Relatos e Historias
SUPERAÇÃO INFINITA
Do Hospital da Ebserh em Lagarto (SE) às Paralimpíadas: O Sonho de Ulisses Freitas
Lagarto (SE) – Entre pedais e estetoscópios, Ulisses Freitas é um exemplo de superação e resiliência. Aos 44 anos, o estudante de Medicina do Hospital Universitário de Lagarto (HUL-UFS/Ebserh) e paraciclista sergipano fez história ao disputar suas primeiras Paralimpíadas em Paris, em 2024. Competindo ao lado dos melhores do mundo, Ulisses mostrou que, com disciplina, sonhos podem se tornar realidade, seja nas pistas de ciclismo ou nos corredores da universidade.
Nascido em Lagarto, Sergipe, Ulisses viveu praticamente toda a sua vida em Paripiranga, na Bahia. Todos os dias, ele enfrenta uma rotina exigente: acorda às 4 da manhã para percorrer, de carro, 40 km até Lagarto ou 120 km até Aracaju, onde estuda, treina e trabalha. Seus dias costumam terminar por volta das 23h, e mesmo aos finais de semana, ele mantém o ritmo intenso de treinos. Para alcançar seus resultados, Ulisses renunciou a muitas coisas, como o convívio social com amigos e familiares.
Ulisses Freitas nunca foi de se contentar com o básico. Desde pequeno, ele aprendeu que o caminho para o sucesso era pavimentado pelos estudos e pela determinação. O mais velho de seis irmãos, encontrou no esporte sua paixão ainda jovem, praticando capoeira e futebol. Mas foi após um acidente de moto em 2008, causado por um motorista embriagado, que sua vida mudou drasticamente. Ele e seu irmão foram derrubados; enquanto Ulisses ficou paraplégico, seu irmão infelizmente faleceu.
Nos dois anos que se seguiram, Ulisses conviveu com uma profunda depressão e engordou mais de 50 quilos. "Tudo que faço, uma boa porcentagem é por ele. Decidi viver duas vidas. A minha e a dele", revela. Essa mudança de perspectiva foi crucial para ele, que encontrou no paraciclismo uma maneira de transformar sua dor em força e resiliência.
"Eu sempre fui um sonhador, acreditava em super-heróis e, para mim, os atletas eram esses super-heróis. Depois da lesão, comecei no basquete em cadeira de rodas, mas queria algo que dependesse só de mim. Quando conheci o paraciclismo, soube que era possível sonhar mais alto", relembra Ulisses.
O caminho até Paris foi longo e cheio de desafios. Para Ulisses, o esporte nunca foi apenas uma forma de competir, mas de transformar sua realidade e inspirar outros. "Saí do interior da Bahia para disputar competições em São Paulo, sempre com a meta de não ficar em último", fala. Com o tempo, as competições foram ficando maiores, e os sonhos, mais próximos. Em 2015, veio a primeira convocação para a seleção brasileira de paraciclismo, e o que antes era um sonho, agora era realidade.
Em 2024, o atleta representou o Brasil em três provas nas Paralimpíadas de Paris. No revezamento, junto com Jade Malavazi e Mariana Garcia, ficou na quarta posição, enquanto na prova de resistência terminou em 7º lugar. Já no contrarrelógio da classe H4, terminou em 11º lugar. "Estou muito feliz por estar aqui, mas não trouxe a medalha. Isso ainda dói, mas vou transformar essa dor em motivação para os próximos desafios", afirma o paraciclista.
Apesar de não ter conquistado uma medalha, Ulisses reflete sobre o que essa experiência representou: "As Paralimpíadas são o auge para qualquer atleta. A ficha só caiu no final, e a maior lição que tirei foi que precisamos buscar o 'algo a mais'. O básico não é suficiente. Sei que é possível competir com os melhores do mundo, mas precisamos acreditar primeiro", conta.
Apesar de não ter conquistado uma medalha, Ulisses reflete sobre o que essa experiência representou: "As Paralimpíadas são o auge para qualquer atleta. A ficha só caiu no final, e a maior lição que tirei foi que precisamos buscar o 'algo a mais'. O básico não é suficiente. Sei que é possível competir com os melhores do mundo, mas precisamos acreditar primeiro", conta.
Entre a Medicina e o esporte: lições cruzadas
Ulisses não apenas demonstra sua força física e mental como atleta, mas também carrega importantes lições da Medicina para o esporte — e vice-versa. “Como atleta, levo para a Medicina a importância da disciplina, de estudar sempre, assim como me preparo para os treinos com alimentação adequada e suplementação. Já da Medicina para o esporte, aprendi que o remédio do futuro é a atividade física e uma boa alimentação", afirma. Ele, que está no último ano de graduação, se interessa pela Medicina do Esporte, mas também é atraído pela atenção primária e o trabalho em ambulatórios, áreas em que pretende atuar no futuro. Para o atleta, o cuidado com o corpo e a mente é essencial, algo que ele procura aplicar nos estudos e que acredita ser um caminho para a prevenção de muitas doenças.
No entanto, o estudante destaca as diferenças essenciais entre as duas áreas. “Na competição, me entrego completamente, corro no limite, e os acidentes fazem parte. Mas na medicina, não posso correr riscos. Ali, a prudência e a responsabilidade são essenciais, porque lidamos com o bem maior, que é a vida”, reflete.
Enquanto segue em frente na busca de uma medalha internacional, Ulisses mantém os pés firmes na realidade. Ele sabe que conciliar a vida de atleta com os estudos de Medicina no HUL-UFS, sob a gestão da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares(Ebserh), não seria possível sem o apoio de sua universidade e do hospital. "A UFS e o HUL sempre me apoiaram. Esse suporte é essencial para seguir em frente", destaca.
O Sistema Único de Saúde (SUS) também tem papel fundamental em sua trajetória. "O SUS é um dos melhores programas públicos de saúde do mundo, com atendimento de qualidade para todos, independente da classe social", defende Ulisses. Ele destaca o valor de estar inserido nesse sistema e o aprendizado diário em um hospital universitário como uma oportunidade imensa. "O HUL-UFS é uma referência em formação. Estou aprendendo muito aqui, temos ótimos preceptores, e estou aproveitando cada momento e cada módulo", comenta.
Agora, com o Mundial de Paraciclismo de Estrada em Zurique se aproximando, Ulisses já tem data marcada: a competição será realizada a partir do dia 21 de setembro. "A meta agora é conquistar uma medalha internacional e, depois, sonhar com a paralímpica", projeta o paraciclista, já de olho em seu próximo desafio.
E, apesar da busca incessante pela superação, para Ulisses, os títulos não são tudo. Ele acredita que o verdadeiro valor está em algo maior: a contribuição que o esporte pode trazer para a sociedade. “É de extrema importância que incentivemos a prática de atividades físicas, especialmente num tempo em que tantos jovens estão se envolvendo com drogas, bebidas alcoólicas e enfrentando problemas psicológicos. O esporte é um passo para um mundo melhor”, conclui.
Sobre a Ebserh
O HUL-UFS faz parte da Rede Ebserh desde 2017. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação: Felipe Monteiro
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh