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SAÚDE AUDITIVA
Hospitais da Rede Ebserh tratam surdez em usuários do SUS
Brasília (DF) – Em 2021, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que, no Brasil, 2,3 milhões de pessoas tinham algum grau de surdez. Muitas ainda são as barreiras de inclusão na sociedade, mas a rede de hospitais vinculados à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) reforça a acessibilidade e a garantia de tratamentos para perdas auditivas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), neste Dia Nacional do Surdo (26), instituído pela Lei nº 11.796/2008.
O médico otorrinolaringologista Marcos Rabelo, do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC/Ebserh), explica que a surdez pode acontecer por três causas, caracterizadas pela região em que são atingidas. Uma surdez relacionada à condução do som, ou seja, quando algum mecanismo condutor é afetado (tímpano e ossos do ouvido, por exemplo); um outro tipo é considerado neurossensorial e acomete a cóclea, a estrutura mais interna do ouvido responsável pela função auditiva, ou o nervo e as vias auditivas. Um terceiro caso seria de causa mista, com a surdez provocada por alterações tanto na condução do som, quanto na parte neural, decorrente de doenças como a otosclerose (degeneração que atinge o osso chamado estribo e pode se propagar pela cóclea). Diante desses três tipos, uma pessoa já pode nascer com surdez (por uma condição congênita) ou ela pode ser adquirida ao longo da vida (por algum trauma e tumor, por exemplo).
Tratamentos e reabilitação
O especialista explica que os tratamentos variam de acordo com o tipo de surdez. Se a perda auditiva for provocada, por exemplo, por uma perfuração no tímpano, o procedimento cirúrgico no local resolverá o problema. No caso de problemas neurosensoriais, ele alerta que as perdas são irreversíveis e a reabilitação se dará por meio de aparelhos de amplificação sonora individuais. Esse é o caso da perda de audição provocada pelo envelhecimento (chamada tecnicamente de presbiacusia).
Quando a surdez é muito profunda e os aparelhos não são suficientes, existe a opção do implante coclear, analisado em cada paciente. Nesse procedimento, o médico explicou que um dispositivo é colocado no ouvido interno: “Através da cirurgia, um eletrodo é colocado no interior da cóclea, que é a estrutura mais interna sensorial do ouvido. Um mês depois, é ativado com um segundo dispositivo colocado atrás da orelha, com uma antena que captura o som e transmite para o dispositivo interno que vai estimular o nervo auditivo”.
Esse foi o método indicado para Letícia Teixeira, de 31 anos, paciente do HUWC submetida à cirurgia em 14 de setembro, a primeira etapa de seu tratamento. Ela era ouvinte, mas passou por um forte tratamento com antibióticos, em 2022, que resultou na perda auditiva profunda. Letícia está se recuperando bem e o próximo passo será dado em outubro, após o tempo médio de cicatrização, para a colocação do dispositivo externo e, assim, poderá voltar a ouvir normalmente: “Estou bem melhor e ansiosa para voltar a escutar”, expressou.
Quem também foi beneficiada pelo implante coclear foi a pequena Liz Sophia, de apenas três anos. Sua mãe, Iana Vitória Marinho, de 26, contou que, por volta dos sete meses de idade da filha, começou a perceber que havia algum problema de audição, porque ela não correspondia aos chamados. Em fevereiro de 2022, Liz foi diagnosticada com surdez profunda bilateral. No dia 30 de março de 2022, foi submetida ao implante coclear no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS) e, em 04 de maio, o dispositivo externo foi ativado e Liz pôde, pela primeira vez, ouvir o mundo ao seu redor e, especialmente, os seus pais, permitindo que, também, começasse a desenvolver a fala: “O implante nos possibilitou ouvir um ‘amo mamãe’ e foi um dos momentos mais lindos que vivemos”, relatou Iana (Veja o vídeo neste link).
Faz parte do processo de reabilitação auditiva a terapia fonoaudiológica para desenvolver a comunicação, melhorando a qualidade de vida do paciente. A fonoaudióloga Jeane Lima, do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS), do Complexo Hospitalar Universitário da Universidade Federal do Pará (CHU-UFPA/Ebserh), explica que no caso de implante coclear em crianças, como acontece com Liz, a terapia terá o objetivo de desenvolver e/ou estimular as habilidades auditivas (detecção, discriminação, reconhecimento e compreensão), como também a linguagem oral. Em adultos que eram ouvintes, perderam a audição e receberam o implante, situação que Letícia vivencia, como já possuem repertório linguístico e memória auditiva, na maioria das vezes, será realizado treinamento auditivo para estimular as habilidades auditivas com o objetivo de reaprender a ouvir, favorecendo a comprensão da fala e a comunicação.
Inclusão e acessibilidade na saúde
Além da garantia ao tratamento e à reabilitação, a pessoa surda tem o direito à acessibilidade comunicacional. É nesse sentido que atua a Comissão de Intérpretes do Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB/Ebserh), onde a técnica de enfermagem Kenia Watanabe, lotada na Unidade Saúde da Mulher (UMUL), é membro. Ela é pós-graduada como intérprete em Libras e tem ajudado a traduzir os atendimentos, quando solicitados, em consultas, exames e procedimentos cirúrgicos: “Nós estamos promovendo a autonomia e a liberdade para que o surdo seja inserido de forma justa no serviço de saúde”. Kenia explicou que existe, também, o interesse dos profissionais em aprender a língua de sinais e, por isso, a Comissão tem como projeto realizar capacitações para os trabalhadores da saúde.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Marília Rêgo, com revisão de Andreia Pires e Danielle Campos.
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh