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Nossas Histórias
Do Brasil Colonial aos dias atuais: uma história sobre o desenvolvimento dos poços no Nordeste

O abastecimento de água é um dos maiores desafios do semiárido brasileiro desde os tempos do Brasil Colônia. Historicamente, o Nordeste é uma das regiões que mais sofre com esse problema. A água do subsolo é então uma alternativa para períodos de longa estiagem ou em locais onde não existem fontes ou rios permanentes próximos.
Estudos mostram que durante o período colonial, para garantir o abastecimento humano e a dessedentação animal, mesmo que de forma precária, a água subterrânea era captada próximo a nascentes ou fontes e extraída por meio de poços escavados nos núcleos de povoamento. Registros históricos apontam que a construção de mosteiros, fortes e outros prédios importantes eram precedidos por prospecções efetuadas por monges e outros indivíduos conhecidos como apontadores de água.
De acordo com o livro Perfuração de Poços no Nordeste do Brasil, de Alceu de Lellis, engenheiro civil e de Minas, encarregado do serviço de perfuração e aparelhamento de poços da então Inspectoria, aqui no Ceará, um dos primeiros registros de poços são de uma cacimba, anterior à seca de 1877, próxima a lagoa da Parangaba. Essa cacimba era alimentada pelo lençol freático que mantinha a própria lagoa e era explorada por uma empresa que tinha exclusividade no fornecimento e venda da água na capital alencarina . Durante a seca de 1877 a 1879, houve uma tentativa de aumentar a cacimba, mas atingiram uma camada de saibro grosseiro e permeável pela qual desapareceu o lençol. A empresa ficou impossibilitada de continuar o fornecimento de água.
Ainda segundo a obra, durante a seca de 1888 e 1889, surgiu a primeira tentativa de perfuração de poços tubulares profundos no Ceará. Nos anos seguintes, quatro poços foram perfurados em Fortaleza. Em 1903, foi estabelecida a isenção de impostos aduaneiros para os cataventos destinados ao aparelhamento de poços particulares, o que fomentou a multiplicação de poços profundos.
Uma preocupação, desde os tempos imperiais, com políticas públicas voltadas para a perfuração de poços fez com que, aos poucos, essa forma de armazenamento de água fosse se aperfeiçoando e ganhando cada vez mais estudos específicos. Entretanto, somente em 1909, no período da República, foi pensada a criação de um órgão federal voltado para a problemática socioeconômica causada pelas secas. Nascia, então, a Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), que futuramente se tornaria Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).
Sob a direção do engenheiro Miguel Arrojado Lisboa, a Inspetoria estabeleceu estudos permanentes de meteorologia e fluviometria, enquanto geólogos desbravaram os sertões, pouco conhecidos do ponto de vista estrutural, estudando a constituição geológica de grandes áreas do interior. A partir daí, o serviço de perfuração de poços recebeu grande impulso, com a aquisição de perfuratrizes, cujo manejo era confiado a mecânicos norte-americanos. Os americanos trabalharam durante um ano e orientaram os mecânicos brasileiros, que, em seguida, passaram a exercer essa função.
De 1913 a 1920 houve um declínio nas verbas para a Inspetoria, limitando a execução de muitas obras, entre elas, a de perfuração de poços. A partir d os anos seguintes , sob a presidência de Epitácio Pessoa, a Inspetoria entrou em fase de grande atividade, com grandiosas obras no Nordeste e a execução de barragens e poços capazes de atenuar a escassez de água nos períodos de crise. Das seis seções das quais foram divididas a inspetoria, uma delas, a 4ª, foi designada para a perfuração e aparelhamento de poços.
Os anos seguintes sucederam inúmeras perfurações de poços no semiárido brasileiro, para que a população pudesse ter acesso a um dos bens mais preciosos da humanidade: a água.
Até os dias atuais, o DNOCS mantém a sua missão de levar dignidade ao povo nordestino e também à população do norte de Minas Gerais, contribuindo com o desenvolvimento brasileiro, por meio da perfuração e instalação de poços, construção de barragens, cisternas, estradas, pontes e inúmeros projetos que levam progresso e desenvolvimento a sua área de atuação.
CURIOSIDADE
“Um poço notável no alto da serra”
Para levar água à população nordestina, houve um verdadeiro desbravamento dos sertões. O livro Perfuração de Poços no Nordeste do Brasil nos conta que por muito tempo se planejou a perfuração de alguns poços no alto da chapada do Araripe. Depois de grandes esforços, a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS) conseguiu levar uma perfuratriz ao alto da serra.
A máquina partiu de Iguatu no dia 1º de fevereiro, levada por uma equipe de 18 homens, munidos de ferramentas para abertura de estradas. Eles chegaram ao alto da chapada no dia 2 de abril, depois de realizado um percurso de 230 km através de numerosos obstáculos e de estradas que foram construídas ou recuperadas.
O local do poço estava 917m acima do nível do mar. Iniciada a perfuração, somente após escavados, foi encontrado um abundante lençol de água doce.
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