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Realizada em Alto Paraíso (RO), rondonistas orientaram educadores, psicólogos e assistentes sociais. Segundo a Polícia Civil, violência contra mulheres e crianças é a denúncia mais recorrente no município
“Escuta Protegida” é tema de oficina do Projeto Rondon que orienta profissionais a agir em casos de abuso infantil
Com cerca de 30 participantes, a oficina contou com rodas de conversas e atividades práticas – Foto por Pedro Guerrazzi
Com o objetivo de compartilhar experiências e métodos para identificar indícios de violência contra crianças, a equipe da Operação Sentinelas Avançadas II, do Projeto Rondon, promoveu o minicurso “Escuta Protegida”, realizado em Alto Paraíso, município distante cerca de 200 km da capital Porto Velho.
A oficina ocorreu nesta terça-feira (23), no auditório da Prefeitura Municipal, e contou com a participação de cerca de 30 profissionais, entre assistentes sociais, educadores e psicólogos. O nome da oficina remete a uma metodologia em que os depoimentos de crianças e adolescentes vítimas de violência são colhidos por uma equipe capacitada, evitando contato com o agressor e a repetição dos relatos. Especialistas apontam que a cada vez que a vítima relata a violência sofrida é como se a revivesse, por isso a importância de minimizar a extensão dos depoimentos e os riscos da revitimização.
“Esse tema foi uma das principais demandas da prefeitura. Eles relataram que os casos de violência são recorrentes e o orçamento não é suficiente para promover cursos periódicos de capacitação”, diz Olívia Teotônio, professora da UNILUS/SP (Universidade Centro Universitário Lusíada), de Santos-SP, que compõe o Conjunto A dos rondonistas sediados no município.
A troca de conhecimentos sobre a Escuta Protegida entre os rondonistas e os participantes se deu por meio de apresentação de slides, palestra, realização de jogos e muita conversa. Os universitários ensinaram as técnicas mais atuais para identificar indícios de abuso infantil, como mudanças de comportamento das crianças, e também meios menos invasivos para obter o relato das vítimas, com o uso de desenhos.
Em contrapartida, os profissionais que lidam com esses casos na prática relataram as principais dificuldades que enfrentam, como ameaças que podem vir a receber dos agressores e não terem eles próprios como conseguir ajuda a tempo. Por outro lado, sinalizaram que o tema já é muito discutido na cidade. “Ressalto que, nesse aspecto, como orientadores sociais, mantemos nossa atenção voltada também para as crianças especiais”, destacou Liliana Alves, da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) do município.
Para Alef Ribeiro, agente local da Polícia Civil, a denúncia de abusos é um desafio devido à natureza da violência e às características de Alto Paraíso. "É uma cidade que não enfrenta muitos problemas de roubo ou insegurança nas ruas; a violência ocorre mais dentro das casas. E todo mundo se conhece por aqui, o que, por um lado, é bom, mas, por outro, promove a impunidade", afirma.
Capacitação para profissionais da saúde
Os rondonistas sediados em Alto Paraíso também realizaram um encontro com profissionais da saúde na Escola Estadual Laurindo Rabelo, para uma oficina de Primeiros Socorros. "O município possui apenas duas ambulâncias, e a maioria da população vive em áreas rurais. Em algumas situações, as primeiras ações são cruciais", explica a professora Olívia, para a escolha desse tema.
"Nosso último treinamento de primeiros socorros foi há oito anos. O Projeto Rondon nos trouxe técnicas mais atualizadas, coisas que não sabíamos até então. Achei a oficina muito produtiva", afirma Marcilei Gomes (50), agente comunitária de saúde.
Além da atualização em Primeiros Socorros, a oficina também gerou momentos especiais vividos pelos participantes. Foi o caso da enfermeira Eide de Oliveira (41), que trabalha no Hospital de Alto Paraíso e lembrou de momentos especiais para sua formação: como rondonista em 2019, no município de Vale do Anari, pela Faar (Faculdades Associadas de Ariquemes), muito do que ela aprendeu naquela oportunidade pode ser agora revivido. “Naquela época, senti medo de passar dias fora de casa, num lugar que eu não conhecia, ter de falar ao público, mas cheguei e fomos abraçados pelo projeto. Até hoje eu uso o que aprendi. Também mantenho contato com o pessoal de lá”.
O rondonista Thiago de Sousa Freitas, aluno de Medicina da UNILUS/SP, ressaltou a surpresa positiva da cena que presenciou na oficina, algo que vê como um exemplo do que o Projeto Rondon costuma causar nas pessoas. “Tivemos o relato de um médico que salvou uma criança de um engasgamento e na plateia, por coincidência, estava uma parente da criança. Eles se abraçaram, ela chorou, foi um momento bonito de se ver. As pessoas trazem sentimentos e as experiências delas para as palestras”, frisou.
A Operação Sentinelas Avançadas II apresenta dois grandes conjuntos de ações. Além do Conjunto A, que engloba atividades nas áreas de Cultura, Direitos Humanos e Justiça, Educação e Saúde, representado em Alto Paraíso pela UNILUS/SP; também a UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), do campus Francisco Beltrão, esteve presente no município, compondo o Conjunto B, com desenvolvimento de várias ações nas áreas de Comunicação, Meio Ambiente, Tecnologia e Produção e Trabalho.
Projeto Rondon
Com mais de 57 anos de história, o Projeto Rondon é uma ação interministerial de cunho estratégico do Governo Federal, coordenada pelo Ministério da Defesa, destinada a contribuir com o desenvolvimento da cidadania entre os estudantes universitários e comunidades do país. Ao empregar soluções sustentáveis para a inclusão social e a redução de desigualdades regionais, o projeto estimula importantes trocas visando ao fortalecimento da Soberania Nacional.
A ação conta com a parceria dos Governos Federal, Estadual de Rondônia, dos municípios selecionados e das Forças Armadas, nesta oportunidade, representadas pelo Comando da 17ª Brigada de Infantaria de Selva e 5° Batalhão de Engenharia de Construção – 5°BEC, Organizações Militares do Exército Brasileiro que proveem o Apoio Logístico à operação. Participam também professores e estudantes universitários de 24 Instituições de Ensino Superior (IES), somando 252 pessoas.
Em julho deste ano, a Operação Sentinelas Avançadas II promove oficinas com temáticas de cultura, meio ambiente, saúde, justiça e direitos humanos, comunicação, tecnologia, trabalho e educação em 12 cidades do estado de Rondônia: Cujubim, Mirante da Serra, Nova União, Vale do Anari, Alto Paraíso, Espigão d’Oeste, Machadinho d’Oeste, Cacaulândia, Ministro Andreazza, Theobroma, Governador Jorge Teixeira e Rio Crespo. Para saber mais, acesse as redes sociais do Projeto Rondon e do Ministério da Defesa.
Felipe Bramucci, Jornalismo - Universidade Federal de Santa Catarina