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ENTREVISTA
Evento realizado pelo HUGV-UFam terá foco no bem-estar da população amazônica
A X Jornada de Saúde tem como foco a população amazônica.
Manaus (AM) – Refletindo sobre o contexto amazônico, com o olhar conduzido pelas áreas da assistência, da educação e dos estudos científicos, o Hospital Universitário Getúlio Vargas, da Universidade Federal do Amazonas (HUGV-Ufam/Ebserh), realizará a sua X Jornada de Saúde da Amazônia Ocidental. O evento será de 27 a 29 de setembro de 2023, na sede do hospital (Rua Tomas de Vila Nova, 300 Centro, Manaus). O tema deste ano é “Pesquisa, ensino, saúde e meio ambiente: um olhar voltado para a população amazônica”. As inscrições para envio de resumos estão abertas até esta sexta-feira, dia 15. A coordenadora do evento e chefe do Setor de Gestão da Pesquisa e da Inovação Tecnológica em Saúde do HUGV-Ufam, Maria Elizete Araújo (foto), explicou como será a condução da programação, as principais discussões e produtos dessa experiência. Confira a entrevista:
1. A X Jornada de Saúde da Amazônia Ocidental é um evento que discute a assistência, o ensino e a pesquisa diante do contexto amazônico. Poderia explicar quais as peculiaridades envolvidas neste contexto, em especial, sobre a população da região?
R - Nessa jornada, o nosso foco é trazer para o ambiente acadêmico temáticas, como, por exemplo, os desafios para realizar a pesquisa clínica nas populações amazônicas. Qual é a diferença da população amazônica para as demais? Aqui no Amazonas, nós sentimos que moramos em uma ilha. Existem desafios técnicos e populacionais, com expressiva distância entre os grandes centros produtores de pesquisa clínica e a nossa região. E Manaus precisa entrar nesse cenário.
O nosso acesso é basicamente fluvial ou aéreo para as cidades do interior, e o aéreo é escasso e muito caro. Não são todos que têm acesso. Então, isso complica o deslocamento dessa população aos serviços de saúde disponíveis nos maiores centros. Além disso, temos baixa densidade populacional em várias localidades, o que também dificulta ter profissionais ali e a expressiva distância entre as cidades do interior e a própria capital. Essas são as principais barreiras no acesso aos serviços de saúde, principalmente no que se refere à população indígena e à ribeirinha.
2. Quais os principais temas a serem discutidos na programação deste ano?
R- A nossa jornada é multidisciplinar, então fizemos uma temática com a maior abrangência possível para profissionais da área da saúde, incluindo também questões ambientais. Entre os cursos, que vão acontecer no primeiro dia da jornada, temos o de simulação realística e o que trata sobre as vias aéreas difíceis, abordando da teoria à prática para os acadêmicos residentes. Teremos também um curso sobre mentoria de startup na área da saúde, para que possamos incentivar os acadêmicos da área da saúde a trilhar esse caminho. Ofereceremos, ainda, um curso sobre a inteligência artificial na escrita científica, um assunto bem recente.
A programação traz uma mesa com pesquisadores com expertise em pesquisa clínica, que são pesquisas com seres humanos. Essas pesquisas são financiadas pelas indústrias farmacêuticas. Então, nós, fazendo parte da rede Ebserh, somos um dos hospitais que estão pleiteando um Centro de Pesquisa Clínica. Também teremos um painel de inteligência artificial em produtos e serviços de saúde com três debatedores: um com o olhar do pesquisador, outro com o olhar da indústria de tecnologia, e um com o olhar de quem financia os projetos, que, no nosso caso, é por meio da Superintendência da Zona Franca de Manaus.
Nós já temos quase 20 trabalhos inscritos e dividimos em três modalidades acadêmicas: o Concurso “Jovem Cientista”, para nossos alunos que concluíram, este ano, os seus projetos do Programa de Iniciação Científica da Ebserh (PIC) e do Programa de Apoio à Iniciação Científica (PAIC), de financiamento local. O “Prêmio Saúde em Ação”, para alunos que participam das ligas acadêmicas. E os resumos da própria jornada, que são as amostras dos resultados de pesquisa da comunidade acadêmica e científica do HUGV e da Ufam.
O site com a programação e editais pode ser conferido no link: https://tinyurl.com/y7uus9zj .
3. Como o Hospital Universitário Getúlio Vargas, instituição ligada ao SUS, ao ensino e organizadora deste evento, tem contribuído e ainda pode contribuir com perspectivas de melhoria do bem-estar da Amazônia e da sua população?
R- Nós somos o hospital de referência da região Norte. Então, por ser referência, é aqui onde estão disponíveis todas as especialidades de que a população precisa. A nossa telessaúde já está chegando a sete distritos especiais de saúde indígena no Amazonas. E tem um enfoque bem especial nos projetos de pré-natal de alto risco, da telepediatria, da pneumologia na prevenção de tuberculose, da telehanseníase, cardiologia, endócrino, enfim, são várias especialidades que estão fazendo o teleatendimento a essas populações que ficam em regiões mais remotas e mais carentes de assistência. O nosso coordenador da telessaúde, o médico Pedro Elias, está muito engajado, viajando para o interior para conhecer as comunidades e fazendo parcerias com as prefeituras. E, além disso, nós estamos nos preparando para a instalação do Centro de Pesquisa Clínica, que já é outra abordagem que também contribui muito com a população amazônica. Estamos lutando, cada dia mais, para que tenhamos mais serviços e melhor atendimento para nossa população.
4. Como você enxerga os avanços das discussões sobre a Amazônia nesta décima edição, especialmente voltada à perspectiva de oferta de saúde e pesquisa na região, na prática?
R- A jornada é um ambiente de oportunidade e de discussão acadêmica. Um evento esperado pelos nossos alunos, professores, servidores e pesquisadores a cada dois anos, desde 2022. Apenas no momento pandêmico a Jornada foi on-line. Cada ano tem um tema. Na última, por exemplo, o foco foi em Covid-19 e já tivemos momento que focamos nas inovações tecnológicas. Então, nesta edição, a gente tem esse diferencial de destacar os povos tradicionais, por isso estamos trazendo um painel para discutir a inclusão da população indígena na saúde e na sustentabilidade ambiental. E, assim, de forma mais efetiva, entrando na agenda e na Carta de Serviços do HUGV. Isso é um anseio do nosso superintendente, Juscimar Carneiro, incentivando todos nós a dar o melhor para a nossa população. Buscar atender mais nossos povos locais e os anseios deles. Por isso, nós trouxemos a Jornada, que é o nosso maior evento de discussão acadêmica, para voltar aos nossos povos indígenas e ribeirinhos esse olhar.
5. Haverá algum produto para publicação aberta ao público dos resultados das discussões feitas durante o evento?
Os anais da Jornada vão ser publicados na Revista do HUGV . Nós também iremos disponibilizar no site do HUGV.
Sobre a Rede Ebserh
O HUGV-UFAM faz parte da Rede Ebserh desde novembro de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Marília Rêgo, com revisão de Rosenato Barreto e Danielle Campos.
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh