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CELEBRAÇÃO
Cerimônia oficial de retorno do manto Tupinambá reúne autoridades do governo e indígenas no Museu Nacional, no Rio de Janeiro
Foto: Leo Otero I MPI
Organizada pelo governo federal, a cerimônia oficial de retorno do manto Tupinambá ao Brasil será realizada nesta quinta-feira (12), às 17h, na área externa do Palácio de São Cristóvão, prédio sede do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro (RJ).
O evento contará com a presença do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva; da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara; o secretário executivo do Ministério da Educação, Leonardo Barchini; do secretário executivo do Ministério da Cultura, Márcio Tavares; do secretário de Promoção Comercial, Ciência, Tecnologia e Inovação e Cultura do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Laudemar Aguiar, e com a participação de uma comitiva Tupinambá de aproximadamente 170 pessoas que vieram de Olivença, Bahia, para se encontrar com o item sagrado.
“Estamos diante de um momento em que a história está sendo revista. Enxergo o retorno do manto como o início de um processo que tem tudo para instituir protocolos de acesso a inúmeras peças sagradas para nós, indígenas, tanto dentro como fora do Brasil”, avalia a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.
O manto permaneceu no Museu Nacional da Dinamarca por 335 anos e seu retorno ao Brasil é fruto da cooperação entre instituições dos dois países, incluindo o Ministério das Relações Exteriores (MRE), por meio da Embaixada do Brasil em Copenhague, assim como os respectivos Museus Nacionais e lideranças Tupinambá da Serra do Padeiro e de Olivença (BA).
Desde o dia 4 de julho, o manto está acondicionado no Museu Nacional pela equipe de restauração da instituição, que proporciona as condições ideais de clima, temperatura e luz para que o manto permaneça intacto para ser visitado por gerações futuras.
No contexto da reconstrução do Museu Nacional, o primeiro museu e instituição científica do país, o Manto Tupinambá se integra à recomposição das coleções, após o incêndio ocorrido em 2 de setembro de 2018. Desde então, junto a diversos parceiros, a instituição, que é um órgão ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, procura restaurar o prédio histórico para devolver exposições à sociedade, assim como dar continuidade às atividades de ensino, pesquisa e extensão.
Entidade ancestral
Conforme relata a cacica Jamopoty Tupinambá, a ignição para o processo de devolução do manto, visto como um ancestral direto dos Tupinambá, se deu a partir do evento de comemoração do redescobrimento do Brasil, no ano 2000. À época, a liderança indígena Nivalda Amotara reconheceu, entre diversos itens, a vestimenta como pertencente à cultura Tupinambá na exposição realizada no Parque Ibirapuera, em São Paulo.
“Entre mais de três mil peças, nosso manto sagrado a reconheceu. Nós viemos vê-lo e visitá-lo porque, após sua saída, nossa terra se enfraqueceu. Então, viemos trazer essa força de volta, com nossos jovens, guerreiros, mulheres e anciãos. A vontade de Amotara é que o manto voltasse ao Brasil e ele está aqui, ajudando a restaurar nossa história de pertencimento. O manto ficou esse tempo todo no exterior para nos reafirmar como povo”, disse Jamopoty, uma das filhas de Amotara.
Com cerca de cinco mil pessoas, os Tupinambá da Bahia foram reconhecidos como povo indígena pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em 2001.
Encontro com o manto sagrado
Os Tupinambá chegaram ao Museu Nacional no último sábado (07) e estão alojados perto do local que acondiciona o manto, na Biblioteca do Museu. Na última terça-feira (10), a comitiva teve o primeiro acesso ao manto após realizarem rezas e rituais. Na quarta-feira (11), foi a vez de um grupo de anciões Tupinambá ter seu tempo de conexão e de realização de rituais com o manto.
A vinda dos Tupinambá foi possibilitada devido a uma articulação e a um processo de escuta promovido pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI), que visitou Olivença e Serra do Padeiro, na Bahia, para dialogar com os indígenas e aproximá-los do Museu para que tivessem condições de realizar seus rituais e cumprir com seus costumes em relação à vestimenta sagrada.
A iniciativa do MPI obedece à Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, e exige que os povos indígenas sejam consultados em temas que os afetam.