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24/07/2012 - DEFESA - Estudantes do Projeto Rondon conhecem extremos da realidade brasileira
Estudantes do Projeto Rondon conhecem extremos da realidade brasileira
A bordo de um navio da Marinha por 14 dias, rondonistas falam da experiência de participar de um trabalho assistencial que os deixou mais conscientes
Brasília, 24/07/2012
– Há pouco mais de duas semanas, 19 estudantes e um professor participantes do Projeto Rondon, vindos de universidades e regiões diferentes, embarcaram no Navio-Auxiliar Pará, em Belém (PA), com o objetivo de participar de uma ação cívico-social (Aciso) realizada pela Marinha do Brasil.
Os pioneiros rondonistas tinham muitas milhas náuticas para navegar e três desafios para transpor. Em pouco tempo, precisavam transformar esse grupo de pessoas, que até então só se conheciam virtualmente, em uma equipe. Tinham também de fazer com que o grupo tivesse sucesso na aprendizagem, além de se unir ao trabalho da Marinha para cuidar e trocar saberes com as populações atendidas.
O desafio quanto à afinidade entre os estudantes não custou a ser vencidos. “Foi uma relação que se consolidou de uma maneira muito rápida e intensa. Muitos encontros durante o dia, fazendo tudo juntos. Isso nos fortaleceu muito”, conta Amanda Reinstein, estudante de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
Foram 14 dias navegando 435 milhas náuticas (ou 805 km), entre o Rio Pará e a Região dos Estreitos, para atender pacientes em Vila Canaã, Antônio Lemos, Perpétuo Socorro, Breves, São Sebastião da Boa Vista, Jararaca e Ponta Negra. Muitas vivências intensas depois, a união contribuiu para que aprendessem sobre o saber humano e integrassem os cursos de Medicina, Odontologia, Farmácia, Nutrição e Biomedicina para não focar somente em seus conhecimentos específicos, mas se tornarem “Saúde”.
Após a embarcação atracar nas proximidades dos municípios e comunidades, os rondonistas faziam visitas aos moradores para divulgar o atendimento da Aciso. Oficiais da Marinha distribuíam senhas para atendimento pela manhã e tarde, além de providenciar o transporte em embarcações menores até o Navio Pará.
Depois do primeiro contato com os moradores em casa, a triagem e a orientação na parte de baixo do navio, em uma espécie de sala de espera organizada no porão de cargas, as oficinas buscavam suprir a carência de informações que poderia evitar muitos problemas de saúde.
O estudante de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa Lucas Cappelletti surpreendeu-se com as histórias conhecidas a cada dia durante a missão. “Não imaginava que seria algo tão diferente e intenso. As dificuldades imensas que essas pessoas têm de acesso à saúde e a saneamento básico, e mesmo assim, muita superação”.
Um dos problemas identificados foi a estreita relação que os ribeirinhos têm com os rios, que poderia ser saudável, não fosse a contaminação por esgoto e outros detritos. “Grande parte dos atendimentos aqui [em São Sebastião da Boa Vista] foram por conta das parasitoses. Temos que trabalhar essa parte do meio ambiente, da água contaminada, do tratamento que eles têm que fazer”, relata a estudante Patrícia Schorr, que cursa Ciências Biológicas na Faculdade Jangada (SC).
Os rondonistas acompanharam a atuação de profissionais da Marinha nos atendimentos em três consultórios médicos, dois odontológicos e um de enfermaria. Ao longo dos trabalhos, eles tiveram a oportunidade de ver de perto realidades de extrema necessidade de informações e um acompanhamento médico nas pessoas que vivem na Ilha do Marajó: “O que podia ser melhor é a saúde. Tem a dificuldade de vir para a cidade, é difícil o atendimento no interior”, diz a pescadora que mora em uma região próxima a São Sebastião da Boa Vista, Elisângela Oliveira.
A equipe comandada pelo professor Denis Dockhorn, da PUC-RS, parece ter-se adaptado bem à vida de navegante. A estadia nos 25 camarotes com banheiro (quatro camas nos femininos e duas nos masculinos), as refeições nas Cobertas de Rancho, as reuniões diárias na sala de aula para análise do trabalho no dia e as sessões de cinema e jogos eletrônicos nas noites de descanso na Praça D’armas ajudaram a formar, na prática, futuros profissionais de saúde mais conscientes de seu papel social nos extremos da realidade brasileira.
Como é recorrente nas operações do Rondon, o choque cultural leva os estudantes a refletirem sobre a aplicação do que aprendem na academia. É o caso da estudante de Serviço Social da Faculdade Projeção (DF) Antônia de Aragão, que se deparou com casos de falta de informação sobre direitos e políticas públicas. “Várias coisas me marcaram. O patriarcado é forte, a mulher se torna um objeto, não tem perspectiva. Muitas pessoas têm o perfil de receber assistência, mas não sabem disso”, analisa.
“A gente às vezes se prende a coisas tão pequenas, acha que tem problemas e que nossa vida é difícil. Mas não conhecemos nada sobre o que é dificuldade de verdade. Saímos daqui diferentes”, acredita Lucas.
Fotos: Thiago Sabino
Assessoria de Comunicação Social (Ascom)
Ministério da Defesa
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