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DEMÊNCIA
Alzheimer: um diagnóstico que atinge o paciente e toda a família
Paciente em atendimento no Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB/Ebserh).
Brasília (DF) - Se você escutar ou ler alguma coisa sobre demência, provavelmente vai pensar logo em Alzheimer. Essa relação é bastante comum e não acontece por acaso. O Alzheimer é o principal tipo de demência no mundo e é responsável por cerca de 70% dos casos da doença. A estimativa é que cerca de 50 milhões de pessoas vivem com a demência, número que deve aumentar nos próximos anos, devido ao envelhecimento da população. No Brasil, o Alzheimer afeta 1,2 milhão de pessoas e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano.
Para conscientizar a população sobre a doença, setembro foi instituído como Mês Mundial do Alzheimer e o dia 21, como Dia Mundial da Doença. Este ano, a campanha tem como tema “Nunca é cedo demais, nunca é tarde demais”. O objetivo é reforçar a importância de identificar e prevenir os fatores de risco, além de adotar hábitos de vida que contribuam para evitar ou retardar o aparecimento da demência. Na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que administra 41 hospitais universitários federais, equipe multidisciplinares atuam no diagnóstico e tratamento.
Ficção ou realidade?
O Alzheimer já virou tema de filmes, como em “Para Sempre Alice”. Em 2015, a obra mostrou a história de uma renomada professora que, depois de notar alguns esquecimentos e se perder na rua da cidade em que morava, foi diagnosticada com Alzheimer precoce, colocando em prova a força da família. Em 2021, o filme “Meu Pai” voltou a falar sobre o tema. A obra acompanha os sintomas e a evolução da doença do ponto de vista de um homem de 81 anos que vive com Alzheimer. O filme também mostra as dificuldades da filha para lidar com as mudanças e cuidar do pai.
Na vida real, não é diferente. Há dois anos, Kátia Francisco da Silva começou a notar os primeiros sinais de esquecimento na mãe, na época com 69 anos. “Ela começou esquecendo as senhas de banco, depois passou a se perder”, conta. Em acompanhamento clínico desde janeiro deste ano no Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB), vinculado à Ebserh, a filha destaca que, com o tempo, conseguiu se manter mais tranquila em relação à saúde da mãe. “Pude entender melhor a doença, hoje mamãe segue fazendo as coisas do dia a dia, lava a louça, faz o que costumava fazer em casa e eu fico sempre por perto”, afirma Kátia.
A mãe de Kátia é atendida pelo serviço de geriatria do HUB, que oferece um atendimento multidisciplinar aos pacientes. Nos casos de Alzheimer, além da pessoa com a doença, o hospital oferece apoio ao familiar idoso que cuida do paciente. “O impacto do diagnóstico não se restringe ao paciente, atinge toda a família. Ele perde a autonomia de forma progressiva e é preciso saber lidar com as mudanças de papéis sociais dentro da estrutura familiar”, explica o geriatra do HUB, Marco Polo.
Atendimentos na Rede Ebserh
O Hospital Universitário Lauro Wanderley, da Universidade Federal da Paraíba (HULW-UFPB/Ebserh), atende cerca de 20 pacientes com demência por semana, de forma presencial ou online, no Ambulatório da Memória, criado em 2017. O serviço conta com seis profissionais, entre neurologistas, psiquiatras, neuropsicólogos e geriatras. Cerca de 70% dos pacientes foram diagnosticados com Alzheimer. “O diagnóstico precoce é fundamental, porque o melhor efeito do tratamento é na fase inicial da doença. O Alzheimer não tem cura, mas tem tratamento. E o melhor tratamento é o cuidado”, reforça o geriatra do HULW, Jamerson Andrade.
O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG/Ebserh) tem um ambulatório de neurologia cognitiva e do comportamento que atende cerca de 20 pacientes com demência por semana, metade com diagnóstico de Alzheimer. A equipe é formada por cerca de 20 profissionais contratados e voluntários, entre neurologistas, psiquiatras, neuropsicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. “É importante lembrar que nem todo esquecimento é normal em idosos. Deve-se estar atento para saber quando procurar um médico”, afirma a neurologista do ambulatório, Elisa Resende.
O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE/Ebserh) também conta com um ambulatório de neurologia cognitiva e do comportamento. O serviço atende cerca de 32 pacientes com demência por mês, metade com Alzheimer, e oferece atendimento conjunto de neurologia e psiquiatria. O hospital está organizando a 1ª Corrida pela Prevenção do Alzheimer, em 23 de setembro. “Mais de 40% dos casos da doença podem ser evitados e o sedentarismo é um dos fatores de risco. Nunca é cedo demais para se cuidar. Praticar atividade física traz inúmeros benefícios para o corpo e para o cérebro”, esclarece o neurologista do HC-UFPE, Breno Barbosa.
Sobre a doença
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, progressiva e ainda sem cura que afeta, majoritariamente, pessoas acima de 65 anos de idade. Ela pode comprometer diversas funções cognitivas, como memória, linguagem, raciocínio, humor, comportamento e percepção do mundo. Os sintomas são progressivos e vão desde esquecimento até a dependência completa em cuidados básicos, como alimentação e higiene.
Os principais fatores de risco da doença são: idade; genética; baixo nível de escolaridade; obesidade; tabagismo; sedentarismo; diabetes; hipertensão e depressão não tratados ao longo da vida; baixa qualidade do sono; isolamento social; abuso de bebida alcoólica; traumatismo craniano; perda auditiva; e poluição do ar. Por isso, a estimativa é que é possível prevenir 48% dos casos de Alzheimer evitando o álcool e o cigarro, controlando doenças crônicas, cuidando da saúde mental e adotando um estilo de vida saudável, com a prática de atividade física e uma boa alimentação.
Para identificar o Alzheimer, é preciso estar atento a sinais, como problemas de memória que afetam atividades diárias, dificuldade para se comunicar, desorientação no tempo e no espaço, dificuldade de raciocínio, redução da capacidade de juízo e de crítica, mudanças de personalidade, perda de iniciativa, alterações de humor e de comportamento. O diagnóstico é clínico e considera o conjunto de sinais e sintomas e a exclusão de outras causas.
O tratamento com medicamentos pode aliviar ou retardar a progressão dos sintomas. Terapias cognitivas e mudanças do estilo de vida também ajudam. Pacientes e cuidadores precisam buscar dados confiáveis, já que atualmente existem muitas informações falsas. Procurar grupos de apoio e cuidar da saúde dos familiares e cuidadores do paciente também são fatores fundamentais.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Leticia Justus, com revisão de Rosenato Barreto e Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh