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Equidade
Dia Internacional contra a Discriminação Racial é momento de reflexão e luta
No mundo inteiro, esse é um assunto em voga, em que o combate contra o preconceito é uma verdadeira luta do dia a dia
Brasília (DF) – Combate ao preconceito. Garantia de direitos. Busca pela equidade! Esses temas têm sido destaque no mundo inteiro tornando o combate à discriminação racial mais do que uma bandeira, e sim uma verdadeira luta do dia a dia, sendo a data 21 de março estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional contra a Discriminação Racial. A reflexão contra a discriminação racial destaca ainda a contribuição inquestionável da pluralidade étnico-racial do país para o crescimento e maturidade da sociedade e das organizações.
Na Rede Ebserh, estatal vinculada ao Ministério da Educação (MEC) que administra 41 hospitais universitários federais em todo o país, os quadros de lideranças contam, cada vez mais, com pessoas negras na gestão.
É o caso de Dulciene Cristina da Silva ( foto à direita ), chefe do setor de Administração do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG/Ebserh). Metade dos seus 56 anos foram vividos na gestão administrativa do hospital. Diz sentir-se feliz e reconhecida e que não percebe preconceito no trabalho por ser negra. Mas nem sempre foi assim. Quando recém-formada em Engenharia Civil, foi contratada por uma construtora para ser chefe de compras e enfrentou problemas com um subordinado que não reconhecia sua autoridade.“O órgão público, por sua vez, favorece muito o acesso e a aceitação de todos. Você faz o concurso e ponto final. Não tem como lhe excluírem por ser negra”, disse, reforçando também a importância da lei das cotas, sancionada pela Presidência da República em 2012. “Nunca havia visto tantos estudantes negros e pobres estudando com brancos e ricos na Faculdade de Medicina da UFMG”, comemorou.
Ela destaca que para a pessoa negra garantir seu espaço não é fácil. “Minha trajetória é muito feliz, mas vejo muita gente que sofre no seu dia a dia. Ainda ensino ao meu filho adolescente que ele não pode correr na rua e não gosto que use boné estando desacompanhado, pois seria o primeiro a ser parado pela polícia. Essas são barreiras que ainda temos que enfrentar”, desabafa.
Políticas públicas como a lei das cotas buscam diminuir a exclusão social de pessoas negras, com deficiência e indígenas, e têm ampliado o acesso e a inclusão a serviços públicos. No Complexo Hospitalar da UFC/Ebserh, no Ceará, o médico anestesiologista Mário Santos ( foto à esquerda ) atua com excelência no centro cirúrgico da Maternidade. Aos 33 anos, foi entre uma cirurgia e outra que nos contou que a realização no trabalho é a melhor parte da sua história, a consagração de anos de estudos que começaram em escolas particulares de alto padrão, onde era bolsista como aluno de olimpíadas de matemática.“Na minha sala, eu era o único negro. Sofri um pouco de bullying dos colegas”. Ele diz que hoje, entre as pessoas que sabem da sua posição e condição social, sente pouca discriminação, mas acaba percebendo “olhares que indagam” e questionamentos de como chegou onde está, um estranhamento que também é racismo. “Essa data é uma tentativa de rememorar tudo o que muitas vezes para nós é difícil de lembrar. A população acaba tendo empatia com grandes tragédias internacionais, como guerras e nazismo, mas esquece de 400 anos de escravidão, em que ocorreram grandes atrocidades contra os negros”, afirma.
Ações afirmativas também fazem parte do escopo da Rede Ebserh no combate ao preconceito. O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE/Ebserh), localizado no Recife, produziu uma cartilha que explica diversas expressões da língua portuguesa utilizadas rotineiramente pela maior parte das pessoas e que trazem uma origem marcada por discriminação. No conteúdo do material ( clique na imagem do lado direito ou no link acima ), são citadas palavras e expressões como “esclarecer”, “denegrir”, “humor negro” e outras tantas que podem causar impacto negativo e que a maioria da população não se dá conta por desconhecimento. Daí a importância de se discutir um tema tão delicado, ao mesmo tempo tão fundamental para a construção de uma sociedade melhor.
Povos indígenas e religiosidade
Mostrando a importância da diversidade e o papel da Rede Ebserh/MEC no atendimento a povos originários, residentes, preceptores e coordenadores do Programa de Residência do Hospital Universitário da Grande Dourados (HU-UFGD), filiado à Rede Ebserh, realizou o acolhimento de residentes na escola Tekora, localizada em território da aldeia Jaguapiru no município de Dourados (MS), uma vez que a unidade hospitalar conta com um Núcleo de Saúde Indígena e ainda tem uma resolução interna voltada à humanização e inclusão, em que autoriza a pacientes indígenas terem acompanhantes por eles indicados em tempo integral. Daí a importância desse primeiro contato com o público que será atendido por esses residentes, além do campo de prático específico em Saúde Indígena a ser desenvolvido durante a residência.
Maricleia Gomes ( foto à esquerda ) deu à luz um bebê que hoje tem dois meses de vida. Moradora do Boqueirão, aldeia localizada em Dourados, ela é da etnia Kaiowá e utiliza os serviços especializadas em saúde indígena do HU-UFGD/Ebserh, onde teve seu parto e para o qual retornou após um mês, devido a uma cardiopatia de seu filho. Há um mês internada com a criança, ela se diz bem acolhida. “Aqui são todos bons, nunca fui discriminada. Indicaria o hospital. Foi bom voltar para cá, porque foi aqui que meu filho nasceu. Então eles já conhecem o caso dele”, conta.Neste ano, a reflexão de 21 de março ganha um reforço, com a instituição do Dia Nacional das Tradições de Raízes Africanas e Nações do Candomblé, instituída pela Lei 14.519/2023, sancionada pelo presidente Lula em 5 de janeiro. A data reconhece a importância da identidade cultural e religiosa na formação da nação brasileira. Atualmente, o país conta com cerca de 3 milhões de praticantes do Candomblé, com maior concentração nos estados da Bahia e Pernambuco.
O respeito ao ser humano e às tradições culturais de cada etnia devem ser sempre um dever de todos. Duilciene, lá do começo da reportagem, completa que é necessário seguir buscando o protagonismo, incentivando as políticas de reparação que existem hoje e pressionando por mais. “Cada oportunidade vai nos permitindo avançar e alcançar nosso espaço”, conclui.
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh/MEC