Séries Especiais
SÉRIE PEQUENOS GUERREIROS
Famílias vencem desafios e comemoram desenvolvimento de filhos prematuros
Brasília (DF) – “Hoje, minha filha é uma jovem de 23 anos muito linda, estudiosa, que trabalha e cursa o 7º período de Psicologia”, orgulha-se Denise Torres, mãe de Maria Clara, que nasceu com 830 gramas e 32 semanas de gestação. O depoimento mostra que os desafios da prematuridade, embora assustem as mamães, podem ser vencidos com assistência especializada em saúde e muita fé. Nesta última reportagem da série “Pequenos Guerreiros”, você vai conhecer relatos como esse: de indivíduos assistidos nos hospitais universitários federais vinculados à Ebserh que lutaram e hoje comemoram a vitória da vida.
De acordo com a médica neonatologista Livia Prazim, responsável técnica da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI Neo) do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW-UFPB), a prematuridade, apesar de evitável na maioria dos casos, ainda é uma das maiores causas de mortalidade infantil no Brasil. São considerados prematuros bebês que nascem com menos de 37 semanas, como é o caso de Maria Clara.
“As causas são inúmeras, destacando-se: falta de planejamento familiar, ausência de pré-natal eficiente que possa detectar precocemente complicações gestacionais como hipertensão, diabetes e infecções perinatais; ausência de nutrição adequada; e uso de fumo, álcool ou drogas ilícitas por mulheres em idade fértil”, alertou Livia.
Denise lembra que, por volta da 30ª semana de gestação, sentiu uma forte dor de cabeça e, após procurar assistência, foi diagnosticada com pressão alta. A partir de então, ficou internada no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) e passou por procedimentos como transfusão de sangue.
“A cada dia, eram realizados exames pela manhã, tarde e noite para garantir que eu e minha filhinha estivéssemos bem. Porém, a pressão arterial se mantinha elevada, demandando muitos cuidados. Após a realização de ultrassonografia e cardiotocografia, identificaram que minha bebê já se encontrava em situação de muito cuidado, sendo decidido pela cesariana de urgência e Maria Clara nasceu”, disse.O primogênito de Denise, João Augusto, de 33 anos, também nasceu prematuro, no ano de 1990, após ela somar quatro perdas gestacionais sem motivo aparente. “Acredito que a mulher que tem um parto prematuro se entrega aos cuidados de seu filho(a) pedindo a Deus, todos os dias, que este ser tão pequenino tenha forças para sobreviver e cresça saudável. Minha filha não teve qualquer sequela, graças a Deus e às equipes do hospital. Meus dois filhos são muito saudáveis”, desabafou.
Prognóstico de recém-nascidos prematuros
Por conta do parto prematuro, Cleonice Nóbrega temia pelos gêmeos, nascidos com 26 semanas e 660 gramas (considerados prematuros extremos). Um dos filhos, Maria Vitória, é hoje uma saudável adolescente de 15 anos.
“Foi uma gestação gemelar com muitas complicações. Comecei a sangrar e a sentir fortes dores. Após o nascimento, foram outras tantas batalhas, inclusive com o João Pedro, que infelizmente faleceu com um ano. No entanto, agradeço a Deus por estar com minha filha hoje. O atendimento que tive no Hospital Universitário Lauro Wanderley foi top. Todos da equipe foram nota 10”, contou a dona de casa.
Conforme estudos, os bebês nascidos entre 23 e 24 semanas podem sobreviver, mas são menores as perspectivas de não apresentarem algum grau de lesão neurológica. Acima das 27 semanas de gestação, o prognóstico é melhor e a maioria dos bebês se desenvolve sem apresentar alterações na parte motora e/ou intelectual.
Segundo o enfermeiro Daniel Aser, do Hospital Universitário Ana Bezerra, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Huab-UFRN), o prognóstico de desenvolvimento dos prematuros depende de fatores biopsicossociais. “Estudos sugerem que prematuros possuem um risco ainda maior de terem problemas subsequentes a longo prazo”, enfatizou. Daniel, que é especialista em terapia intensiva neonatal, acrescenta que o baixo peso apresentado pelos recém-nascidos prematuros são um alto risco para anormalidades neurológicas e atrasos no desenvolvimento.
Riscos são inversamente proporcionais ao tempo de gestação
Victor Enzo Lins Vieira completou 21 anos, neste dia 20 de novembro. O jovem nasceu com 24,5 semanas e pesando 750 gramas. Por conta da prematuridade extrema, ficou com sequelas motora e visual. “No entanto, a área cognitiva é preservada. Tanto que ele tem boa interação com as pessoas e percebe tudo ao redor. Tem grande autonomia, mesmo diante das dificuldades. Utilizamos alguns recursos para facilitar a comunicação no nosso dia a dia”, conta o pai, Iedmilson Vieira Marinho.
A médica neonatologista Livia Prazim explica que os riscos são inversamente proporcionais ao tempo de gestação, ou seja, quanto menor a idade gestacional, maior as chances de surgirem sequelas como paralisia cerebral, dificuldade de aprendizado, transtornos de comportamento, asma crônica e alterações visuais e auditivas.
“Os prematuros estão mais sujeitos a hemorragias intracranianas, infecções, desnutrição e alterações estruturais em órgãos e aparelhos que tem sua maturação em ambiente extrauterino (olhos, ouvidos, pulmões, intestinos), o que pode levar à redução no crescimento, alterações nas funções dos sistemas do organismo e retardo no desenvolvimento neuropsicomotor”, detalhou.
Todos os dias, dezenas de bebês prematuros recebem alta nos hospitais da Rede Ebserh. Sua ida para casa é celebrada, muitas vezes, com corredor de palmas, uma homenagem dos profissionais que os “adotaram” à família, que perseverou na fé, na disciplina, aprendeu sobre cuidados e ensinou sobre amor. Essa série de reportagens sobre os Pequenos Guerreiros, é um manifesto de esperança e testemunho de superação. Que essa mensagem chegue a todas as famílias que estão trazendo à luz os bebês apressadinhos, cheios de força para viver!
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Jacqueline Santos, com edição de Danielle Campos.
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh