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SÉRIE “CONVIVENDO COM O HIV/AIDS”
Como se proteger do vírus HIV?
Cerca de um milhão de pessoas vivem com HIV no Brasil, de acordo com o Boletim Epidemiológico HIV e Aids 2024, do Ministério da Saúde. Imagem ilustrativa: freepik
Nesta reportagem, você vai ver:
Brasil registra aumento de 4,5% na detecção de casos de HIV
População mais jovem negligencia prevenção
Testagem, prevenção e tratamento pelo SUS
Brasília (DF) – As estratégias de prevenção contra o vírus HIV têm evoluído ao longo dos anos. Atualmente, uma das preocupações das autoridades de saúde e com uma certa desatenção da população, especialmente as pessoas mais jovens, quando não pesa as consequências e desconsidera as complicações que a contaminação pode trazer para suas vidas. A prevenção, pré e pós exposição ao vírus, é o tema dessa segunda reportagem da série especial “convivendo com o HIV/Aids”, com a participação de especialistas da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
Prevenção combinada
Segundo o infectologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG), Mateus Westin, no Brasil, "adota-se a prevenção combinada como forma de proteção contra o HIV". Esse método inclui abordagens biomédicas, comportamentais e socio-estruturais para responder a formas de transmissão específicas, de acordo com determinados grupos, assumindo que o melhor método é aquele que atende as necessidades sexuais e de proteção para cada indivíduo.
A prevenção combinada abarca tanto a prevenção para pessoas que são HIV-negativas, quanto a prevenção da transmissão do vírus, com a adesão de pessoas vivendo com HIV ao tratamento antirretroviral. Essa estratégia considera que nenhuma intervenção de prevenção isolada é suficiente para reduzir novas infecções. A abordagem de prevenção combinada é representada por uma mandala, explicou.
As intervenções biomédicas incluem barreiras físicas ao vírus, como uso de preservativos e lubrificantes; além de terapia com antirretrovirais para proteção e tratamento, como a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a prevenção da transmissão vertical (da mãe para o bebê). “Fazer o teste regularmente é essencial para indicação da melhor alternativa”, defende o professor da Universidade Federal da Bahia e coordenador do Laboratório de Infectologia do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes-UFBA), Carlos Brites.
As intervenções comportamentais contribuem com boas informações para que indivíduos, grupos e comunidades sejam esclarecidos sobre os riscos da exposição ao HIV, e consequentemente, tenham comportamentos mais seguros. Campanhas de prevenção e sobre uso consistente e correto de preservativos, o incentivo à testagem regular e à adesão das intervenções biomédicas são exemplos de ações nesse sentido.
As intervenções socio-estruturais, por sua vez, envolvem mudanças no ambiente social, econômico e político para minimizar o risco de infecção pelo HIV. “Algumas ações para alcançar esse objetivo são o pleno acesso aos serviços de saúde, políticas públicas de igualdade de gênero, proteção aos direitos humanos e combate ao estigma e à discriminação de pessoas com HIV”, elencou o infectologista Mateus Westin, do HC-UFMG.
Brasil registra aumento de 4,5% na detecção de casos de HIV
Cerca de um milhão de pessoas vivem com HIV no Brasil, de acordo com o Boletim Epidemiológico HIV e Aids 2024, do Ministério da Saúde. Desse total, 650 mil são do sexo masculino e 350 mil do sexo feminino. Conforme o documento, em 2023, foram notificados 46.495 casos de infecção pelo HIV no Brasil, representando um aumento de 4,5% em relação ao ano anterior. Desses casos, 63,2% eram de pessoas autodeclaradas negras (49,7% de pardos e 13,5% de pretos), e 53,6% dos casos ocorreram em homens que fazem sexo com homens (HSH).
