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SETEMBRO AMARELO
Depressão é uma das principais causas de suicídio, aponta entidade internacional
Quebrar as barreiras que impedem de falar abertamente sobre o tema é um passo importante para a prevenção do suicídio
Brasília (DF) – Tristeza profunda, falta de apetite, desânimo, pessimismo e baixa autoestima são sintomas que devem ser observados com cuidado, pois podem indicar um quadro de depressão, doença atualmente considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o Mal do Século. Ainda de acordo com a entidade, essa é uma das principais causas de suicídio, ato combatido durante todos os anos, mas cuja intensificação se percebe com a campanha Setembro Amarelo, uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV) que busca discutir a temática.
Conhecido como o mês mundial de prevenção ao suicídio, setembro é marcado por campanhas e mobilizações que têm como objetivo conscientizar a população a respeito do tema. A Rede Ebserh atua o ano todo na assistência e em estudos sobre o caso, mas intensifica ainda mais suas ações nesse mês para combater esse mal que tira a vida de aproximadamente 800 mil pessoas todos os anos, segundo dados da OMS, sendo a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. A entidade também aponta que a depressão é o principal motivo de incapacidade de realização das tarefas cotidianas entre jovens de 10 a 19 anos.
Nas crianças, a falta de prazer em atividades habituais pode ascender o sinal de alerta, enquanto nos adolescentes a automutilação e o isolamento podem indicar traços de depressão. E é exatamente nesta faixa etária que a depressão tem se alastrado, colocando em xeque o papel de pais e professores na ajuda do diagnóstico.
A médica Aline Sampaio, psiquiatra do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes-UFBA), vinculado à Rede Ebserh, alerta que as crianças e adolescentes nem sempre dão sinais tão característicos da doença. “É mais comum que eles apresentem irritabilidade, agitação, explosões de raiva e agressividade, tristeza, sensação de culpa e de melancolia. O que nós aconselhamos é tentar entender o contexto do filho, principalmente, observar a duração desses sentimentos (mais de um mês já é preocupante), a intensidade e de que maneira eles estão afetando a vida”, descreve.
Causas e riscos
As causas para a doença são múltiplas, como explica o médico psiquiatra Antônio Aragão, do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS), também vinculado à Rede Ebserh. “Não existe uma causa única. O que a gente percebe é que é mais difícil apresentar depressão se a pessoa tem uma qualidade de vida melhor, tem resiliência para enfrentar certas situações, está bem na questão clínica, faz atividade física, se alimenta de um jeito saudável, não faz uso de drogas, dorme bem e tem atividades de lazer”, pontua Aragão.
Quebrar as barreiras que impedem de falar abertamente sobre o tema é um passo importante para a prevenção do suicídio. Mas, além disso, também é necessário saber reconhecer os sinais de alerta em si ou em pessoas ao redor. A OMS aponta que nove em cada dez mortes por suicídio podem ser evitadas, e buscar esclarecimentos sobre a questão é uma das formas de combater os preconceitos que podem impedir a pessoa de procurar ajuda. “É fundamental falar sobre suicídio. Não tenha receio de perguntar a seu colega de trabalho, a seu familiar se ele está bem, se quer ajuda, se tem pensado em morte, se anda triste. Chame a pessoa para procurar uma ajuda. Não tenha medo de perguntar, de se aproximar. É preciso conversar sobre isso”, declara Aragão.
Segundo Alexandre de Rezende Pinto, médico psiquiatra do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), que faz parte da Rede Ebserh, qualquer tentativa de suicídio é um pedido de socorro. “É importante sempre pensar que, se a grande maioria das pessoas que tenta suicídio tem um transtorno psiquiátrico, elas já estão passando por um momento de sofrimento. A população em geral e nós, profissionais de saúde, precisamos ficar muito atentos a isso”, afirma.
Aline Alves, chefe da Unidade de Atenção Psicossocial do Hospital Universitário de Lagarto (HUL-UFS), também da Rede Ebserh, reforça a tese de que suicídio é uma das formas radicais de lidar com o sofrimento. “É a expressão da dor, desespero e desesperança. A pessoa que decide colocar fim à vida está na realidade tentando cessar o sofrimento”, diz.
Mulheres e idosos
Antônio Aragão afirma que os casos mais comuns de depressão são em mulheres, principalmente por fatores hormonais. Ciclo menstrual, gravidez e menopausa são momentos da vida que merecem cuidados, mas a pressão cultural também é um fator importante a considerar. “A mulher muitas vezes tem que assumir as tarefas de casa, o trabalho externo, os filhos, tem que buscar se colocar no mercado de trabalho, na sociedade, e em muitas dessas situações sofrendo consequências do preconceito, do machismo”, constata o médico do HU-UFS.
Já em relação aos casos de depressão por faixa etária, ele cita que existem idosos com quadro de depressão. “O mais comum é o adulto jovem. Mas a doença também acomete idosos. Muitas vezes, consideramos como algo normal um isolamento do idoso, acha que é coisa da idade. Mas isso pode ser uma depressão, que precisa de tratamento”, diz o médico.
Sobre a Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.
Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Hospitalar Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.
Com informações dos hospitais da Rede Ebserh