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Açude Castanhão: As linhas da história da maior barragem da América Latina
A seca sempre foi uma paisagem recorrente no Nordeste Brasileiro. Chão rachado, gado magro, poeira na estrada carroçal, elementos que se misturam ao sofrimento do homem sertanejo em sua busca, ao longo dos séculos, por água e sobrevivência. Uma antiga profecia já dizia, “o sertão vai virar mar”, e o homem seguiu guiado pela fé, que trouxe um “mar” para o sertão. Quem sabe esse “mar” pode ter parede, barrar a água que teria outro curso, trazendo esperança e subsistência. Esse “mar” poderia ser talvez o maior açude público da América Latina, o nosso Açude Castanhão.
Desde os tempos imperiais, as secas do Nordeste já eram consideradas um problema grave. Iniciou-se então, a política de Açudagem, quando Dom Pedro II, sensibilizado com os efeitos da seca, decidiu enfrentar o problema autorizando a construção do Açude Cedro, no município de Quixadá, no Ceará. Tudo isso aconteceu no final do período imperial, estendendo-se pelo período da república. A política de açudagem era uma das maneiras buscadas pelo governo para mitigação do fenômeno da seca. Devido a essa política, se intensificaram no Ceará a construção de pequenos, médios e grandes reservatórios.
No entanto, a história do maior reservatório do país, a barragem Padre Cícero, popularmente conhecida como Castanhão, começou nos idos de 1910, quando iniciaram-se os estudos geológicos e topográficos para a construção do açude, pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), na época Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS).
Erguido sobre o leito do rio Jaguaribe, no estado do Ceará, o açude está localizado em Jaguaribara, embora atinja outros municípios. A obra foi iniciada em 1995, durante o governo de Tasso Jereissati, e concluída em 23 de dezembro de 2002, pelo governador Beni Veras (PSDB), em uma parceria entre DNOCS e Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará (SRH-CE).
Durante a construção do açude foi preciso remover a antiga sede do município de Jaguaribara. Em substituição ao município que ficou submerso, foi construída uma nova cidade de Jaguaribara. Vale ressaltar que a nova sede do município tem réplicas da antiga sede, como a igreja matriz e a igreja do Poço Comprido, antigo distrito do município, conforme informa o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo a publicação Evolução da Obra do Açude Castanhão, de 1982 a 1984, como parte integrante da Transposição de Vazões do Rio São Francisco para as regiões semiáridas do Nordeste, o IOCS encomendou os estudos preliminares do projeto da barragem. Em 1985, foi elaborado o anteprojeto. Ao Consórcio Hidroservice-Noronha, coube o trabalho, acertado em contrato firmado com a autarquia, de elaborar os projetos básicos e executivos. Em novembro de 1995, a empresa Andrade Gutierrez S/A, detentora do contrato, iniciou, com fiscalização direta do DNOCS, os serviços de construção da Barragem.
De maio de 1996 a agosto de 1997, realizaram-se as escavações em rolo e rocha para a implantação do vertedouro. Quando os trabalhos de escavação foram concluídos, em setembro de 1997, foram iniciados os trabalhos de concretagem das estruturas do vertedouro, que se desenvolveram até sua conclusão, em outubro de 1999.
De acordo com a Prefeitura de Alto Santo, a Barragem Castanhão foi inicialmente pensada pela família Cunha, principalmente pelo Sr. José Holanda Cunha, figura bastante conhecida na época e que comandava a oligarquia da região. A família Cunha era detentora das terras da fazenda Castanhão (de onde vem o nome do açude, por cobrir suas terras quase por inteiro) e o povoado conhecido como "Boqueirão do Cunha", onde o açude se encontra atualmente.
Atenuando o sofrimento do povo cearense, que sempre lutou contra os efeitos das longas estiagens, a barragem Padre Cícero chega para trazer um fôlego esperançoso ao que antes era cenário de seca. Com capacidade de armazenamento de 6, 7 bilhões de metros cúbicos, abastece a região do Vale do Jaguaribe e tem usos múltiplos. Ainda, quando necessário, o açude também ajuda no abastecimento hídrico da Região Metropolitana de Fortaleza. Antes da grandiosa construção do Castanhão, o maior açude do estado era o Orós, no município de mesmo nome, que também é uma represa no Rio Jaguaribe, mas que comporta pouco mais da metade da capacidade do Castanhão.
Curiosidades
Cabe ao engenheiro Roderic Crandall RODERIC CRANDALL, consultor da então IOCS, mérito por ter identificado o Boqueirão do Cunha, diversos marcadores geológicos que indicavam aquela ser a melhor região para a construção da barragem.
Ainda de acordo com a publicação do DNOCS sobre a evolução da obra, no local onde hoje está construída a tomada d'água do Castanhão, existia uma caverna conhecida popularmente como "Caverna do Doutor".
Esse local serviu de residência e escritório ao consultor Roderic. Curioso registro na publicação diz que, durante as escavações da obra, ele encontrou um bloco de pedra com a enigmática inscrição: "Região São Salvador caverna do mistério, obra do fim dos tempos 1893”.
Saiba Mais
O Açude Castanhão além de ser uma obra grandiosa e importante para o povo nordestino, em especial o cearense, tem inserido na sua história a vida de uma grande mulher que ajudou a erguer o reservatório.
Segundo o Documentário DNOCS – Dentre nós o coração do sertão, Maria Zita Timbó Araújo é parte importante dessa história. Formada em engenharia civil pela Universidade Federal do Ceará (UFC), passou no concurso do DNOCS, em 1980, iniciando seu trabalho no setor de barragens, com apenas dois anos de formada.
Em 1995, Zita Timbó foi convidada a presidir as obras do Castanhão, liderando uma equipe de 1.200 pessoas. Em pleno os anos 90, uma líder mulher, comandando uma obra de grande magnitude, era um acontecimento incomum devido às barreiras culturais. Zita ultrapassou obstáculos e superou limites.
Para além desse desafio intrínseco ao erguimento do maior reservatório do país, havia um outro que trazia para a mulher profissional a realidade maternal, seu filho tinha apenas nove meses quando ela aceitou o convite para estar à frente das obras.
Zita inspira, nos dias de hoje, mulheres que têm em suas vidas diversos desafios, dentre eles conciliar o profissional e o maternal.
Serviço de Comunicação Social
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