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Seminário debate segurança dos alimentos e integração entre o poder público e a iniciativa privada
Rio de Janeiro (RJ), 29/10/2015 – O intercâmbio de conhecimentos, a atuação de forma integrada, a sensibilização de agentes públicos e privados e a identificação de interesses comuns interagências são alguns dos objetivos do VI Seminário de Alimentação das Forças Armadas, que teve início nesta quarta-feira (28), na Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro.
O evento, que reúne militares, especialistas, empresários e acadêmicos, também visa lançar as bases do Projeto Estratégico de Defesa e Cultura Alimentar das Forças Armadas.
Segundo a presidente da Comissão de Estudos de Alimentação das Forças Armadas (CEAFA), do Ministério da Defesa (MD), tenente-coronel Fernanda Carvalho Peixoto, após dez anos do Regulamento de Segurança dos Alimentos das Forças Armadas, considerado um marco legal para a adoção das boas práticas nos serviços de alimentação das organizações militares e inocuidade das refeições oferecidas à tropa, faz-se necessário identificar as vulnerabilidades das reservas militares de água e comida frente às contaminações intencionais
“Agora é preciso desenvolver a percepção de risco frente à possibilidade de contaminação intencional, para evitar um colapso de toda a cadeia logística de subsistência”, afirmou a oficial do MD.
Ainda de acordo com a coronel Fernanda, é necessário que a cadeia atue de forma integrada, dinâmica, sistêmica e reunindo conhecimento. “Nos casos previsíveis, nós já sabemos o que fazer e como fazer. Nós já temos um regulamento. O desafio é como trabalhar em situações não tão rotineiras e, para tanto, uma das entregas deste Projeto é elaborarmos um plano de contingência em defesa alimentar, onde o foco é a contaminação intencional”.
O evento, que termina hoje (29), contribui para a observação de todo o processo integrado, interligado das ações da cadeia alimentar, desde a aquisição de produtos, análises laboratoriais, armazenamento, distribuição, até o processamento e manipulação dos gêneros alimentícios.
“Para isso, precisamos reunir expertise para que nos capacitemos para a elaboração de uma matriz decisória, prevendo e evitando casos de contaminação proposital, produzindo baixas e reduzindo o poder de reação da força militar.”
Outro aspecto lembrado pelo vice-chefe de logística do MD, general José Orlando Ribeiro Cardoso, em seu discurso de abertura do evento, é o emprego das tropas em situação não convencionais como os grandes eventos (operação Arcanjo e São Francisco, Copa das Confederações, Jornada Mundial da Juventude e Vista do Papa Francisco, Copa do Mundo Fifa 2014 e Jogos Olímpicos e Paralímpicos 2016) e o apoio em catástrofes e desastres naturais.
“Todos esses eventos implicaram ou vão implicar na importante tarefa de alimentar frações de militares, coletividades em situações especiais, ou mesmo adversas, e assegurar o cumprimento da missão”, disse o general Orlando.
A alimentação tem um reflexo direto na garantia exitosa do emprego e moral da tropa e no cumprimento de missões. “A cultura de segurança dos alimentos de uma organização é produto de valores, atitudes, competências e padrões de comportamento individual e coletivo comprometidos com o bem-estar, o moral, a saúde e a sobrevivência da própria instituição”, comentou a presidente da CEAFA.
Neste primeiro dia de evento, participaram, além de militares e civis, o sub-comandante da Escola Superior de Guerra, general Eduardo Diniz; o diretor de Intendência da Aeronáutica, Vilmar Gargalhone Corrêa; o subchefe de Integração Logística do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, almirante Alexandre Augusto Amaral Dias da Cruz; e o subdiretor de Abastecimento da Aeronáutica, brigadeiro José Jorge de Medeiros Garcia.
