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Pediatria
Cirurgião da Rede Ebserh/MEC fala sobre a gastrosquise, doença que pode ser diagnosticada ainda na gravidez
O parto deve ser programado com a presença das equipes de obstetrícia, cirurgia pediátrica e neonatologia. Esse recém-nascido precisa ser idealmente operado logo após o nascimento
Niterói (RJ) – Muitas pessoas nunca tinham ouvido falar em gastrosquise antes de a doença entrar em foco nos últimos dias. Aurora, filha do surfista Pedro Scooby e da modelo Cíntia Dicker, nasceu com essa malformação congênita e precisou ser operada nas primeiras horas de vida. O médico responsável foi Gilmar Stulzer, chefe da Cirurgia Pediárica do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap-UFF), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). O hospital realiza este tipo de cirurgia, seja com fechamento primário ou tardio, com uma média de um caso a cada dois meses.
A malformação, que ainda tem causa desconhecida, pode ocorrer entre a 4ª e a 10ª semana de gravidez. É um defeito no fechamento da parede abdominal, em que a criança nasce com um orifício do lado direito do cordão umbilical. Stulzer esclarece que, na grande maioria das vezes, envolve o intestino, mas às vezes, também a bexiga e o estômago. O bebê passa praticamente toda a gravidez com esses órgãos expostos em contato com o líquido amniótico, que tem um pH agressivo.
“O resultado disso é uma inflamação das alças intestinais chamada de serosite. Para um diagnóstico precoce, a estratégia ideal é que, primeiramente, a mãe tenha um bom acompanhamento pré-natal, já que se descobre durante a gestação. Na ultrassonografia morfológica, em que há um estudo detalhado dos órgãos do bebê, podemos observar se há algo errado. Após esse diagnóstico, a mãe é encaminhada ao Huap. No momento em que o bebê nasce, ainda na sala de parto, recebe os primeiros cuidados da equipe de neonatologistas e a seguir é encaminhado para a cirurgia”, acrescenta o cirurgião.
O médico explica que alguns recém-nascidos não têm espaço para guardar o intestino na cavidade e fechar primariamente a parede abdominal, sendo necessário confeccionar um reservatório externo, uma bolsa plástica, chamada de “silo”, para acomodar provisoriamente o intestino até que, apertando aos poucos, seja possível aumentar de tamanho da cavidade e concluir a colocação do intestino para dentro.
“Esse procedimento estagiado demora, em média, sete dias. É o chamado fechamento tardio. Se tentarmos fechar de uma vez só, o intestino comprime os vasos e o diafragma, prejudicando o bebê. Usamos a estratégia da bolsa externa para que o intestino possa, aos poucos, ocupar o espaço na cavidade. Há casos em que os órgãos estão pouco inflamados e é possível fazer o fechamento primário, que é quando colocamos o intestino todo de uma vez para dentro”, complementa Gilmar.
Taxa de incidência
Segundo o Manual do Manejo Clínico da Gastrosquise, criado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 2019, a incidência de gastrosquise varia entre quatro a cinco casos a cada 10 mil bebês que nascem com vida. Os dados mostram que somente de 1 a 2% dos pacientes têm anomalias cromossômicas associadas. Ainda de acordo com a Fiocruz, a doença pode ser classificada entre simples (83% dos casos) e complexa (17% dos casos). Gilmar Stulzer ressalta que aproximadamente 15% dos bebês com gastrosquise têm associação com defeitos da formação do intestino, as chamadas atresias intestinais.
“O diagnóstico da gastrosquise é feito por meio da ultrassonografia pré-natal, momento em que a gestante deve ser encaminhada a um centro de referência, como é o caso do nosso hospital, que possui serviço de maternidade de alto risco. O parto deve ser programado com a presença das equipes de obstetrícia, cirurgia pediátrica e neonatologia. Esse recém-nascido precisa ser idealmente operado logo após o nascimento, por isso é levado para uma sala de cirurgia ao lado da sala de parto. Quando o bebê nasce e demora a ser operado, aumenta os riscos de complicações, principalmente infecciosas, e, dependendo das circunstâncias, piora o prognóstico dele. De modo geral, as cirurgias têm bons resultados”, finaliza o médico da Rede Ebserh.
Com informações do Huap-UFF/Ebserh