Notícias
Rondonistas capacitam comunidade para melhora do saneamento básico do município. Em Rondônia, apenas 13,6% dos domicílios possuem acesso a esgotamento sanitário
Projeto Rondon instala fossa séptica em Theobroma
Os universitários do Projeto Rondon realizaram a instalação de uma fossa séptica no município de Theobroma (RO), a 312 km de Porto Velho, nesta quarta-feira (17). A iniciativa faz parte da Operação Sentinelas Avançadas II, que passa pelo estado de Rondônia neste mês.
A oficina “Saneamento básico – fossa séptica ecológica” foi desenvolvida pelos alunos da Universidade de Santa Cecília - SP (Unisanta), que integram o Conjunto B da operação, voltado à promoção de ações em comunicação, meio ambiente, tecnologia, produção e trabalho.
De acordo com o professor Daniel Siqueroli, coordenador do Conjunto B, sempre que a universidade participa do projeto, é feita uma proposta direcionada ao saneamento básico. Em Theobroma, a construção da fossa séptica em uma residência atende uma demanda do município, alinhada entre a prefeitura e o conjunto, seguindo as recomendações da Empresa Brasileira de Pesquisas Agrícolas (Embrapa).
O projeto da fossa busca reutilizar materiais recicláveis, como pneus de caminhões. “A proposta é da construção de uma fossa praticamente de custo zero, porque a estrutura dela é feita com material reciclável”, afirma Siqueroli.
O professor reforça que o intuito do projeto é que, a partir desta fossa séptica, outras sejam replicadas por moradores. “Sempre tentamos construir pelo menos uma fossa séptica modelo no município, para que outros moradores possam se capacitar na construção e fazer em suas residências”, diz.
Acesso à rede de água e saneamento básico em Rondônia
“Como vários municípios de Rondônia, não temos uma rede de tratamento de esgoto adequada. Não temos um serviço na área de saneamento, de estrutura urbana. Então, [o projeto] é uma ideia muito inovadora”, afirma o prefeito de Theobroma, Gilliard Gomes.
Segundo dados do Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre todas as regiões do Brasil, o Norte tem o menor acesso à rede de distribuição de água. Apenas 55,7% dos domicílios estão interligados à rede. No país, a média chega a 82,9%.
O professor Siqueroli explica que, na maioria das residências do município, o esgoto é liberado a céu aberto e, em alguns casos, são utilizadas fossas rudimentares, cavadas sem nenhum tipo de isolamento e revestimento. O uso irregular desse tipo de fossa causa a contaminação do solo e dos lençóis freáticos, impossibilitando o uso de água de poços próximos e comprometendo a qualidade de vida da população.
Ainda segundo o Censo, o Norte é a região que mais utiliza poços rasos, freáticos ou cacimbas para a distribuição de água nos domicílios percentualmente, com 11,9%. Em Rondônia, somente 13,6% das residências possuem acesso a esgotamento sanitário ligado à rede geral, rede pluvial ou fossa séptica ligada à rede.
Em contrapartida, o estado é o que mais utiliza fossas rudimentares ou buracos como forma de esgotamento sanitário. Conforme os dados, 326 mil domicílios utilizam esse tipo de destinação de esgoto, somando quase 926 mil pessoas, equivalente a 58,9% da população de Rondônia.
O uso em massa das fossas rudimentares no estado está diretamente ligado ao alto índice de internação e mortes por diarreia na região, ressalta Siqueroli. “Conseguimos perceber, pelos dados da saúde, municípios com índices muito altos de mortes por diarreia”, relata.
De acordo com dados da pesquisa “Hospitalização e taxas de mortalidade por diarreia no Brasil: 2000 e 2015”, da Universidade de Passo Fundo (UPF) e da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), Rondônia possui o maior índice de internação por diarreia a cada 100 mil habitantes do Brasil.
Com base no DataSUS, o estudo revela que, a cada 100 mil habitantes, 297,09 são internados em decorrência de diarreias no estado. Número 2,64 vezes maior que a média brasileira, de 112,22.
O prefeito Gilliard Gomes afirma que, dada a necessidade de ampliação do esgotamento sanitário no município, visa dar continuidade ao projeto desenvolvido na operação.
Outras atividades desta quarta-feira
Além da instalação da fossa séptica, os universitários do Projeto Rondon realizaram oficinas de capacitação em suporte básico de vida para agentes de saúde, cozinha sustentável, ensino sobre o corpo humano para crianças, produção e difusão de material informativo.
“Na hora que a gente se atualiza, podemos realizar um atendimento bem melhor”, afirma a enfermeira Welma Karina, que participou da oficina de capacitação em suporte básico de vida para agentes de saúde, promovida pelos estudantes da Faculdade de Excelência de Itabuna - BA (Unex), na Escola Primavera.
Enfermeira há 23 anos, Welma explica que a atividade foi uma oportunidade para atualizar e compartilhar conhecimentos entre a comunidade e os rondonistas. “[Foi] Muito interessante. Novos conhecimentos e novas atualizações para a gente que já está no serviço há muito tempo”, diz.
Simultaneamente, na escola, os universitários da Unex realizaram uma atividade sobre cozinha sustentável para merendeiras e cozinheiras e, no Centro de Convivência de Idosos, uma oficina didática sobre o corpo humano para o público infantil. A Unex integra o Conjunto A da operação, que desenvolve atividades nas áreas de cultura, direitos humanos, justiça, educação e saúde.
Pelo Conjunto B, os estudantes da Universidade Santa Cecília - SP (Unisanta) também promoveram as oficinas “Registro de eventos da comunidade através de som e imagem” e “Produção e difusão de material informativo”.
Segundo o prefeito Gilliard Gomes, a vinda do Projeto Rondon ao município proporcionou benefícios à comunidade. “Vejo o Projeto Rondon trazendo, de forma muito abrangente, conhecimento diverso para toda a sociedade do município, que às vezes tem dificuldade no acesso a entretenimento, cultura e conhecimento específico de algumas áreas”, relata.
Projeto Rondon
Com mais de 57 anos de história, o Projeto Rondon é uma ação interministerial de cunho estratégico do Governo Federal, coordenada pelo Ministério da Defesa, destinada a contribuir com o desenvolvimento da cidadania entre os estudantes universitários e comunidades do país. Ao empregar soluções sustentáveis para a inclusão social e a redução de desigualdades regionais, o projeto estimula importantes trocas visando ao fortalecimento da Soberania Nacional.
A ação conta com a parceria dos Governos Federal, Estadual de Rondônia, dos municípios selecionados e das Forças Armadas, nesta oportunidade, representadas pelo Comando da 17ª Brigada de Infantaria de Selva e 5° Batalhão de Engenharia de Construção – 5°BEC, Organizações Militares do Exército Brasileiro que provêem Apoio Logístico à operação. Participam também professores e estudantes universitários de 24 Instituições de Ensino Superior (IES), somando 252 pessoas.
Em julho deste ano, a Operação Sentinelas Avançadas II promove oficinas com temáticas de cultura, meio ambiente, saúde, justiça e direitos humanos, comunicação, tecnologia, trabalho e educação em 12 cidades do estado de Rondônia: Cujubim, Mirante da Serra, Nova União, Vale do Anari, Alto Paraíso, Espigão d’Oeste, Machadinho d’Oeste, Cacaulândia, Ministro Andreazza, Theobroma, Governador Jorge Teixeira e Rio Crespo. Para saber mais, acesse as redes sociais do Projeto Rondon e do Ministério da Defesa.
Texto por Vinícius Graton - Jornalismo, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)