Séries Especiais
SÉRIE SEGURANÇA E SAÚDE EM ENCHENTE
Hospitais da Rede Ebserh unem esforços para assegurar atendimento durante enchente no Rio Grande do Sul
Brasília (DF) – A chuva intensa que atingiu o estado do Rio Grande do Sul (RS) causou muitos estragos: rios transbordando, estradas bloqueadas, pontes destruídas, casas submersas e, consequentemente, um desafio para atendimento dos pacientes internados e outros com novas necessidades de saúde.
A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), estatal vinculada ao MEC, conta com três hospitais na região, que estão enfrentando desafios diversos durante essa catástrofe natural. Entretanto, com a força local e o apoio da administração central e da rede de hospitais, medidas emergenciais foram rapidamente tomadas para garantir o atendimento, minimizar possíveis impactos negativos e seguir atendendo quem mais precisa. Uma delas é a manutenção de suprimento de insumos críticos como dietas enterais, aquelas que complementam a alimentação dos pacientes. O estado inteiro teve problemas de abastecimento, especialmente para pacientes em terapia intensiva, uma vez que os centros de abastecimento de Porto Alegre e Canoas ficaram inoperantes e alagados.
Um exemplo é o Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM-UFSM), que disponibilizou dieta parenteral para dois bebês internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na cidade de Rio Grande, onde outro hospital vinculado à Rede Ebserh, o HU-Furg, atende pacientes do Sistema Único de Saúde. Para isso, teve que cruzar o estado para a entrega mesmo em condições tão adversas. No HU- Furg, houve ainda a instalação de um novo gerador, em nível acima do risco de alagamento, garantindo a manutenção de energia elétrica.
Houve ainda a mobilização e aquisição de respiradores, monitores e camas hospitalares para abertura de 10 novos leitos de UTI. Para isso, o Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC) doou 12 ventiladores pulmonares ao HUSM e a Ebserh convocou 25 novos profissionais concursados para reforçar as equipes de saúde em Santa Maria. Os ventiladores pulmonares são equipamentos cruciais para o tratamento de pacientes em estado grave, especialmente aqueles que sofrem de insuficiência respiratória, sendo ainda mais demandados em períodos de crise como a atualmente vivenciada no RS.
Também em Santa Maria, médicos e enfermeiros se uniram e montaram um alojamento seguro para pacientes com alta hospitalar que não conseguiram voltar para suas casas. Além disso, foi realizada a parceria com um hotel da cidade para alojamento provisório de profissionais que não conseguiam voltar para suas casas, mantendo a escala de trabalho.
Providências foram tomadas para a construção de uma rede de apoio para processamento sorológico de hemoderivados em alternativa ao processamento em Porto Alegre e houve a mobilização para doação de sangue em Pelotas. Também foi providenciado transporte aéreo de pacientes que residem em locais de difícil acesso dependentes de hemodiálise e quimioterapia pelas forças de segurança locais e federais para garantia do cuidado.
Destaca-se ainda o apoio de forma integrada pelas unidades vinculadas à Ebserh, com doação de equipamentos e insumos dos hospitais de Cuiabá (Hospital Universitário Júlio Müller), Curitiba (Complexo Hospital de Clínicas), Distrito Federal (Hospital Universitário de Brasília), Goiânia (Hospital das Clínicas) e Natal (Hospital Universitário Onofre Lopes).
Em meio ao caos, o HUSM contou também com o apoio de diversas instituições, incluindo as Bases Aéreas de Canoas e Santa Maria para garantir o atendimento aos pacientes da região. A parceria com a Base Aérea de Canoas possibilitou o transporte de dietas enterais fundamentais para a alimentação de pacientes em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do HUSM. As dietas, essenciais para o suprimento necessário dos pacientes, foram transportadas até o HUSM durante o auge da enchente na Região Central do estado, a sexta-feira, 3 de maio. Essa ação garantiu a continuidade do atendimento mesmo diante das dificuldades logísticas impostas pela enchente.
Segundo a médica neonatologista e diretora clínica do HUSM, Marinez Casarotto, “a nutrição parenteral desempenha um papel fundamental para aqueles recém-nascidos que, devido às condições clínicas não conseguem se alimentar como prematuros, recém-nascidos com doença gastrointestinal ou que fazem cirurgias”.
A nutrição parenteral é importante para os pacientes que não podem receber alimentação por via oral ou enteral (sonda) e que necessitam de uma nutrição manipulada para atender suas necessidades singulares. Segundo a médica intensivista pediátrica e rotineira da UTI Pediátrica do HUSM, Crisiane Danieli, “a nutrição parenteral fornece nutrientes essenciais diretamente na corrente sanguínea, garantindo que o paciente receba as substâncias necessárias para seu crescimento e desenvolvimento, como proteínas, gorduras, carboidratos, vitaminas, oligoelementos e minerais”.
O milagre da vida em meio à enchente
Um dos resgates mais emocionantes realizados durante a enchente foi o da gestante Vitória Gomes de Medeiros. Graças à atuação conjunta das equipes socorristas, mãe e filho, o pequeno Levi, receberam os cuidados necessários. A tia da Vitória, Jussani Gomes Bittencourt, expressou a emoção de ter sido a primeira familiar a receber o Levi e ressaltou a união familiar: “Mesmo morando um pouco distante, enfrentei a dificuldade de acesso e vim para o Hospital, para estar presente nesse momento especial”. A tia também elogiou o atendimento no HUSM, destacando o carinho e atenção dos profissionais.Emocionada, Vitória compartilhou sua experiência: “Sou de Restinga Seca, cidade próxima. Estava em casa tranquila e o que aconteceu? A bolsa estourou de madrugada. Foi um caos. A região já estava alagada e tivemos dificuldades para conseguir ajuda. A ambulância não conseguiu chegar”. Ela relatou a apreensão ao ser resgatada: “O helicóptero desceu e me resgatou. Nunca tinha andado de helicóptero e achei que viria com meu marido, mas vim sozinha. Fiquei com medo, mas fui atendida rapidamente ao chegar no Hospital. Fui bem acolhida por todos”.
A jovem mãe, de 18 anos, destacou que essa experiência marcante, tornou seu primeiro Dia das Mães inesquecível. “A emoção de segurar Levi nos braços pela primeira vez foi um momento de muita alegria e lágrimas”. Ainda em meio à enchente, mãe e filho seguem internados no HUSM e a família aguarda para conhecer o pequeno Levi pessoalmente.
Atendimentos em Santa Maria
Os exames e consultas ambulatoriais voltaram a ser realizados, com a possibilidade de reagendamento para pacientes que não puderem comparecer devido à dificuldade de acesso. É importante que os pacientes atualizem seus cadastros na recepção do Setor de Marcação, inclusive os contatos telefônicos. O Pronto-Socorro continua priorizando os casos graves, com as cirurgias de urgência e emergência ocorrendo normalmente. As visitas aos pacientes permanecem suspensas.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Andreia Pires e Ronaldo Pedroso, com revisão de Danielle Campos e George Magalhães
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh