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DEZEMBRO LARANJA
Emergência climática exige cuidados redobrados contra o câncer de pele
Doença é causada, sobretudo, pela exposição excessiva e sem proteção ao sol. Imagem ilustrativa.
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Diagnóstico precoce evita complicações
Câncer mais comum entre os brasileiros
Brasília (DF) – Os efeitos da emergência climática no Brasil e no mundo podem intensificar fenômenos como ondas de calor e prolongar períodos ensolarados, ampliando o tempo de exposição ao sol. Quais seriam as consequências dessas mudanças para a saúde da nossa pele? Por ocasião do Dezembro Laranja, campanha promovida pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, especialistas da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) promovem a boa informação, a prevenção e o combate ao câncer de pele.
Cuidados na exposição ao sol
Nos últimos 60 anos, algumas regiões do país registraram um aumento de até 3°C nas temperaturas máximas diárias, superando a média global. Além disso, o número de dias por ano com ondas de calor passou de sete para 52 nas últimas três décadas, conforme aponta o relatório “Mudança do Clima no Brasil”, lançado no mês passado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e pelas organizações sociais Rede Clima, WWF-Brasil e Instituto Alana.
O aumento das temperaturas, aliado à intensificação da poluição em áreas mais quentes e urbanizadas, tem tornado a exposição aos raios ultravioleta (UV), principais responsáveis pelos casos de câncer de pele, mais frequente e constante ao longo do ano. Paralelamente, a degradação da camada de ozônio, que atua como barreira protetora contra a radiação, agrava ainda mais o cenário.
“Embora não causem diretamente o aumento da intensidade dos raios UV, as mudanças climáticas podem contribuir para uma maior exposição a eles. E é preciso ter consciência de que os raios UV não desaparecem no inverno, por exemplo. Eles estão presentes durante todo o ano, e os danos que causam ao corpo humano podem ser irreparáveis”, ressalta a dermatologista Fabiane Brenner, do Complexo do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (CHC-UFPR).
A prevenção vai muito além da aplicação e reaplicação do protetor solar. Para a médica, a campanha "Dezembro Laranja" é um importante alerta à população sobre a necessidade de prevenir e detectar o câncer de pele de forma precoce. “É fundamental evitar a exposição solar nos horários de pico, entre 09h e 16h, e usar roupas e acessórios adequados, como chapéu, boné, óculos, roupas com proteção ultravioleta, guarda-sol e sombrinhas”, lista Brenner.
Diagnóstico precoce evita complicações
Há 17 anos, uma pequena lesão perto dos lábios da dona de casa Rosângela Matos, de Campo Grande (MS), mudou completamente a vida dela. No começo, parecia um cravo, daqueles que surgem de vez em quando e que qualquer pessoa, em um impulso, tenta espremê-los. Mas, quanto mais ela mexia, mais a ferida crescia. "Eu cutuquei várias vezes e passei pomadas caseiras para sarar. Achava que era algo simples, mas não desaparecia, até que resolvi procurar um médico", relembra. O diagnóstico foi um choque: câncer de pele.
A descoberta estremeceu as bases da paciente do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap-UFMS/Ebserh). “Aquela ferida parecia tão inofensiva”, conta. Ela ficou curada após 23 longas sessões de radioterapia. Mas, nos últimos 18 meses, o medo voltou a rondá-la: a paciente descobriu três novas lesões da doença, em locais e com características diferentes.
Descendente de poloneses, Rosângela acredita que a pele muito clara é a causa do surgimento da doença, além de descuidos no retoque do filtro solar em dias de pescaria, um hobby antigo da idosa de 63 anos. Por conta disso, ela se tornou uma defensora da prevenção. "A experiência me ensinou que a proteção solar é fundamental e que não podemos esperar para agir quando o problema já está instalado", destaca. “Fico em cima de todo mundo, cobrando o uso de protetor solar, chapéus, roupas UV. Falo sempre: não saiam de casa sem proteção”, complementa.
Câncer mais comum entre os brasileiros
Dados do Ministério da Saúde (MS) apontam que o câncer de pele é o tipo mais comum da doença no Brasil e corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no país. A doença, causada principalmente pela exposição excessiva ao sol, ocorre quando as células se multiplicam sem controle. É mais comum em pessoas com mais de 40 anos e é considerada rara em crianças e pessoas negras.
Os sintomas incluem o surgimento de manchas que coçam, descamam ou sangram; pintas que mudam de tamanho, forma ou cor; ou feridas que não cicatrizam em até quatro semanas. “A incidência do câncer de pele é, sobretudo, em áreas do corpo que são mais expostas ao sol, como rosto, pescoço e orelhas. Qualquer indivíduo pode desenvolver a doença, mas pessoas com pele muito clara, albinas, com vitiligo ou em tratamento com imunossupressores são mais sensíveis aos raios UV”, explica o dermatologista Itamar Santos, docente e preceptor do Colegiado de Medicina da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), colaborador do hospital universitário da instituição.
Os dois principais tipos de câncer de pele são o melanoma e o não melanoma. O primeiro, embora represente apenas uma pequena parcela dos casos, é o mais agressivo e pode se espalhar rapidamente para outros órgãos. Esse tipo de câncer surge geralmente como manchas ou pintas, especialmente em áreas expostas ao sol, e é o que mais causa mortes entre os casos de câncer de pele. Em 2020, foram estimados 8.450 novos casos de melanoma no Brasil, com 1.978 óbitos registrados, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). A boa notícia é que, quando diagnosticado precocemente, o melanoma tem boas chances de cura, especialmente com os avanços no tratamento, como a imunoterapia.
Já o câncer de pele não melanoma é mais frequente e tem uma taxa de cura elevada quando tratado a tempo. Entre os tipos mais comuns estão o carcinoma basocelular, que se caracteriza por uma lesão de crescimento lento e raramente se espalha; e o carcinoma espinocelular, que, embora também surja de lesões cutâneas, pode apresentar maior risco de metástase se não for tratado adequadamente. Em 2020, o Brasil estimou 176.930 novos casos de câncer de pele não melanoma, com 2.616 mortes registradas no ano anterior, ainda segundo o Inca.
No próximo dia 07, vários hospitais da Ebserh vão aderir ao mutirão do Dezembro Laranja, como parte da inciativa “Ebserh em Ação”. Todos os tipos de cânceres de pele são tratados, de forma integral e gratuita, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Por isso, ao detectar qualquer sintoma da doença, é fundamental procurar logo uma unidade de saúde para fazer a investigação e, se for o caso, iniciar o tratamento, que pode incluir cirurgia, quimioterapia e/ou radioterapia. Quanto mais cedo for a detecção, maiores são as chances de cura.
Mitos e verdades
Apesar de a conscientização sobre a importância da prevenção ao câncer de pele ter avançado nos últimos anos, ainda há muitas dúvidas em relação ao uso de protetores solares e os cuidados que devemos adotar na exposição ao sol. Por conta disso, a dermatologista Heloide Marcelino, do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS/Ebserh), esclareceu os mitos mais comuns sobre o tema. Acompanhe a seguir!
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por George Miranda, com edição de Danielle Campos.
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh