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SAÚDE MENTAL
Especialistas da rede Ebserh ressaltam importância da informação no Dia Mundial do Transtorno Bipolar
Hospitais da rede Ebserh apostam na difusão da informação para combater o preconceito e estimular o tratamento
Brasília (DF) - Van Gogh é um nome conhecido no mundo inteiro e seus trabalhos são identificados até por quem não se interessa por arte, mas o que pouca gente sabe é que ele foi identificado após sua morte, hipoteticamente, como portador de transtorno bipolar, uma patologia psiquiátrica crônica que pode prejudicar a vida social e familiar do indivíduo ou mesmo levar ao suicídio se não for tratada adequadamente. Por isso, 30 de março, data de nascimento de Van Gogh, é o Dia Mundial do Transtorno Bipolar, criado para difundir a informação, combater o preconceito e estimular o tratamento das pessoas diagnosticadas por especialistas. Veja o que profissionais dos hospitais ligados à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) orientam sobre o assunto.
A psiquiatra do Hospital Universitário de Santa Maria da Universidade Federal de Santa Maria (HUSM-UFSM/Ebserh), Martha Helena Oliveira Noal, explicou que o diagnóstico é feito a partir da anamnese, que consiste na coleta de uma série de informações sobre o paciente. “Não existe exame. É um diagnóstico essencialmente clínico”, disse Martha Noal, que coordena o programa de extensão Espaço Nise da Silveira & Associação de Familiares, Amigos e Bipolares (AFAB) desde 1997.
Segundo ela, as pessoas podem identificar sinais de transtorno bipolar em parentes observando casos de mudanças recorrentes de humor e com base no histórico familiar. “Pessoas que têm histórico familiar de transtorno bipolar não devem hesitar em procurar ajuda, pois tratamentos precoces têm prognósticos muito bons. Os tratamentos postergados acabam tendo resultados bem inferiores e isso faz toda a diferença na qualidade de vida da pessoa”, ressaltou.
A médica Lenita Pereira Ferraz, psiquiatra da Unidade de Saúde Mental do Hospital Universitário da Universidade Federal de São Carlos (HU-UFSCar), explicou que a bipolaridade é um transtorno psiquiátrico que é caracterizado por mudança de humor, com episódios extremos de depressão e episódios com aumento da energia e euforia (a chamada mania), sendo a doença classificada em dois tipos, conforme a manifestação destes sintomas. “Independentemente do tipo, é uma condição séria que exige tratamento medicamentoso para que o paciente tenha estabilização de humor para ter uma qualidade de vida adequada”, explicou.
Os especialistas explicam que o transtorno bipolar tem causas multifatoriais, como todos os transtornos mentais, mas sabe-se que está ligado a fatores genéticos e ambientais, como casos de maus tratos na infância, traumas, uso de álcool precocemente, entre outros, que desencadeiam o transtorno. Os sintomas também são heterogêneos, mas em geral há alternância de episódios recorrentes de depressão e excitação (hipomania), associados com outros sintomas e comportamentos, dependendo de cada fase da doença. O diagnóstico depende, portanto, da avaliação do especialista diante de todos estes fatores.
“É importante observar que o transtorno bipolar tem episódios, não é mudança de humor no mesmo dia. Quando
vemos uma alternância de humor que traz prejuízo ou sofrimento para a pessoa e comportamentos eufóricos associados a atitudes de risco, gastos em excesso, relação com parceiros múltiplos, por exemplo. É diferente do comportamento padrão basal daquela pessoa”, disse a professora Luisa Bisol, coordenadora do Grupo de Estudos de Transtornos Afetivos do Hospital Walter Cantídio, do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC/Ebserh).A chefe do Ambulatório de Transtornos de Humor e Ansiedade (Cetha) do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes-UFBA/Ebserh), Angela Scippa, disse que, dentro da Psiquiatria, a doença que está mais associada ao comportamento suicida é o transtorno bipolar. Pessoas com transtorno bipolar também podem desenvolver outras doenças.
“O transtorno bipolar não tem cura, tende a ser recorrente, mas, se for tratado de forma adequada, pode ficar latente por muito tempo ou até a vida toda do indivíduo, sem períodos agudos e com boa qualidade de vida”, acrescentou Angela Scippa, que é preceptora de residência médica do hospital. Segundo ela, o tratamento é feito com medicações específicas para cada fase e tipo da doença e acompanhamento psicoterapêutico, sendo que o apoio social e familiar é fundamental.
“Quem tem suporte social também tem um prognóstico melhor já que a família consegue estimular o paciente a tomar medicação, voltar a fazer atividade física, voltar a ter um estilo de vida similar ao que tinha antes do adoecimento”, acrescentou o psiquiatra e coordenador do ambulatório de transtorno bipolar e depressão resistente ao tratamento do Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba (HULW/UFPB/Ebserh), Mário Vasconcelos, que apontou alguns sintomas do transtorno bipolar em cada fase (ver quadro).
“É uma doença crônica, ainda não há tratamentos curativos; os tratamentos todos são voltados para estabilização do quadro e o prognóstico irá depender de vários fatores, como a gravidade da doença, comorbidades clínicas e psiquiátricas, recorrência das crises, adesão ao tratamento, entre outros”, disse. Segundo ele, a maioria dos pacientes irá ter complicações cardiovasculares no futuro se não tiver uma visão ampliada do transtorno, com diabetes, hipertensão, obesidade, apneia obstrutiva do sono, IAM, AVC. “Por isso, além de cuidar da estabilização do transtorno, é fundamental hábitos de vida saudáveis e dormir a quantidade de horas suficiente”, recomendou o médico.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação: Sinval Paulino com revisão de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh