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Pesquisa e saúde mental
Estudo do hospital da Rede Ebserh/MEC em Natal avalia efeitos antidepressivos de substâncias psicodélicas
Natal (RN) – O Laboratório de Neuroimagem do Hospital Universitário Onofre Lopes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e vinculado à Rede Ebserh/MEC (Huol-UFRN/Ebserh/MEC), é um dos seis integrantes do Núcleo Avançado de Pesquisa e Inovação Tecnológica em Saúde (NAPS). Desde 2009, a estrutura funciona na região.
Sob coordenação do professor Dráulio Barros de Araújo, o laboratório tem efetuado estudo que tem como propósito avaliar os efeitos antidepressivos de substâncias psicodélicas, e as bases fisiológicas desses efeitos. Atualmente, o laboratório atua em duas linhas de pesquisa e conta com equipe de quatro pesquisadores.
Uma das linhas de pesquisa do Laboratório de Neuroimagem tem como objetivo avaliar, de maneira não-invasiva, aspectos do funcionamento do cérebro. “Um dos processos fundamentais da neurociência é entender o funcionamento do cérebro ao desempenhar certas tarefas”, enfatiza Araújo.
Primeiros estudos
O primeiro objetivo da pesquisa do Laboratório de Neuroimagem foi identificar as bases neurais do efeito da ayahuasca, um chá feito da mistura de plantas amazônicas. Comumente utilizada em rituais religiosos, seu uso altera as funções cognitivas por ter alta concentração de dimetiltriptamina (DMT), uma triptamina (semelhante a serotonina e dopamina) que está presente no organismo humano e em outras plantas. A experiência inicial recrutou voluntários com pelo menos 15 anos de uso da substância. Vários deles relataram a reversão de quadros severos de dependência química, depressão e alcoolismo. Todos os participantes passaram por ressonância magnética, para comparativo dos estados com e sem efeito da planta.
A partir daí, uma segunda linha de pesquisa foi aberta, em 2008, com o objetivo de avaliar o benefício terapêutico da ayahuasca em uma patologia específica: a depressão. Agora, ao invés de voluntários experientes com o uso da substância, foram selecionadas pessoas com depressão resistente ao tratamento medicamentoso e que jamais haviam experimentado substâncias psicodélicas.
A depressão refratária ou resistente ao tratamento é caracterizada pela utilização de dois ou mais antidepressivos, em dose plena, sem melhoras. De acordo com o médico psiquiatra e coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria do Huol, Emerson Arcoverde Nunes, aproximadamente 1/3 dos pacientes sofrem com essa condição. “Essas pesquisas podem tornar-se alternativas viáveis do ponto de vista logístico para esses pacientes”, afirma o especialista.
O estudo relacionado com a depressão identificou melhora significativa com apenas um dia após a sessão com ayahuasca, além da manutenção dos benefícios ao longo dos 21 dias de acompanhamento do estudo. Para o professor Dráulio, “a melhora rápida dos pacientes é um dos aspectos mais relevantes da pesquisa, pois todas as medicações antidepressivas convencionais demoram na ordem de 15 dias para surtir efeito. Na Psiquiatria, é importante existir tratamentos de resposta rápida, diminuindo os riscos de suicídio dos pacientes”, explica o cientista.
Ampliação da pesquisa e uso de placebo
De janeiro de 2014 a junho de 2016, o grupo de pesquisadores realizou novo ensaio, ampliando quantitativo de voluntários e introduzindo o placebo na pesquisa. “Cada pessoa vinha ao Huol e ficava quatro dias, dormia duas noites, fazia uma bateria de exames e a intervenção com ayahuasca/placebo. Foram 85 semanas de coleta de enorme quantidade de dados”, explica o pesquisador.
O placebo criado reproduzia características e sintomas presentes na ayahuasca. “O placebo produz vários sintomas presentes na ayahuasca, como náusea e vômito. Reproduzimos a cor marrom do chá da ayahuasca e características do paladar e olfato, como azeda, amarga e com gosto de terra”, descreve Dráulio.
O ensaio encontrou dados que relacionam o quadro de depressão com um processo inflamatório. "O que percebemos é que boa parte dos pacientes apresentava marcadores de inflamação muito elevados, antes da intervenção com a ayahuasca. Assim, estabelecemos correlação entre os marcadores anti-inflamatórios e os sintomas de depressão. Ou seja, os pacientes que mais reduziram os marcadores de inflamação, foram os que mais melhoraram”, aponta.
O médico psiquiatra do Huol destaca que este estudo obteve bons resultados com os pacientes em tratamento contra depressão, que seguem em acompanhamento pelo Huol. “Tivemos casos com mais de seis meses de efeito, com pacientes que seguiam bem, incluindo praticamente inexistir efeitos colaterais. No acompanhamento dos pacientes, percebemos a persistência da melhora, com boas evoluções na maioria dos casos”, avalia Emerson Arcoverde.
Importância da pesquisa e impacto na assistência
O Huol-UFRN/Ebserh oferece aos pacientes com depressão diferentes possibilidades de tratamento, tanto convencional quanto alternativas experimentais. “É importante contar com outras opções de tratamento. Ao mesmo tempo que contribuímos para o conhecimento e evolução das pesquisas, nossos pacientes são beneficiados com novas opções de cuidado”, analisa Arcoverde.
Para Dráulio, “o hospital já ocupa espaço de vanguarda, que nos torna referência internacional em protocolos experimentais para tratamento da depressão. O Huol tem condição de oferecer aos pacientes do tratamento tradicional ao que há de mais vanguarda”.
Para a Unidade de Atenção Psicossocial do hospital, esta pesquisa foi um marco para evolução do serviço em Psiquiatria. “Quando os estudos iniciaram, ainda não tínhamos um ambulatório específico para tratamento da depressão. Assim, o Ambulatório de Depressão do hospital veio da necessidade dos estudos”, explica o médico psiquiatra Emerson Arcoverde.
De acordo com o coordenador do Laboratório de Neuroimagem, a criação do Ambulatório é comprovação do impacto da pesquisa no hospital, “pois a pesquisa contribui diretamente para extensão e assistência", destaca professor Dráulio.
Sobre a Rede Ebserh
Desde 2013, o Huol-UFRN faz parte da Rede Ebserh. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Essas unidades hospitalares, que pertencem a universidades federais, têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.
Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde das regiões em que os hospitais estão inseridos, mas se destacam pela excelência e vocação nos procedimentos de média e alta complexidades.
Com informações do Huol-UFRN/Ebserh/MEC