Estudo
Uma das apresentações tratou sobre a entrada de alimentos clandestinos pelas fronteiras e os riscos de contaminantes. Conduzida pelo professor da Universidade de Brasília (UnB), Cristiano Barros de Melo, a palestra foi focada em um trabalho realizado, em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Receita Federal, a Infraero e a Polícia Federal, que analisou as apreensões da vigilância agropecuária de produtos clandestinos nos aeroportos de Guarulhos e do Galeão, onde se concentram 85% da entrada de pessoas no País.
O professor contou, por exemplo, que foram encontrados, em bagagens acondicionadas em malas, queijos contaminados com a bactéria da tuberculose. “Nós traçamos um perfil dessas apreensões, entre os anos de 2008 e 2009, que, no Galeão, foram em torno de 20 toneladas e, em Guarulhos, 40 toneladas, em 160 ações.
Ele informou que de muito destes produtos, até hoje, não se sabe a composição, porém, também houve apreensão de pescados, camarões, laticínios, embutidos, carne in natura, animais vivos e mortos, produtos artesanais e falsificados e gêneros em decomposição.
Entre 4h30 e 7h30 chegam 27 voos ao Brasil, principalmente vindos da Europa. “Os passageiros tentam de toda forma burlar a fiscalização”. Para ele, a quantidade de material apreendido é grande porque não há uma punição do infrator, a mercadoria é interceptada e o passageiro liberado. Tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que prevê a condenação judicial para quem comente este tipo de infração.
O trabalho realizado nos aeroportos traçou o perfil dos passageiros infratores, que têm entre 35 e 55 anos e, geralmente, viajam sozinhos. Segundo o professor Cristiano, as ações da Operação Ágata contribuem para a repressão deste tipo de crime. “O mundo está preocupado com essa situação, que vem ocorrendo em outros aeroportos da Europa”.
Em 1.610 análises feitas pelo Laboratório Pedro Leopoldo do Ministério da Agricultura, em 320 apreensões foram detectadas coliformes, salmonela e outros agentes contaminantes.
Integração e Humanização
A professora doutora Rejane Maria de Souza Alves, do Ministério da Saúde, apresentou um trabalho sobre a investigação de surtos provocados por Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTA) relacionadas a movimentos migratórios.
Segundo a professora, que já participou de ações de saúde com o Exército Brasileiro, a investigação e a notificação dos surtos são fundamentais para aplicação de medidas corretivas e preventivas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que os surtos de DTAs acomete 1/3 da população mundial por ano.
Ela acredita em um trabalho integrado e humanizado entre os órgãos governamentais, discutindo e avaliando, inclusive com o apoio das Forças Armadas, e levando em consideração a cultura alimentar das populações assistidas. “A gente precisa trabalhar a saúde da população de forma integrada e onde ela esteja”, finalizou.
Já o foco da palestra da doutora Elke Stedefeldt foi a percepção do manipulador de alimentos. A mudança de atitude se faz com conscientização do comportamento humano e muito conhecimento. “O comportamento e o conhecimento estão intimamente relacionados com fatores cognitivos e psicossociais”.
A doutora Elke apresentou alguns estudos sobre a percepção de riscos na manipulação dos alimentos. “Precisamos olhar para o manipulador de alimentos como ser humano, que passa por estresse e ansiedade, como qualquer outra pessoa num ambiente de trabalho. Isso faz parte da nossa vida e do nosso dia a dia”, completou. Para ela a mudança se dá com treinamentos constantes, inclusive, no retorno dos colaboradores após um período de férias ou licenças.
“Escolhas Alimentares – Mitos e Verdades” – foi outra abordagem deste primeiro dia do Seminário. A professora Sônia Tucunduva Philippi, da Universidade São Paulo, disse que é preciso fazer um resgate cultural do preparo alimentar. Ela colocou em xeque alimentos da moda. “As pessoas são atraídas por novidades. Devemos evitar restrições alimentares desnecessárias”.
Muito destas informações, que prometem saúde. não têm embasamento científico. A professora afirmou que em 2016, nos Estados Unidos, o mercado norte-americano vai lucrar U$ 15 bilhões apenas com o glúten zero.
