A Revista Pihhy, semente em mehi jarka, língua falada pelo povo Mehi-Krahô, é vinculada ao “Programa Conexão Cultura e Pensamento”, da Secretaria de Formação, Livro e Leitura/SEFLI/MinC, e idealizada pela educadora, artista e liderança Naine Terena. Ela busca estimular a criação, a produção e a circulação de materiais de autoria indígena, baseados em conhecimentos plurais e ancestrais, assim como se faz em um pur, em uma roça tradicional mehi, onde sementes garantem o bem viver.
A Revista Pihhy tem como objetivo participar da formação das pessoas no país. Ela colabora com o sistema brasileiro de educação, alimentando processos de ensino e aprendizagem relacionados à Lei 11.645 e à Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Busca estimular a produção de conhecimento científico, despertando saberes fundamentais, pautados em distintas matrizes epistemológicas, e tenta fortalecer a democracia brasileira, semeando novas relações e dinâmicas sociais que garantam um país mais justo, plural e equilibrado.
O projeto disponibilizará materiais em português, bilíngues ou plurilingues, e em inglês, (traduzidos em parceria com o Centro de Estudos Latino-Americanos e Caribenhos, da Universidade de Califórnia, Berkeley), em edições mensais, de uma revista digital hospedada no Ministério da Cultura (MinC). Os materiais podem ser expressos por meio da escrita, em áudio ou audiovisual, valorizando a oralidade, e apontando as múltiplas possibilidades presentes em distintas linguagens de expressão, fortemente presentes em territórios originários.
A Revista Pihhy tratará de temas como educação, direitos, conhecimentos, política, ciência, artes dentre outros, por meio de alguns elementos: Já me transformei em Imagem; Mestres de Cultura; Cadernos Educativos; Literatura Indígena; A Palavra da Mulher é Sagrada; Vibrações, Sons e Corpos e Direitos Indígenas, os quais compõem sua proposta editorial.
Trata-se de um projeto inovador e de vanguarda porque promove a pesquisa, o registro e a sistematização desses saberes ancestrais que foram, no violento processo histórico e colonial, apagados, adormecidos ou invisibilizados no país. Ela traz à tona pensamentos plurais e diversos sobre temas fundamentais para o mundo contemporâneo, como a sustentabilidade, a relação com a natureza, a democracia e o bem viver.
Oportuniza, ainda, aos leitores e às leitoras interessados/as, vastos conhecimentos sobre os mundos indígenas e sobre modos diferentes de estar no mundo, deixando evidente a complexidade e o valor da pluralidade linguística e epistemológica existente no Brasil, e se colocando, desta forma, junto da histórica luta contra colonial dos povos originários, por um mundo mais sustentável, respeitoso e digno.
Alexandre Herbetta
Gilson Ipaxi Awiga Tapirapé
Núcleo Takinahaky de Formação Superior Indígena
Universidade Federal de Goiás
Janeiro de 2024
PIHHY - Espalha semente
A recriação de nosso Ministério da Cultura, no terceiro mandato do presidente Lula, tem significado a reconexão com importantes ações para além do destravamento de recursos para o setor cultural. Temos reivindicado nosso papel como possibilitador e fomentador do diálogo, da participação social e do debate.
Nesse sentido, a partir de iniciativas anteriores como o Programa Cultura e Pensamento lançamos o “Programa Conexão Cultura e Pensamento”, que tem parceria do Ministério da Cultura, por meio de nossa Secretaria de Formação, Livro e Leitura, com o Curso de Educação Intercultural, do Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior Indígena, da Universidade Federal de Goiás (UFG).
