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SAÚDE E BEM-ESTAR
Doenças autoimunes: quando o inimigo é seu próprio organismo
Estresse emocional pode desencadear uma crise, piorar ou atrasar o tratamento
Brasília – Começou no couro cabeludo e parecia caspa. Depois atingiu as pernas e começou a formar lesões. Por conta da vergonha, veio o isolamento. Esse foi o começo de uma árdua batalha travada pelo bancário Edgar Teixeira Dias, de 52 anos, que, há dez, luta contra a psoríase, uma doença autoimune que afeta principalmente a pele.
“As lesões dão um aspecto que você não cuida da higiene. E então começa a não usar mais bermudas, já não vai ao clube, com vergonha”, conta o bancário.
A psoríase é apenas uma das várias doenças autoimunes, que “são aquelas em que o sistema imunológico se volta contra o organismo e começa a agredi-lo”, explica o reumatologista Cleandro Pires, do Hospital Universitário de Brasília (HUB), administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
Segundo o médico, existem doenças autoimunes em praticamente todas as áreas da medicina. Além da psoríase, as mais comuns são o lúpus eritematoso sistêmico e a artrite reumatoide. São exemplos ainda o vitiligo, diabetes do tipo 1, esclerose múltipla, doença de Graves, hepatite autoimune, doença de Chron, tireoide de Hashimoto, doença celíaca, anemia perniciosa, entre outras.
O reumatologista explica que, apesar de terem características comuns, os tratamentos variam a depender do órgão ou tecido afetado pela enfermidade. Entretanto, de maneira geral, a semelhança terapêutica é a necessidade de algum grau de imunossupressão, isto é, quando o sistema imunológico é “enfraquecido” para que se diminua os danos ao organismo.
Edgar demorou a ser diagnosticado com psoríase. Iniciou tratamentos esporádicos, mas sem efeitos satisfatórios. Com isso, a doença foi se agravando. Há dois anos procurou o HUB, por indicação de um amigo médico. O hospital é referência no tratamento de psoríase. “Estou muito melhor, embora ainda tenha manifestação. Mas, desde que comecei o tratamento, a doença estabilizou e agora começou a reduzir”, comemora.
Segundo a coordenadora do ambulatório de Psoríase do HUB, a dermatologista Gladys Aires Martins, para os casos leves são recomendado medicamentos com aplicação no local da lesão. Nos casos moderados e graves, o tratamento inclui remédios via oral e injetáveis, fototerapia e até a utilização de imunobiológicos.
“Manter a pele hidratada com cremes, óleos, loções, tratam sintomaticamente. Diminuem a descamação, se combinado a uma terapia sistêmica. Oitenta por cento melhoram com o sol, com estilo de vida menos estressante e exercícios”, adverte a dermatologista.
Outros fatores podem ajudar na reversão do quadro. “Na maioria dos tratamentos, a adoção de hábitos saudáveis ajuda, como a alimentação balanceada e a prática de atividades físicas. Sempre de acordo com a avaliação médica”. A dermatologista também recomenda um estilo de vida menos estressante, evitar a ingestão de bebidas alcoólicas e cigarros. “Beber e fumar são realmente fatores agravantes”.
Mente sã, corpo são
Com as complicações decorrentes das doenças autoimunes, é comum encontrar pacientes ansiosos, tristes ou mesmo deprimidos. Segundo a dermatologista do HUB, muitos pacientes precisam de acompanhamento psicológico. “Estresse emocional pode desencadear uma crise, piorar ou atrasar o tratamento”, alerta Gladys.
A dermatologista conta que muitos pacientes chegam ao ambulatório de psoríase do HUB desestimulados. Então, o componente emocional é tratado, assim como os sintomas físicos. “Distribuímos cartilhas com informações, mostramos que existe tratamento e aplicamos testes para saber o impacto da doença na qualidade de vida do paciente. Temos ainda a ajuda de assistentes sociais, pois há um componente social enorme”, esclarece a médica.
O sofrimento causado com a psoríase sensibilizou Edgar, que hoje é voluntário na Associação Brasiliense de Psoríase (Abrapse). Desde março deste ano, ele realiza oficinas de qualidade de vida no HUB, com a participação de até 22 pacientes, para esclarecer sobre a doença, informar sobre pesquisas, alertar sobre a importância em promover o bem-estar social e a solidariedade, além de abordar temas difíceis como o preconceito.
“A partir do diálogo, vamos construindo coletivamente conceitos. A participação dos pacientes é grande, onde eles se apropriam de informação e conhecimento”, conta.
Coordenadoria de Comunicação Social da Ebserh