O NARIZ DO HOXUÁ
por Ismael Apracti Krahô
Festa dos legumes
Esta é a festa dos legumes, do futuro.
É o seguinte, o batata foi quem saiu. Os legumes estavam na roça. Batata, inhame, essas coisas, tudo que tem dentro da roça.
Parece até que tinham combinado.
O Batata falou que ia ver uma situação lá na aldeia, porque o mehi (indígena), dono da roça, não foi mais visitá-la. O Batata falou com os outros legumes. Falou assim:
– Vou fazer o seguinte, eu vou lá na aldeia. Ver como é que tá a aldeia. Quando eu voltar, a gente vai combinar como é que vamos fazer. Vamos virar isso. Não tá bom assim.
O chefe, que é o Batata, que é o chefe de todos, chefe dos legumes e frutas que tem dentro da roça, ele saiu para a aldeia.
Lá não viu mais ninguém, não viu mais rastro de ninguém. Ele andou de casa em casa procurando onde é que o dono da roça tinha ido.
– Será que ele se acabou ou não acabou?
Ele ficou ali pensando o que poderia fazer. Ele pensou:
– Não tá bom aqui, vou voltar. Quero falar com meu povo. Nós vamos voltar juntos para a aldeia e fazer essa arrumação que a gente tá pensando.
Quando ele saiu, foi pensando logo na arrumação que ele queria fazer.
Ele chegou lá na roça, ajuntou o inhame, ajuntou a banana, o que tinha na roça. Ajuntou tudo!
– É o seguinte, eu cheguei lá na aldeia e não vi mais gente. Eu não vi mais ninguém. Como é que nós vamos fazer? Vamos fazer nossa arrumação! Vamos fazer as cantorias, fazer aquele movimento do modo como fazemos essa festa.
Todo mundo, então, foi para a aldeia, com muita animação. Tudo que estava dentro da roça, banana, até a cana, também.
Começaram a fazer aquela arrumação.
– A abóbora foi. Ela é boa, né?
Foi nessa arrumação que eles fizeram essa cantoria.
Quando ia terminando, o rapaz dono da roça chegou da mudança de aldeia que eles fizeram. Ele viu aquele movimento danado de bom da cantoria.
– Como é que é essa cantoria da natureza?
O rapaz já estava chegando na aldeia, escutando aquele som. Ouvindo aquela cantoria danada de alegre.
- Quem é que tá fazendo essa arrumação?
– Somos nós, estamos aqui direto da roça, todo mundo. Viemos fazer a festa!, disse o Batata que convidou o dono da roça.
– Vamos chegando. Nós estamos fazendo essa arrumação. Para onde que vocês andaram?
O rapaz contou que haviam mudado de aldeia.
- Já fizemos novas casas.
- Então tá bom. Você chegou em cima da arrumação que a gente tá fazendo. Agora vai ser essa arrumação, com Tora de Batata. É o que nós estamos fazendo aqui. Você vai chegar lá na nova aldeia e contar que nós estamos fazendo esta arrumação.
Ele começou a cantar!
Quando terminou, ele achou bom demais, e pronto.
– Tá bom. Pois então eu chego lá, e vou contar o que você me ensinou. Eu estou gravando tudo.
– É a festa da Tora de Batata.
- Corta madeira, prepara tudo bem cedinho, bem cedinho.
Vocês vão correr com a tora. Quando chega no meio do pátio, você joga a tora. Tem que correr, um garoto Wacmejé e outro garoto Katamjé.
O dono da roça registrou tudo. Chegou lá na nova aldeia, combinou com com seus povos, conversando.
– Eu encontrei nossos vizinhos fazendo essa festa. Eu cheguei bem na hora. Por isso eu tô contando para vocês. Nós vamos fazer também, porque eu gravei tudo. Eu vou fazer para vocês, e a rapaziada vai correr com tora bem cedo: 07h00.
Tem que carregar a tora. Vamos preparar paparuto para a gente tocar os casamentos novos. Os novinhos não têm clareza ainda da vida.
Ele mesmo começou a cantar!
A natureza começa dentro de casa, que é de onde sai a rainha das cantorias. Nessa hora o povo quer jogar a batata. Essa é a brincadeira!
Aparece a abóbora, o palhaço, o Hoxuá.
A abóbora é rajada e pintada.
A abóbora não fala. Ela ri muito.
E diz que não é bem para dizer que está rindo. Mas está rindo. Está alegre!
É assim…
O Hoxuá é uma abóbora viva!
Os legumes deixaram essa festa para nós. Nós estamos fazendo até os dias de hoje.
Tem a ver com animar, animar o povo, fazer o povo crescer mais bonito.
A festa é diferente entre os povos. Cada nação tem uma arrumação. Cada nação tem sua cantoria. É diferente.
A gente está com esta festa toda a vida!
O nariz do Hoxuá
Nariz, não tinha.Fui eu que inventei.
O palhaço indígena não vai conversar. Fica mudo.