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GRAVIDEZ E OBESIDADE
Gestantes que fizeram cirurgia bariátrica tem atendimento especializado na Maternidade Escola da Ebserh no Rio de Janeiro
Rio de Janeiro (RJ) - A cirurgia bariátrica visa reduzir o tamanho do estômago para tratamento da obesidade, acarretando mudanças significativas na alimentação e na capacidade de absorção de nutrientes. Por esses fatores, a gravidez de mulheres que passaram pelo procedimento requer cuidados específicos para garantir a nutrição adequada para a mãe e para o bebê. A Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ME-UFRJ), que faz parte do Complexo Hospitalar da UFRJ (CH-UFRJ), gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), é referência no acompanhamento destas pacientes há nove anos.
O ambulatório de gestantes pós-bariátrica conta uma equipe multiprofissional formada por endocrinologista, obstetra, enfermeira, nutricionista, psicóloga e psiquiatra, o que faz toda diferença no acompanhamento da gestação. Numa manhã, a paciente passa por todas essas especialidades num mesmo local, tornando a Maternidade Escola um modelo nessa assistência. Com essa abordagem, os riscos são minimizados.
“A gestante é acompanhada por uma equipe que consegue dar todo suporte, mesmo que tenha engravidado logo após a cirurgia, e não deixa desnutrir o bebê. Quando elas chegam, passam por um protocolo de exames para identificar possíveis carências nutricionais”, garante o endocrinologista e nutrólogo da maternidade, Marcus Miranda.
O médico ressalta que a gestante faz todos os exames na Maternidade. “O contato com os diversos profissionais ajuda muito, estamos sempre trocando informações, é um atendimento muito rico. É um modelo que só é possível na rede pública. No atendimento privado é muito difícil conseguir reunir uma equipe tão completa. A paciente tem que ficar se deslocando”.
O ambulatório atende, em média, dez pacientes por semana. A cada semana, entra um caso novo, encaminhado pelo Sistema de Regulação. Além da questão com a obesidade, muitas mulheres têm problemas psicossociais, psicológicos ou psiquiátricos. “Não é incomum que essas pacientes tenham transtorno de ansiedade, depressão, compulsão alimentar ou por álcool ou cigarro. Às vezes, até histórico de tentativa de suicídio. Então, é uma população que requer um manejo do ponto vista psíquico. Tem muito aprendizado para todos”, analisa Miranda.
Aumento da fertilidade
Um dado interessante, observado em vários estudos e no atendimento clínico, é o aumento da fertilidade após a bariátrica. Quando a mulher está com muito sobrepeso, pode ter síndrome do ovário policístico, menstruação irregular, ciclos sem ovulação, entre outros fatores que dificultam a gravidez.
“Depois da cirurgia, quando ela começa a perder peso, ela passa a ovular com mais regularidade. Além dos fatores fisiológicos, há também a melhora na autoestima e um novo despertar da sexualidade, o que também contribui para reverter a dificuldade de engravidar”, explica Miranda.
Esse foi o caso de Diulia Pereira do Nascimento, 29 anos, que engravidou três meses depois da cirurgia. Ela sempre teve o sonho de ser mãe, mas não queria ficar grávida naquele momento. “Emagreci bastante depois da cirurgia. Quando descobri a gravidez, fiquei muito aflita. Não queria engordar de novo, mas também não queria prejudicar meu bebê. Eu me alimentava até sem querer. Uma prima que me ajudou a comer coisas saudáveis”, lembra Diulia, que chegou a desenvolver anemia no início da gestação por não ter a orientação nutricional adequada.
O encaminhamento para a Maternidade Escola só se deu no sétimo mês de gravidez, por erro da clínica da família onde ela se tratava, quando deveria ter sido logo no primeiro mês. “É um atendimento maravilhoso. Eles fazem exames muito completos, vir pra cá me tranquilizou muito. Gratidão eterna a todos que me acompanharam”, diz Diulia, que deu à luz uma menina em setembro desse ano na maternidade. Ambas estão bem e saudáveis.
Métodos contraceptivos
O ideal é que a mulher seja orientada antes da cirurgia sobre métodos contraceptivos ou até mesmo iniciar algum tratamento antes da intervenção. O anticoncepcional oral não é indicado, pois a absorção fica prejudicada em quem faz bariátrica. Então, a mulher pode engravidar tomando a pílula. Oliveira esclarece que os métodos recomendados são DIU, implante transdérmico ou contraceptivo injetável.
O médico afirma que muitas pacientes engravidam logo no primeiro ano pós-cirurgia. O ideal, segundo ele, é que elas esperem a perda de peso estabilizar, o que, em média, leva de um ano a um ano e meio. “É muito importante falar sobre esse assunto, porque ela vai conseguir planejar a gestação. A recomendação médica é esperar, mas com a experiência que temos aqui, ficamos seguros em acompanhar a gravidez dessas pacientes a qualquer tempo”, garante Miranda.
Saúde para a mãe e o bebê
A gestante pós-bariátrica vive o dilema de não querer engordar nem querer prejudicar o bebê. “É compreensível. Muitas vezes, perder peso é a luta de uma vida. A cirurgia foi o último recurso, porém ficou grávida e a recomendação é ganhar peso”, explica o médico.
Após a bariátrica, há uma redução significativa da ingestão de alimentos nos primeiros meses, o que requer uma suplementação proteico-calórica ou só proteica, a depender do caso. Os maiores riscos durante essa gravidez são o parto prematuro e as carências nutricionais, que podem trazer sintomas desagradáveis para a mãe e prejudicar o crescimento do feto.
A cirurgia também pode trazer benefícios. Os estudos demonstram que a gestante pós-bariátrica tem menos risco de crise hipertensiva, pré-eclampsia, diabetes gestacional, além de diminuir a possibilidade do bebê ser GIG (recém-nascido grande para a idade gestacional).
Epidemia de obesidade
Segundo dados do Vigitel Brasil 2023, 24% da população brasileira adulta tem obesidade. A projeção é que esse número dobre em 20 anos. Então, se nada for feito, 48%, quase metade da população, será obesa. No meio dessa epidemia de obesidade, cresce também o número de cirurgias bariátricas. O Brasil já é o segundo país no ranking mundial em realização de cirurgia bariátrica. Os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar.
Como reconhece Oliveira, a obesidade é uma condição difícil de tratar. Então, a indicação da bariátrica tem a ver com o paciente não responder ao tratamento clínico usual (dietas, medicamentos, novos hábitos). Alguns medicamentos mais eficazes pra obesidade também têm custo muito alto.
A proporção entre mulheres e homens que se submetem à bariátrica, no Brasil, é de três mulheres para um homem. Dessas mulheres que fazem bariátrica, 80% estão em idade fértil, ou seja, podem engravidar a qualquer momento.
Sobre a Ebserh
A Maternidade Escola faz parte do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), gerido pela Ebserh desde junho de 2024. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação: Claudia Holanda, com revisão de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social da Ebserh