Experiências
A consultora da empresa Food Design, Ellen Lopes, apresentou alguns casos em Defesa Alimentar, com ataques maliciosos para extorquir grupos empresariais, sabotar áreas de produção de alimentos, praticar atos de bioterrorismo e fraudar/adulterar o conteúdo de gêneros alimentícios
Desde 2004, a OMS passou a considerar que é importante trabalhar, além da segurança dos alimentos, a preocupação com ataques a fornecedores de alimentos.
Ellen Lopes disse que os ataques, geralmente, são deliberados por funcionários, criminosos, terroristas e psicopatas. “Essas pessoas buscam alimentos mais acessíveis, que produzam uma mistura uniforme e em lotes grandes, e com curto tempo de vida nas gôndolas dos supermercados”. A consultora explicou que os agentes podem ser químicos, biológicos ou radiológicos.
Para ela, as empresas precisam investir em inteligência e segurança, protegendo os arredores e instalações, além de investir em capacitação. “Os criminosos visam lucro e contam às vezes com ajuda de outras pessoas da própria instituição”.
A alimentação coletiva e a aplicação em manobras militares e outros eventos também foram temas de palestras. Com 20 anos de atuação, a empresa Masan possui experiências em exercícios militares, como o da Marinha, em Formosa (GO), e eventos esportivos, como os 5º Jogos Mundiais Militares, em 2011, no Rio de Janeiro (RJ).
A diretora-executiva da empresa, Adriana Pinto, detalhou que, nos Jogos Militares, foram servidas 2 milhões de refeições, em 43 diferentes locais para 600 atletas, mobiliando 2500 colaboradores.
Em 2011, na tragédia das chuvas na Região Serrana Fluminense, foram disponibilizados pela Masan 30 toneladas de alimentos. E em 2014, a empresa forneceu infraestrutura de alojamento, cozinhas e refeitórios para a ocupação do Complexo da Maré. Ela já se prepara para novos desafios sustentáveis em seus projetos, como o reuso da água e a utilização da energia solar.
Submarino de Propulsão Nuclear
A Marinha do Brasil estuda um projeto que vai atender o regime alimentar para a futura tripulação do submarino de propulsão nuclear, que deve estar em operação a partir de 2025.
Devido às características específicas de um patrulhamento longo e extenso, operando por até 90 dias debaixo da água, a alimentação dos militares segue orientações especiais, como uma alimentação balanceada, com reposição de vitamina D, a utilização de comida termoprocessada e o descarte de sobras e perdas para evitar o rastreamento do submarino pelo inimigo.
O diretor de Abastecimento da Marinha, almirante Hélio Mourinho Garcia Junior, destacou que os estudos preveem o uso de nanocápsulas de nutrientes para o aumento da biodisponibilidade dos tripulantes. “O desafio é fazer que a dieta alimentar não seja um limitador para as atividades submarinas, levando em consideração o comportamento operacional¨, disse. Ele também salientou que as aquisições dos gêneros alimentícios são complexas e exigem grande esforço de fiscalização.
[leiatambem]
A experiência “além-mar” foi mostrada pelo chefe do Laboratório de Bromatologia e Defesa Biológica do Exército português, major veterinário Antonio Eduardo Bruno Lopes, que apresentou o reporte dos em vigilância epidemiológica e intoxicação alimentar. Entre 2006 e 2015, 56% das infecções eram provocadas por refeições confeccionadas e 22% por água.
O militar português relatou que, nestes casos, 33% foram por desrespeito ao tempo entre o tempo de preparo e temperatura na hora de servir o alimento, 25% foram causados por falta de higiene e contaminação cruzada.
Portugal participa, na Comunidade Europeia, do projeto de uma rede de comunicação de riscos para os casos de contaminação alimentar por agentes biológicos, químicos e radiológicos. Os investimentos são de dois milhões de euros.
Por Alexandre Gonzaga
Assessoria de Comunicação Social (Ascom)
Ministério da Defesa
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