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Crianças e adultos são alfabetizados em hospitais da Ebserh na Bahia e no Maranhão
Brasília (DF) – Além do atendimento médico, hospitais universitários administrados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) abrigam iniciativas de pesquisa e ensino, inclusive para alfabetização de crianças, jovens e adultos impossibilitados de frequentar a escola regular. O 08 de setembro foi instituído pela ONU/Unesco como o Dia Mundial da Alfabetização para discutir a importância da educação como transformador social. Por isso, apresentamos práticas de atendimento pedagógico hospitalar que já ensinaram muita gente a ler e escrever nos hospitais da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
O ABC Nefro é implementado via convênio entre o Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU – UFMA) e a Secretaria Municipal de Educação de São Luís (Semed), nas modalidades Regular e Ensino de Jovens e Adultos (EJA). A iniciativa existe desde 2013 para pacientes que fazem diálise e objetiva a conclusão do Ensino Fundamental.
As aulas de alfabetização acontecem durante a sessão de hemodiálise, que dura cerca de quatro horas. Em 2018, o projeto foi expandido, passando a atender também crianças da Nefropediatria, numa parceria com a Superintendência da Área de Ensino Fundamental (SAEF). Todos os alunos do projeto têm matrícula na rede municipal, com todos os direitos de um aluno regular, como fardamento, material etc. O vínculo dos pacientes é com a Escola Municipal Alberto Pinheiro.
“O direito à educação equivale ao direito à saúde”
O ABC Nefro nasceu da observação por parte da equipe multidisciplinar de Nefrologia e Transplante Renal de que muitos pacientes tinham dificuldade de compreender o tratamento, devido à baixa escolaridade. A ideia começou a ser formulada a partir do atendimento de um casal com dois filhos. O marido era pescador e fazia diálise no HU. Depois de um tempo, a esposa dele adoeceu de Lúpus. Nenhum dos dois sabia ler e, por isso, estavam tomando a medicação errada, pois não conseguiam entender a receita nem a dosagem do remédio. A esposa, infelizmente, faleceu deixando duas crianças.
“Esse caso foi um divisor de águas para que a gente buscasse uma forma de colocar em prática esse projeto. Entendemos que a baixa escolaridade prejudica o tratamento, que já é tão difícil. Como hospital universitário, temos o objetivo também de educar. A escolaridade é importante para que os pacientes possam entender as orientações a serem seguidas e evitar um desfecho triste como o dessa família. Entendemos que o direito à educação equivale ao direito à saúde”, defende a assistente social do Serviço de Nefrologia e coordenadora do projeto, Gisele Silva Pereira.
A primeira turma se formou em 2022 e a paciente Gilvana Araújo Carvalho, 36 anos, estava lá. “Eu tinha o sonho de vestir a roupa de formatura. Foi uma honra, fiquei muito feliz de terminar o Ensino Fundamental”, relembra Gilvana, que se interessou pelo projeto ao ver as professoras ensinando crianças durante as sessões de diálise e perguntou se podia participar. “Fiquei com vontade de voltar a estudar ao ver os pequenos tendo aula. Foi muito bom. As professoras são muito pacientes e atenciosas com a gente”.
Ensinando mães e filhos
Como vários outros hospitais da Rede Ebserh, o Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes-UFBA) desenvolve o programa Classe Hospitalar, que atende pacientes da educação infantil até o ensino médio. Só que no Hupes, algumas mães também já tiveram acompanhamento pedagógico.
A Classe Hospitalar é um programa constante, previsto na legislação, que assegura atendimento educacional a estudantes da educação básica internados para tratamento de saúde, seja no hospital ou em casa, por meio da Lei 13.716, de 2018. “Chegam muitos alunos que ainda não sabem ler na idade própria. A gente identifica o nível que ele está e inicia o processo de alfabetização, que é bastante complexo. São alguns dos anos mais difíceis pro aluno”, afirma a pedagoga e coordenadora da Classe Escola no Hupes, Luciana Brasil.
Dependendo do tempo que a criança fica internada, Luciana esclarece que às vezes não dá tempo da alfabetização completa, mas existe um avanço bem perceptível. Então, quando a criança sai da internação, ela leva esse conhecimento quando voltar para a escola.
Ao ver os filhos estudando, algumas mães também se interessam em ter aulas. Muitas são da zona rural e não tiveram a oportunidade de aprender a ler. “A gente jamais vai negar de ensinar essas mães. Ajudamos na parte da leitura, matemática e outras disciplinas, o que for possível. O atendimento às mães parte do interesse delas. Daí, eu desenvolvo as atividades para ajudá-las”, explica Luciana.
Além da Classe Hospitalar, o Hupes também tem o projeto de incentivo à leitura com contação de histórias, distribuição de livros e atividades semanais para os alunos e suas mães.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação: Claudia Holanda, com revisão de Danielle Campos.
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh