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Estudo internacional com participação de hospital da Rede Ebserh/MEC em Uberaba (MG) aborda os efeitos das transfusões de sangue em pacientes infartados
Concentração de hemoglobina verificada em pacientes antes de receber a transfusão tem servido de parâmetro para a decisão médica de transfundir ou não em quadros de doença arterial coronariana, mas ainda sem consenso sobre a prática
Uberaba (MG) – O Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM), vinculado à Rede Ebserh/MEC, está participando de um ensaio clínico multicêntrico coordenado pela Universidade de Rutgers, localizada em Nova Jérsei, Estados Unidos. O objetivo do estudo, iniciado em 2021 e que já avança para a etapa final, é mensurar as vantagens e riscos envolvidos nas transfusões sanguíneas realizadas em pacientes que sofreram isquemia miocárdica (diminuição da passagem de sangue pelas artérias que levam ao coração).
Pesquisadora participante do estudo no HC-UFTM/Ebserh, a cardiologista Pâmela Ribeiro Assunção explica que a concentração de hemoglobina (substância proteica presente no interior das hemácias) verificada nos pacientes antes de receber a transfusão tem servido de parâmetro para a decisão médica de transfundir ou não em quadros de doença arterial coronariana, mas que não existe uma diretriz consensual sobre a prática, de modo a assegurar que as vantagens sejam superiores aos riscos.
O estudo está avaliando 3,5 mil pessoas, com a participação de 144 centros de pesquisa nos Estados Unidos, Canadá, França, Brasil, Nova Zelândia e Austrália. Os pesquisadores partem da hipótese de que em indivíduos anêmicos vitimados por infarto agudo do miocárdio a transfusão visando a maiores concentrações de hemoglobina seria positiva por aumentar a entrega de oxigênio às células, e que as vantagens, como a menor reincidência de infarto, compensariam o risco de aumento na viscosidade sanguínea e inflamação vascular.
“Os resultados podem levar a diretrizes de atuação nesse tipo de quadro, para auxiliar os médicos em uma questão que hoje acaba sendo decidida pelo próprio profissional conforme sua experiência. Isso pode vir a mudar a conduta clínica, representando inclusive ganhos em bem-estar para o paciente e redução da mortalidade”, Assunção detalha.
Também atua como investigador desse estudo, no HC, o cardiologista Fernando de Martino. A participação do hospital é intermediada pelo Centro de Pesquisas Clínicas (CPC) da instituição, vinculado à Gerência de Ensino e Pesquisa. Diretora científica do CPC, a médica Lívia Figueira Avezum Oliveira (à direita da foto, ao lado de Pâmela Ribeiro) informa que nesse início de 2023 o estudo já rendeu uma publicação no American Heart Journal , periódico especializado publicado há quase cem anos e que é referência em todo o mundo.
“Isso consolida o Hospital de Clínicas e a UFTM como ambientes relevantes para a pesquisa e confere à instituição visibilidade nacional e internacional, abrindo portas para novos estudos em diversas áreas”, Oliveira analisa, complementando que o HC-UFTM/Ebserh tem outros estudos multicêntricos em andamento, filiados a instituições como a Universidade McMaster, do Canadá, e o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo.
Ainda segundo Oliveira, o HC vai participar em 2023 de dois estudos em hematologia e outros três para avaliação da eficácia de um novo anticoagulante oral em pacientes com fibrilação atrial, doença arterial coronariana e acidente vascular cerebral. “Vamos recrutar participantes tanto do atendimento hospitalar quanto dos ambulatórios, envolvendo a especialidades de neurologia, cardiologia e hematologia”, adianta.
Os dados finais do estudo coordenado pela Universidade de Rutgers serão consolidados por um comitê de monitoramento, com foco nas taxas de mortalidade, reinfarto e indicadores de qualidade de vida dos participantes nos primeiros 30 dias e durante seis meses. O ensaio é custeado pelo Instituto Americano de Coração, Pulmão e Sangue, pela organização não governamental Canadian Blood Services , pela agência federal canadense Institutes of Health Research e pelo Instituto Canadense de Saúde Circulatória e Respiratória.
Com informações do HC-UFTM/Ebserh