A partir de nosso Ministério da Cultura, temos procurado ativamente fortalecer espaços de reflexão, onde a sociedade, de forma democrática possa aprofundar a compreensão sobre o papel da cultura como promotora e divulgadora de todos os tipos de saberes e conhecimentos que compõem a cultura brasileira. Faz parte do nosso compromisso e atribuições, formular e implementar programas, ações e projetos que promovam a democratização do acesso aos processos de produção e de difusão de conhecimento e à formação em cultura e arte, nas mais diferentes linguagens a partir das mais diferentes concepções de ser e estar no mundo. A plataforma multimídia é uma primeira oportunidade de estimularmos a produção, criação e divulgação de conhecimentos plurais a partir de produções oriundas de diversos campos de atuação e autoria indígena.
A plataforma também enfatiza a importância dos saberes indígenas para a cultura, para o Brasil e para o mundo. Reforçamos nosso comprometimento com a valorização e difusão de conhecimentos, saberes, tecnologias e imaginários a partir da presença indígena na vida social brasileira: da Universidade ao chão da aldeia.
Sabemos que a cultura é um mecanismo essencial para transformar as relações sociais e proporcionar a preservação e manutenção de nossas memórias e ancestralidades, celebrar identidades e fortalecer as relações entre os diferentes grupos que compõe a sociedade brasileira, nas suas mais variadas dimensões (simbólica, cidadã e econômica).
Estamos certos de que o Ministério da Cultura tem muito a colaborar para a valorização da diversidade cultural e linguística existente no país, propondo políticas culturais que possam celebrar nossos conhecimentos ancestrais, incentivando o exercício da cidadania, o respeito à diversidade cultural e linguística e, sobretudo, promovendo a justiça social.
Que o “Programa Conexão Cultura e Pensamento” seja esse espaço fértil e catalisador de reflexões ancestrais, e uma celebração da potencialidade das diversas culturas indígenas, seus saberes, tecnologias e conhecimentos.
Margareth Menezes
Ministra da Cultura
Revista PYHHY: Sementário de saberes e de conexões
Vai, flor que se mata à espera do amanhã
Vai, desembaraça teu sorriso à uma irmã
Vai, que quando passas tu perfumas chão ardente
Vai que o tempo atrai de ti só semente
Vai que o tempo atrai de ti só semente
Vai, da terra entrai, mostrai beleza em sol candente
Não te desvanece, pois maltratas muito a gente
Perpetrai as rimas que só bem te traz
Inspirai poesia, proclamai a paz
Perpetrai as rimas que só bem te traz
Inspirai poesia, proclamai a paz
(Sementes – Di Melo)
O Ministério da Cultura (MinC) tem um papel importante no fomento à produção e na difusão do conhecimento. Não há políticas públicas sem os ambientes de reflexões críticas e inventivas para a qualificação de nossas políticas culturais.
O programa Conexão, Cultura e Pensamento foi buscar como referência o programa Cultura e Pensamento, que exerceu um papel vital em gestões anteriores do MinC na articulação de instituições e pesquisadores que estavam produzindo um pensamento crítico em torno dos temas da cultura naquele momento. A novidade que apresentamos aqui é trazer a percepção inscrita na palavra conexão. Para além da produção do conhecimento, a possibilidade de estabelecer conexões entre saberes, fazeres, epistemologias, territórios e povos distintos, gerando confluências e encontros na promoção do que se produz nas mais diversas áreas do conhecimento, no sentido de promover não só a diversidade cultural, mas também a diversidade do conhecimento, das ciências, dos saberes, dos fazeres, das percepções e das cosmovisões em torno do pensamento cultural.
Nessa vereda, a revista Pihhy compõe uma política do Ministério da Cultura, no âmbito da Secretaria de Formação Cultural, Livro e Leitura em parceria com o Núcleo Takinahaky da Universidade Federal de Goiás (UFG), voltada para promover a produção e difusão do conhecimento, da informação, da pesquisa, da memória e das artes, com ênfase nas manifestações estéticas indígenas, compreendendo as linguagens e línguas originárias como elementos substanciais nesta produção.
