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CUIDADO ESPECIALIZADO
Conscientização e inclusão na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência
O SUS disponibiliza atendimento integral às pessoas com deficiência intelectual e múltipla, respeitando suas individualidades e necessidades. Imagem ilustrativa: freepik.
Nesta matéria você verá:
-Compreendendo a Deficiência Intelectual
-Entendendo a Deficiência Múltipla
-Estratégias para melhorar funções cognitivas e emocionais
-Diferentes abordagens no atendimento
Brasília (DF) – A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla é celebrada anualmente de 21 a 28 de agosto, conforme estabelecido pela Lei n° 13.585/2017. O objetivo é promover a conscientização e a inclusão, além de combater o preconceito e a discriminação. Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 18,6 milhões de pessoas com deficiência, cerca de 8,9% da população com dois anos ou mais. Os dados foram coletados no 3º trimestre de 2022.
Neste contexto, é importante ressaltar o papel do Sistema Único de Saúde (SUS) no atendimento às pessoas com deficiência, especialmente nos 45 hospitais universitários federais administrados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Confira o que dizem as especialistas sobre a importância do tratamento adaptado às necessidades de cada paciente.
Compreendendo a Deficiência Intelectual
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a deficiência intelectual (DI) é uma condição de desenvolvimento interrompido ou incompleto da mente. A DI “pode resultar de causas genéticas, da participação adversa do ambiente, ou ainda da interação entre ambos, sendo que a maioria desses fatores já exerce seus efeitos durante o período pré-natal”, explicou a psiquiatra do Hospital Universitário Lauro Wanderley, da Universidade Federal da Paraíba (HULW-UFPB), Carolina Pinheiro Braga Palazzo.
As causas genéticas respondem por uma parcela significativa dos casos mais graves. Por outro lado, disse Carolina, “em cerca de dois terços dos casos leves e um terço dos casos graves, as causas são indeterminadas. Essa situação corresponde a cerca de 40% dos casos”. O diagnóstico envolve avaliação profissional da inteligência e do comportamento adaptativo, além de testes padronizados. Já o tratamento visa minimizar sintomas, ensinar habilidades para a vida e apoiar as famílias. A prevenção da deficiência intelectual pode ocorrer em três níveis, incluindo promoção de saúde, diagnóstico precoce e limitação de complicações.
Entendendo a Deficiência Múltipla
A neuropediatra do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), Maria Durce Gomes Carvalho, esclareceu que “a deficiência múltipla ocorre quando há comprometimento de várias áreas funcionais: motoras, cognitivas e sensoriais”. As principais causas são lesões cerebrais congênitas ou adquiridas, como hipóxia (diminuição no suprimento de oxigênio) cerebral por asfixia perinatal, afogamento, parada cardiorrespiratória, complicações cardiológicas, acidentes vasculares, traumatismos cranioencefálicos, entre outros.
Os principais sinais e sintomas incluem deficiências motoras, cognitivas, baixa visão, baixa audição, transtorno do espectro do autismo e epilepsia. O diagnóstico é feito por meio de avaliação clínica e exames complementares. O tratamento é multidisciplinar, com intervenção por meio de diversas especialidades médicas e terapias.
Segundo a especialista, para as causas adquiridas, é importante adotar cuidados preventivos, como evitar complicações obstétricas, acidentes e traumatismos, e infecção da gestante e recém-nascido. “Na presença de alguma lesão potencialmente causadora de sequela neurológica múltipla, deve-se iniciar um programa de intervenções precocemente, de modo contínuo e intensivo, com métodos e abordagens adequados para cada uma das deficiências”.
Desafios Neurológicos
A neuropediatra do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC), Paula Monteiro, destacou a importância de compreender as diferentes condições neurológicas enfrentadas por crianças com deficiência. “É muito comum encontrarmos pacientes com mais de um diagnóstico associado, o que traz grandes dificuldades no desenvolvimento”. Para lidar com os desafios, a especialista destacou a importância do tratamento multidisciplinar, com terapias que ofereçam suporte ao desenvolvimento da criança.
Paula também destacou a importância da família no processo de tratamento e desenvolvimento, “não apenas fornecendo apoio emocional, mas participando ativamente dos tratamentos e buscando compreender as dificuldades enfrentadas pela criança. Além disso, é essencial buscar informação sobre os direitos do paciente e contar com uma rede de apoio”.
Estratégias para melhorar funções cognitivas e emocionais
Para a neuropsicóloga, Luiza Borges Pinheiro, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG), a utilização de estratégias personalizadas para melhorar as funções cognitivas e emocionais é fundamental. “Elas vão mudar conforme cada caso, sendo necessário um planejamento que considere a rede de apoio da pessoa, recursos disponíveis no município e a promoção da autonomia”, pontuou.
Ressaltou também o papel da neuropsicologia na inclusão escolar e social, apontando que a avaliação neuropsicológica identifica não apenas os déficits, mas também os pontos fortes da criança. “Com base nessa avaliação, é possível orientar a escola e solicitar apoio multiprofissional, garantindo o acesso aos direitos das pessoas com deficiência intelectual”, ressaltou.
Diferentes abordagens no atendimento
O enfoque da Terapia Ocupacional é considerar as particularidades de cada indivíduo, buscando construir caminhos para enfrentar as dificuldades e promover uma vida plena e produtiva. A terapeuta ocupacional do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., da Universidade Federal do Rio Grande (HU-Furg), Ana Cristina Bertasi, explicou: “É possível auxiliar no processo de inclusão no mundo do trabalho, confeccionar dispositivos que auxiliem na realização de atividades cotidianas, como adaptações para alimentação ou pranchas de comunicação alternativa, sempre enfatizando a construção de instrumentos cognitivos para a ação autônoma”.
Dessa forma, Ana destacou a importância de oferecer recursos auxiliares e adaptados. “A perspectiva sempre será de incluir cada pessoa em seu contexto social, fazendo sentido para ela e sua família, independente da fase de vida”, disse a terapeuta ocupacional.
O fisioterapeuta do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (HUGG-Unirio), Amauri Bueno, acrescentou que a Fisioterapia, assim como a Terapia Ocupacional, ajuda na reabilitação da pessoa com deficiência múltipla. Ele explicou que são utilizadas técnicas especializadas na área de neurologia, motora e respiratória, conforme o quadro clínico de cada paciente. “A importância da Fisioterapia está relacionada ao alcance da autonomia e à compreensão das limitações de cada indivíduo”, afirmou Amauri.
Já a fonoaudióloga do HU-Furg, Aline Duanny Santos Marques, falou dos desafios de comunicação enfrentados por essas pessoas. Ela ressaltou que a especialidade atua nos mais diversos aspectos, buscando formas de garantir a efetividade da comunicação para esses indivíduos. Sobre as técnicas utilizadas, Aline mencionou que a tecnologia desempenha um papel importante. “Podemos utilizar pranchas de comunicação alternativa em papel ou em tablets, especialmente em casos em que a fala não é suficiente para comunicar todas as necessidades”, contou. Ela também destacou o uso de tecnologias mais avançadas, como aquelas que utilizam rastreamento ocular em caso de dificuldade de apontar os símbolos.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Andreia Pires, com revisão de Danielle Morais
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh