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Dependência química é doença e tem tratamento
Brasília (DF) – A dependência em drogas lícitas ou ilícitas é considerada uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e traz males para o organismo e para toda a sociedade. O consumo a longo prazo é associado a mais de 200 problemas de saúde e ainda é fator de risco relevante para violência e acidentes rodoviários. Para alertar e conscientizar a população, foi instituído o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo, celebrado em todo o país no dia 20 de fevereiro. A Rede Ebserh conta com hospitais universitários que oferecem atendimento especializado e 100% gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para dependência química.
De acordo com dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), de 2023, entre os principais agravos à saúde relacionados especificamente ao álcool, que levam a internações no Brasil, estão acidentes de trânsito (22,60%), outras lesões não-intencionais (16,60%), queda (13,70%), transtornos mentais e comportamentais (12%). Já segundo o Relatório Mundial sobre Drogas do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), divulgado a cada década, estima-se que cerca de 284 milhões de pessoas no mundo, entre 15 e 64 anos, a maioria homens, usaram alguma droga em 2020. Isso é aproximadamente o equivalente a 1 a cada 18 pessoas nessa faixa etária e representa um aumento de 26% em relação a 2010, ano em que o número estimado de pessoas que usaram drogas foi de 226 milhões.
A médica Maria da Penha Zago Gomes, coordenadora do Ambulatório de Alcoolismo do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, da Universidade Federal do Espírito Santo (Hucam-Ufes), explica que a dependência ao álcool e às drogas ilícitas é considerada doença desde a década de 1970, quando foi publicado o Código Internacional das Doenças - 9ª edição (CID-9), e depois reafirmada no CID-10 – na classificação de F10 até F19. “Alcoolismo não é uma escolha, é uma doença, ocorre em cerca de 10% da população adulta e é uma enfermidade heterogênea, sendo importante identificar a causa”, afirmou.
Para que o diagnóstico seja realizado, é preciso que três ou mais dos seguintes sintomas estejam presentes: forte desejo de consumir o álcool ou a droga; dificuldade de controlar o início e término do consumo; sinais de síndrome de abstinência; desenvolvimento de tolerância; prazer apenas no uso do álcool ou da droga; persistência no uso do álcool ou da droga, a despeito de consequências nocivas.
Maria da Penha alerta para as complicações clínicas do vício no organismo, que são graves e podem levar à morte. “Principalmente cirrose hepática; pancreatite crônica; miocardiopatia alcoólica; polineuropatia periférica; demência alcoólica; impotência sexual; infertilidade; neuropatia do nervo óptico (levando a cegueira); risco aumentado a neoplasias; dentre outras”, exemplificou. Ademais, pessoas que fazem uso regular de drogas têm mais riscos de desenvolver doenças mentais, como a depressão, os transtornos de ansiedade e até cometer ato suicida.
Tratamento
O SUS garante o atendimento e o acompanhamento de qualquer pessoa, em qualquer idade, com algum tipo de dependência química. O tratamento é disponibilizado nas Unidades Básicas de Saúde, nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e nas unidades especializadas, como é o caso do Ambulatório de Alcoolismo do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes/UFES, em Vitória (ES) e do Ambulatório de Dependências Químicas do Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh, em Belo Horizonte (MG).
Na capital mineira, o serviço é porta aberta, ou seja, não é preciso encaminhamento médico. O próprio dependente químico ou um familiar podem agendar uma consulta diretamente na secretaria. Os atendimentos acontecem às segundas-feiras, no prédio do Ambulatório Bias Forte, um dos anexos do HC-UFMG, localizado no bairro Santa Efigênia.
O coordenador do Ambulatório, o psiquiatra e pesquisador Frederico Garcia, explica que o tratamento tem várias etapas. “O objetivo é que a pessoa recupere sua liberdade e reconstrua uma vida dentro do que considera bom para si. Assim, o tratamento é feito empregando uma avaliação multidisciplinar, que pode compreender o uso de medicações, psicoterapia e suporte social. Além disso, algumas pessoas, eventualmente, podem necessitar de uma internação breve para a realização do tratamento de abstinência. A ideia é que todo esse processo aconteça da forma mais confortável, segura e baseada nas melhores evidências científicas”, afirmou.
Inovação
O médico é o nome à frente de uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que pode resultar na primeira vacina latino-americana antidroga. Intitulado Calixcoca, projeto já passou por etapas pré-clínicas, em que foram constatadas segurança e eficácia para tratamento do vício em cocaína e crack.
O medicamento induz o sistema imune a produzir anticorpos que se ligam à cocaína na corrente sanguínea, transformando a droga em uma molécula grande, que não passa pela barreira hematoencefálica. “Demonstramos a redução dos efeitos, o que sugere eficácia no tratamento da dependência. Pensamos em utilizar o fármaco para evitar recaídas em pacientes que estão em tratamento, dando mais tempo para eles reconstruírem sua vida sem a droga”, explicou o pesquisador.
Em outubro do ano passado, a pesquisa venceu o Prêmio Euro Inovação na Saúde, superando outras 11 iniciativas inovadoras no campo da saúde.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Luna Normand
Coordenadoria de Comunicação Social/ Ebserh