Trata-se, portanto, de um projeto estruturante mais amplo, incluindo a criação de uma plataforma que hospeda a própria revista digital como ambiente da difusão de pesquisas sobre arte e cultura oriundas dos povos indígenas disponibilizadas em meios, formatos e linguagens diversas; bem como a realização de cursos com mestres da cultura indígenas; a produção de cadernos educativos com orientações de uso em sala de aula; além da realização de seminários, minicursos presenciais e de vídeo-aulas que estarão disponíveis na plataforma, democratizando assim o conteúdo produzido como componente de referência e de inspiração para práticas pedagógicas na educação escolar indígena e para ambientes de criação e de formação artística, estética e cultural.
A Revista Pihhy é toda de autoria indígena, sendo um ambiente de fruição artística, de reflexão do pensamento e de produção do conhecimento, constituído pela diversidade cultural e territorial dos povos originários brasileiros em suas mais de 270 línguas indígenas. E estas diversas línguas estão escritas com seus vocabulários próprios e com suas sonoridades por entre essas páginas virtuais. Esta revista é, pois, um território de epistemologias e de cosmovisões composto pela produção acadêmica e tradicional de povos indígenas, compreendendo os lugares destes saberes e fazeres na nossa formação cultural e na produção do conhecimento no país, apresentando-se como um espaço fértil para que sementes possam ser plantadas, regadas e cultivadas como árvores sagradas do conhecimento, contribuindo para a difusão das culturas indígenas no Brasil.
Nesse sentido, a Revista Pihhy é a nossa primeira ação em torno do programa Conexão, Cultura e Pensamento. Nosso primeiro solo para plantar e cultivar essas sementes é a roça indígena no sentido de ararmos um pensamento mais “orgânico, diverso, circular e cosmológico”, como diria Nêgo Bispo, nesta parceria do MinC com a UFG e com os pensadores, escritores, artistas, cientistas e mestres indígenas. Portanto, não foi à toa a escolha do nome para a revista. A palavra “semente” tem um sentido mais abrangente e dita assim, na língua mehi jarka do povo Mehi-Krahô, ganha mais sentido e sentimento. Nesse terreno fértil, Pihhy não é uma só semente, ela é um “sementário” (essa palavra inventada), um banco de coleções de sementes da policultura do pensamento indígena brasileiro.
Mas semente também nos remete à ideia de resistência na lida com o solo e na luta pela terra. Para esta afirmação busco uma história de luta do povo Xukuru no agreste pernambucano. Estou falando do assassinato do cacique Xicão Xukuru em 1998, liderança indígena na luta pelos direitos territoriais de seu povo. Seu assassinato foi ressignificado como uma potência política e simbólica depois deste terrível assassinato. Conforme os Xukuru, Xicão não foi morto nem enterrado. Ele foi plantado. Virou semente e árvore. No livro “Plantaram Xicão: Os Xukuru do Ororubá e a criminalização do direito ao território” , encontramos um depoimento do vice-cacique Zé da Santa que diz: “Agora para o povo Xukuru, Xicão não é um morto. Não é uma pessoa enterrada... Xicão é um homem plantado! Ele nasce a cada instante, em cada liderança, em cada criança que nasce do povo Xukuru... Para nós Xicão é isso: é um pé de árvore que tá dando frutos... flores, sementes e mais frutos”. Desde então, quando um Xucuru vira encantado, o povo não mais enterra seus parentes, eles são plantados como sementes que brotam memórias, histórias e presenças que irão alimentar tanto as cosmovisões como a luta pelo direito sagrado ao território.
Semente precisa de chão, de solo, de terra, de território. A semente foi feita para germinar e brotar vidas. A Revista Pihhy está associada às ideias de criação, cultivo, colheita e aos ciclos da vida e do tempo. E tanto pode ser uma semente de Jatobá ou de Sumaúma, como pode ser uma semente de gente, de pessoa, pois tudo é natureza e cultura. Se a natureza faz o tempo, a cultura faz o cultivo, o saber-fazer-viver.
Ou seja, não podemos mais despregar a reflexão crítica dos ciclos vitais dos saberes e fazeres ancestrais da cultura e tampouco dos saberes da própria natureza. A nossa primeira roça é indígena, a segunda será quilombola como território do próximo projeto. Mas todas serão confluências e sementes, pois, como no poema-canção do Di Melo, o tempo atrai da gente só sementes para a gente perpetrar boas folhas, flores e frutos em nossos territórios. A Pihhy está lançada no solo fértil da produção do conhecimento e da diversidade cultural brasileira.
Fabiano dos Santos Piúba
Secretário de Formação Cultural, Livro e Leitura do Ministério da Cultura
Diga ao povo que avance! Avançaremos!
Composta por duas diretorias, a Secretaria de Formação, Livro e Leitura (SEFLI), tem como uma de suas competências atuar na elaboração de políticas voltadas para a formação no campo artístico-cultural, numa articulação entre as políticas de cultura e educação em parcerias com os entes federativos e instituições da sociedade civil. Essa atuação está ligada diretamente à Diretoria de Educação e Formação Artística (DIEFA).
Nesse sentido, a Diretoria a partir de sua equipe técnica tem atuado fortemente para estabelecer um diálogo entre Secretarias vinculadas para o fortalecimento do eixo formativo e educativo deste Ministério da Cultura. Mais do que isso, compreender as conexões entre os saberes, maneiras de fazer, ensinar e aprender, respeitando a noção de direito cultural a partir da perspectiva da possibilidade de criação, manutenção, ampliação de repertórios, memória coletiva, fluxo de saberes, como elementos essenciais para uma sociedade que promova a justiça social, sustentabilidade e equidade.
Precisamos pensar na educação e formação artística e cultural a partir das premissas do nosso tempo, sem que deixemos de lado os conhecimentos e memórias de outros tempos, para que tenhamos um presente e futuro que fortaleçam a dignidade da pessoa humana. Fortalecimento esse, que nos assegure o direito das práticas culturais e artísticas, mas também a capacidade técnica e inserção no mundo do trabalho daqueles que se enxergam neste lócus de atuação; que fortaleça a segurança econômica e social de mestres e profissionais da cultura.
Como um dos primeiros movimentos, desenhamos o Programa Conexão, Cultura e Pensamento, que deve abrigar uma série de iniciativas que contemplem sobretudo, a articulação dos saberes oriundos de diferentes fontes de conhecimento: da educação formal, de outras narrativas até então invisibilizadas.
A revista Pihhy é o primeiro momento desta construção e nasce do desejo de difundir os ricos saberes dos povos indígenas brasileiros. Porque para nós, arte, cultura, educação, saúde, bem viver, estão intrinsecamente conectados. O surgimento da semente Pihhy, se alinha a atribuição desta diretoria (DIEFA), que visa fomentar a elaboração e difusão de recomendações de ações e conteúdos que apoiem a educação sobre culturas locais, culturas do campo, inclusão social, acessibilidade e diversidade das manifestações artísticas e culturais.
É a partir da revista, uma plataforma multimídia, que cumprimos essa intenção: difundir a produção acadêmica dos pesquisadores e profissionais indígenas, ao mesmo tempo, em que se procura alcançar toda a riqueza que se cultiva nos fazimentos do chão das comunidades e residências indígenas. Seja em territórios urbanos, seja em territórios rurais. Essa é uma missão compartilhada com uma equipe curatorial composta pela comunidade educativa que compõe o Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior Indígena – NTFSI – UFG.
Que a revista Pihhy sirva de subsídio para a compreensão de um Brasil diverso. Que tais conteúdos nos façam avançar e preencham lacunas históricas.
Diga ao povo que avance. Avançaremos!
Naine Terena
Diretora de Educação e Formação Artística no Ministério da Cultura (MinC)