital Universitário da UFMA faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Danielle Morais, com revisão de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social