Esse incremento no número de casos indica um aumento da testagem condicionada à distribuição de PrEP, ou seja, identificação de casos que antes não eram diagnosticados. Com base em dados do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e a Aids (Unaids), o Brasil alcançou a marca de 96% das pessoas estimadas que vivem com HIV devidamente diagnosticadas em 2023, um aumento em relação aos 90% de 2022. “A infecção por HIV não tem cura. No entanto, com o tratamento adequado, é possível controlar o vírus, evitar a transmissão e a evolução para AIDS”, reforçou o infectologista do HC-UFMG, Mateus Westin.
Ele explicou, ainda, que a pessoa com HIV pode passar anos sem ter nenhum sintoma ou infecção oportunista. Porém, ela fica com muita carga viral no sangue e nas secreções genitais, transmitindo o vírus para as pessoas com quem venha a se relacionar.
“Então, fazer o diagnóstico precoce a partir da testagem regular faz com que se tenha o controle da viremia com a medicação correta. É o que a gente chama de tratamento como prevenção”.
População mais jovem negligencia prevenção
Para o professor da UFBA e coordenador do Laboratório de Infectologia Hupes, Carlos Brites, existe uma desatenção, principalmente entre os mais jovens, a respeito da prevenção. “Antes, havia uma preocupação em prevenir porque a doença era bastante letal. Hoje em dia, podemos controlar o vírus de forma eficaz, com tratamento gratuito. Daí que estão negligenciando cuidados básicos”.
O especialista enfatizou que, por outro lado, a pessoa infectada irá precisar de tratamento para controle do HIV de forma contínua e por toda vida. Ainda não há cura. Além disso, a prevenção é fundamental também para evitar outras infecções sexualmente transmissíveis, como herpes genital, sífilis, gonorreia, entre outras.
Somos todos vulneráveis
O termo grupo de risco, muito usado nos anos 1980 e 1990, já foi abolido do vocabulário nesse campo do conhecimento, porque o entendimento é que todos somos vulneráveis ao HIV/AIDS. Hoje em dia, se fala em atividades de risco. O que existe é um perfil epidemiológico muito semelhante, com a concentração da epidemia em alguns segmentos. “Há grupos com maior prevalência, como o de homens que fazem sexo com homens, com ocorrência de HIV 30 vezes maior do que a população geral”, informou a infectologista do Hospital Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF-UFRJ), Erika Ferraz de Gouvea.
Para além de discursos moralistas ou tabus em relação à sexualidade, há explicações fisiológicas para essa vulnerabilidade. “A prática de sexo anal é mais arriscada por conta das micro abrasões geradas durante o ato sexual. O vírus consegue se fixar mais facilmente na mucosa retal”, explica o infectologista Mateus Westin, do HC-UFMG.
Testagem, prevenção e tratamento pelo SUS
Testagem – O Sistema Único de Saúde (SUS) realiza testes para diagnóstico do HIV. O resultado sai em, no máximo, 30 minutos. A rede pública também distribui gratuitamente preservativos e antirretrovirais. O teste deve ser feito com regularidade ou sempre que passar por uma situação de risco, como ter feito sexo sem camisinha. É importante fazer a testagem para que o tratamento se inicie o mais rápido possível.
Preservativos – O preservativo, ou camisinha, é o método mais conhecido de prevenir infecção pelo HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), como também evitar uma gravidez não planejada. Os preservativos masculinos e femininos são distribuídos gratuitamente em qualquer unidade de saúde.
PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV) – A PEP é uma medida de prevenção de urgência à infecção pelo HIV, hepatites virais e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), que consiste no uso de medicamentos para reduzir o risco de adquirir essas infecções. Deve ser iniciada o mais rápido possível - preferencialmente nas primeiras duas horas após a exposição e no máximo em até 72 horas. A PEP deve ser utilizada após qualquer situação em que exista risco de contágio, tais como:
· Violência sexual;
· Relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com rompimento da camisinha);
· Acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com material biológico).
PrEP (Profilaxia Pré-Exposição ao HIV) – A PrEP consiste no uso de antirretrovirais (ARV) que são utilizados antes da exposição para reduzir o risco de adquirir a infecção pelo HIV. A medicação faz com que o organismo esteja preparado para enfrentar um possível contato com o HIV.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Redação: Claudia Holanda, com edição de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh