Séries Especiais
SÉRIE SETEMBRO VERDE
Família dá forças para enfrentar dificuldades com apoio, esperança e até órgãos doados
Brasília (DF) - Mesmo em casos de finais felizes, a história de transplantes geralmente envolve um processo de muito sofrimento, uma espera às vezes longa e sempre angustiante e, em alguns casos, surge a vontade de desistir. Por isso, os pacientes que esperam por um órgão contam redes de apoio de familiares e profissionais da área de saúde, que entram com a dose de esperança e força necessárias nestas fases. Nesta última reportagem da série especial Setembro Verde, produzida pela Coordenadoria de Comunicação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), alguns pacientes compartilham suas histórias e reforçam a importância da doação.
Há alguns casos em que os familiares entram com mais do que a empatia e o amor, pois são os doadores do órgão esperado. Foi o que aconteceu com a pedagoga Chayenne Costa da Silva, hoje com 33 anos, que recebeu a medula doada pela irmã mais nova, a enfermeira Nayara Moreira Cardoso, em transplante realizado no Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes, da Universidade Federal do Espírito Santo (Hucam/Ebserh), em um processo que começou em 2015, quando ela entrou no hospital para tratar de um linfoma.
Milena chegou a realizar um transplante autólogo (da própria medula), mas não resolveu e, em 2021, a caçula se propôs a participar dos exames para identificar a compatibilidade e descobriram que eram irmãs também de medula. “Receber a medula da Nayara foi uma experiência indescritível. É uma mistura de gratidão, que levo para toda a minha vida, com uma conexão ainda mais forte com ela”, tenta resumir a pedagoga.
Ela diz que neste processo as emoções são grandes, com uma verdadeira gangorra de sentimentos todos os dias. “Cada dia após o procedimento é uma jornada de recuperação física e emocional, repleta de pensamentos de como a vida foi transformada pelo amor e pelo sacrifício da minha irmã”, explica.
Doação entre parentes exige preparo e acompanhamento
A chefe da Unidade de Transplantes do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), a nefrologista Larissa Guedes, concorda que as emoções envolvidas no transplante entre parentes realmente são grandes, por isso é preciso uma atenção profissional e multidisciplinar para acompanhar o processo. O HC tem toda uma estrutura para isso, pois só recentemente começou a fazer transplantes de rins de doadores falecidos.
A médica explicou que os riscos são inerentes ao processo cirúrgico e, em condições normais, o doador de rim recupera a função renal regularmente, com o rim remanescente adaptando-se à retirada com o tempo. “Nós temos uma equipe multidisciplinar que faz este acompanhamento. O doador e o receptor passam por uma avaliação médica e psicológica, sendo que a gente vai entender os motivos da doação e explicar como será todo o processo para que as partes estejam cientes”, disse.
É o caso da servidora pública Daniela Goes, que é duplamente agradecida à sua família pelo rim que está em seu corpo, após dois transplantes feitos no HC-UFPE. Ela recebeu o órgão doado pelo pai em 2017 e, após um período de cinco anos, precisou fazer novamente o transplante. Desta vez, quem se ofereceu foi sua irmã, Frankilane, e a cirurgia foi feita em julho deste ano.
“Logo que soubemos que era preciso fazer o exame, a família toda fez o exame de compatibilidade e meu pai fez questão de dizer que a prioridade era para ele. A gente mora no interior e não tinha muita informação, mas a equipe esclareceu tudo e até hoje fazemos acompanhamento”, disse Daniela, que mora em Porto da Folha, no interior de Aracaju, e vai frequentemente a Recife para consultas e exames com a equipe do HC-UFPE.
“Receber o órgão de um parente é amor multiplicado. Da minha parte só tem esta gratidão imensa e sou muito grata a estes dois. A gente que recebe fica com medo de colocar o parente em risco, mas é tudo feito com muita segurança e é muito gratificante saber que a gente pode contar com a família”, diz Daniela.
Paciente diz que se sente em família entre profissionais do hospital
Se a família é aquela que não desiste de você, é o alicerce para o paciente sentir segurança e esperança para não desistir durante este processo, quem afirma que se sente em família quando entra no Hospital Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (Huap-UFF/Ebserh) é o aposentado Célio de Oliveira Menezes, que chegou a pensar em desistir e voltar para a máquina de hemodiálise após ter o rim rejeitado. Ele fez questão de contar sua história em vídeo registrado pelos profissionais do hospital.
“Eu tentava buscar forças, mas era só dor e lágrimas. Foi quando chegou o Dr. Genilson e me disse ‘você está pensando em desistir, mas eu não vou desistir de você’. Aquele médico que se sentou do meu lado, que nunca se ausentou e a equipe do Antônio Pedro, que me acompanhou eram como uma família. Eu nunca me senti desemparado aqui, é como se estivesse com minha família”, afirma Célio, que hoje está em recuperação.
O doutor Genilson desta história é o médico e professor da UFF José Genilson Ribeiro, que recebe o paciente até hoje e garante que esta força, esta sensação de se sentir amparado, foi fundamental no processo. “A gente fez o que pode, mas esta força interior veio dele. Contrariando todas as expectativas, acabou dando certo”, comemora.
Esta foi a quinta de cinco reportagens da série especial “Setembro Verde”. Quer conhecer outras histórias de doação de órgãos na Rede Ebserh? Clique nos links abaixo:
Doadores e receptores afirmam que ganharam nova família após transplante
Equipes especializadas da Ebserh atuam 24 horas para fazer captação de órgãos de forma humanizada
Sobre a Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por: Sinval Paulino, com apoio de Angélica Lúcio e Vanda Laurentino e edição de Danielle Campos.