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Cultura Popular
Ministério da Cultura marca presença no XVI Encontro Mestres do Mundo no Cariri (CE)
Foto: Deivyson Teixeira
Em sua 16ª edição, o Encontro Mestres do Mundo celebra os saberes e fazeres dos guardiões e guardiãs da cultura do Ceará, no Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo. O evento, iniciado na quinta-feira (5) e que segue até sábado (7), também é palco do Simpósio do Patrimônio Imaterial, organizado em parceria como Ministério da Cultura (MinC), com o tema "O lugar das culturas tradicionais e populares e da cultura viva nas políticas públicas". Trata-se de um momento de celebração, mas também de diálogo e troca de conhecimentos sobre a salvaguarda dos saberes e ofícios dos mestres e mestras do Brasil.
O evento conta com a participação da secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, Márcia Rollemberg, e do secretário de Formação, Livro e Leitura, Fabiano Piúba, entre outros representantes do MinC, que contribuem com apresentações das políticas desenvolvidas em âmbito nacional na área da cultura.
Nesta sexta-feira (6), uma das ações destacadas foi o Acordo de Cooperação Técnica assinado, no último dia 4 de dezembro, entre os ministérios da Cultura e da Educação. A parceria prevê, entre outras medidas, a inserção de saberes tradicionais dos mestres e mestras nas escolas e a implementação de Planos de Cultura nas universidades federais, temas centrais na mesa "Notório Saber: Construindo e implementando a política".
“O painel nos faz pensar um pouco na história. As estruturas do Estado brasileiro vieram da Europa para servir uma visão de poder e o campo da educação é um aparelho do Estado. Quando a gente pensa em ter um mestre dentro das universidades, é fazer uma grande revolução de inverter e de falar: temos esse outro lado, que também tem saberes. Aprofundar essa relação e esse reconhecimento é, antes de tudo, um processo de ampliar, de fazer rachaduras, de penetrar águas, de oxigenar essas estruturas historicamente eurocêntricas, racistas. É um momento de mostrar uma busca de maior equidade de participação na sociedade”, reforçou Márcia Rollemberg.
Em relação ao reconhecimento dado aos detentores dos saberes tradicionais por algumas universidades, Fabiano Piúba defendeu o notório saber como uma via de mão dupla que beneficia tanto as intuições de ensino quanto a cultura popular. “É muito mais do que uma espécie de conquista de um diploma de certificação. É a Universidade que passa a ter um raio de relação mais horizontal com esses saberes e fazeres. A gente não pode achar que é um favor ou uma conquista apenas de uma banda. É uma relação muito dialógica”.
Explicou ainda que um dos objetivos da parceria do MinC e do Ministério da Educação é ampliar o acesso da população geral aos saberes tradicionais. “Esses senhores e senhoras são bibliotecas vivas, orgânicas. Então, essa compreensão de um notório saber não é para estar castelado na universidade, como um diploma, certificação ou titulação. É de fazer com que esses saberes e fazeres possam girar nas universidades, nas comunidades, nas escolas e nos próprios espaços dos mestres da cultura. Então, a gente está nesse processo de desenho para girar esses saberes nos mais diversos territórios do Brasil, porque isso implica no fortalecimento do Estado Democrático de direito, mas sobretudo da promoção da cidadania e da diversidade em nosso país”, acrescentou Piúba.
Alexandre Brasil, secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), falou sobre as expectativas com a execução da parceria entre as duas Pastas no próximo ano. “Eu acho que a gente tem uma perspectiva muito positiva daqui para frente, avançamos muito. A gente assinou essa semana o ACT (Acordo de Cooperação Técnica) entre o MEC e o MinC (Ministério da Cultura). A ideia é que a gente firme os passos, avance cada vez mais juntos, porque, de fato, isso é revolucionário. É só isso que muda a realidade objetiva que a gente está inserido”, afirmou.
Na sequência, aconteceu a mesa ‘A internacionalização das culturas tradicionais populares”, com a participação de Vinicius Gürtler da Rosa, coordenador-geral da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais do MinC. Ele explicou que um dos objetivos estratégicos do Ministério é reposicionar a cultura brasileira no exterior, com a definição de instrumentos e formas de fomento.
“A internacionalização é um caminho que a gente está trilhando para a área das culturas populares e tradicionais. O Brasil, de fato, é uma grande potência cultural, uma grande usina cultural em todos os sentidos. Para o mundo, ele tem um reconhecimento que é notório. Na Conferência Nacional de Cultura, no início desse ano, um dos eixos foi pensar a internacionalização e uma das questões que mais nos chamou atenção foi essa necessidade de uma boa interlocução com o Ministério das Relações Exteriores para que as nossas embaixadas no exterior tenham conhecimento dessas manifestações culturais”, detalhou.
Ao lado de mestres brasileiros, também participaram da mesa a Mestra Olinda Silvano Inuma, do Peru, e o Mestre Raúl Pérez Pineda, do México. Suas participações foram garantidas por meio do IberCultura Viva, programa de cooperação cultural que reúne 13 países da Iberoamérica e que está sendo presidido pelo Brasil. O programa foi citado no Encontro como um exemplo de internacionalização por abrir editais que oferecem aos artistas dos países membros possibilidades de intercâmbio cultural.
Política Nacional para as Culturas Tradicionais e Populares
No primeiro dia da programação, na quinta-feira (5), os debates foram divididos em três mesas, destacando a política Tesouros Vivos do Ceará, o Programa Kariri Criativo, o panorama atual e as políticas públicas para atender esse segmento cultural. Na ocasião, a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, Márcia Rollemberg, destacou as iniciativas da pasta na área.
“O campo da cultura popular e tradicional nos inspira a escutar a nossa ancestralidade, as nossas trajetórias e as histórias desse Brasil essencial, simples e que nos faz ser mais autênticos. Hoje, a gente vive o momento de fortalecer e descobrir esse Brasil, que por muito tempo foi deixado à margem”, avaliou Márcia Rollemberg.
A secretária reforçou que o tema é uma das prioridades do Ministério da Cultura, que tem como uma das principais ações a construção de Política Nacional para as Culturas Tradicionais e Populares. Um Grupo de Trabalho (GT) - formado por representantes do Sistema MinC, além de convidados de 15 ministérios, oito entidades culturais, sete pesquisadores e com ampla participação social - está produzindo os subsídios necessários à elaboração e implementação dessa política.
“É um desafio a construção desta política, mas não pretendemos fazer uma reinvenção de roda. Tivemos um acúmulo de conhecimentos no decorrer de todo o processo social e histórico. Então, vamos aproveitar todos esses diálogos e criar uma dialógica interessante com isso, talvez tratar de uma correção de rumos ou uma atualização deste debate, sem negar a sua fundamentação”, complementou Tião Soares, diretor de Promoção das Culturas Populares do MinC.
Outras ações
O dia 5 também foi destacada a Política Nacional de Cultura Viva (PNCV), que reconhece a produção cultural nas comunidades como importantes para a cultura nacional. Segundo a secretária, 70% dos sete mil Pontos e Pontões de Cultura certificados pelo MinC têm relação com as culturas tradicionais e populares. Sede do evento, o Ceará tem hoje 386 grupos reconhecidos como Pontos de Cultura, presentes em142 cidades.
Outros assuntos debatidos foram a proteção ao patrimônio intelectual e autoral das pessoas que vivem nas comunidades quilombolas e o reconhecimento desses locais como Pontos de Cultura, o trabalho do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a articulação com outras áreas, como Saúde, Educação, Trabalho e Assistência Social, para atender as demandas das mestras e mestres no Brasil.
Acompanhe os debates: