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AVANÇOS DIGITAIS
CVM desenvolve ferramentas baseadas em novas tecnologias para modernizar e alavancar supervisão de casos de insider trading e oscilação atípica em fundos de investimento
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) desenvolveu duas ferramentas para otimizar e trazer mais precisão na avaliação de processos pela Autarquia: Insiders e Outliers. Os trabalhos foram desenvolvidos pela Gerência de Inteligência em Supervisão de Riscos Estratégicos (GRID), da Superintendência de Supervisão de Riscos Estratégicos (SSR).
“O objetivo é usar a inteligência de dados para detectar e analisar padrões de negociação que passariam despercebidos por ferramentas que dependem de excessivas interações manuais. Estamos há dois anos atuando nesse projeto e tivemos avanços significativos nesses últimos meses”.
Jorge Casara, Gerente de inteligência em supervisão de riscos estratégicos (GRID/SSR)
Este trabalho está alinhado à Agenda de 100 Dias da CVM, concebida para promover conquistas rápidas à Autarquia, nos primeiros 100 dias da gestão de João Pedro Nascimento, Presidente da CVM desde 18/7/2022.
Saiba mais sobre os projetos
1. Insiders
Realizado em conjunto com a Superintendência de Relações com o Mercado e Intermediários (SMI), o projeto tem o objetivo de auxiliar no processo de identificação, triagem e investigação de casos de insider trading.
“A SMI já realiza suas atividades de supervisão com filtros focados em identificar insiders primários, que envolvem diretores ou administradores de empresas. A nova ferramenta amplia o alcance dessa atividade, uma vez que passa a identificar parentes dessas pessoas, que seriam insiders secundários”, explicou Guilherme Tadiello, servidor da GRID que atuou no desenvolvimento da ferramenta.
Segundo Tadiello, o Acordo de Cooperação Técnica entre a CVM e o Tribunal de Contas da União (TCU), que promove o intercâmbio de conhecimentos, informações e bases de dados entre os órgãos, foi fundamental para o sucesso do projeto. “Integramos o programa com o LABContas, sistema de armazenamento de dados da Administração Pública, para identificar quando o parente de 1º grau de determinado insider está envolvido em alguma operação próxima a fato relevante ou divulgação de resultados. Quando isso ocorre, é apontado no filtro de detecção e passado para área fazer a triagem e a investigação. Mensalmente, são analisados até 500 mil correspondências que podem sugerir insider trading”, destacou o servidor.
A ferramenta também aponta comunicados ao mercado divulgados pela companhia no período analisado, assim como cotações do ativo e métricas de negociação do investidor.
“O processo de análise inicial passou a ser mais dinâmico. A automatização dessa atividade e a integração com a base de dados do TCU eliminaram um ponto cego na supervisão de insider da CVM: o de operações realizadas por partes relacionadas a insiders das companhias. Além disso, o programa otimizou e aumentou a efetividade do trabalho dos analistas da SMI na triagem e seleção de casos a serem investigados. Uma análise que poderia levar horas, agora pode ser feita em poucos minutos”.
Guilherme Tadiello, servidor da GRID/SSR
O Gerente de acompanhamento de mercado 1 (GMA-1) da CVM, Marco Antônio Papera, utiliza a ferramenta e destacou que a detecção de operações potencialmente suspeitas tem sido produtiva. “Temos atingido resultados importantes quanto à qualidade das análises iniciais e isso tem contribuído para o aprimoramento da supervisão de mercado desenvolvida pela área. A avaliação é feita de forma mais completa”, destacou.
2. Outliers
Desenvolvido em parceria com a Superintendência de Relação com Investidores Institucionais (SIN), o projeto consiste na coleta de dados históricos dos fundos de investimentos e classificação do rendimento das cotas dos fundos, agrupados por classes ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
A ferramenta foi criada pelas servidoras da GRID Maria Lúcia Macieira de Mello e Adriana Santos Ribeiro, após a SIN apontar a necessidade de detectar fundos de investimentos com variações atípicas no rendimento e volatilidade de suas cotas. Com esse projeto, planilhas Excel e análises manuais foram substituídas por técnicas de busca, armazenamento e processamentos de dados, bem como dashboards em Power BI.
“A SIN não possuía meio automatizado para detectar valores anômalos nos reportes recebidos dos regulados e que pudesse caracterizar erro informacional, desenquadramento ou outra anomalia. Com a ferramenta, uma vez identificado valores discrepantes nas rentabilidades em determinada mostra de fundos, os mesmos são classificados como ‘outliers’, ou seja, dados drasticamente diferentes de todos os outros, os chamados ‘pontos fora da curva’”, explicou Jorge Casara.
Para Daniel Maeda, Superintendente da SIN, a utilização do programa permite apurar erros informacionais com maior nível de consistência dos dados enviados. Em casos extremos, possibilita identificar práticas inadequadas por parte de administradores e gestores de fundos.
“O projeto Outliers assegura um nível de consistência informacional que sempre deve ser perseguida pelo regulador, até mesmo para garantir a assertividade de todas as demais ferramentas de supervisão usadas tanto pela CVM quanto pela ANBIMA nos temas objeto de convênio mútuo. A percepção de uma supervisão intensiva e presente aumenta o nível geral de conformidade dos fundos e estimula a adoção de melhores práticas nos participantes de mercado, de forma a evitar que sejam constantemente questionados pela CVM.”
Daniel Maeda, Superintendente de Relação com Investidores Institucionais
“Tenho certeza de que esses dois projetos trarão grandes benefícios e progressos para a CVM. Com o uso da tecnologia na automatização de análise de dados, conseguiremos avançar em uma das atuações estratégicas essenciais para a base da CVM, a supervisão. Por isso, tais projetos foram desenvolvidos e executados no âmbito de nossa Agenda de 100 Dias, uma vez que representam iniciativas que promoverão aprimoramentos e fortalecimento do papel fiscalizador do regulador, demonstrando para a sociedade o comprometimento da CVM com o desenvolvimento íntegro do mercado de capitais brasileiro.”
João Pedro Nascimento, Presidente da CVM.