A Revista Pihhy apresenta um novo conto da escritora Desana, Bete Morais, este que fará parte, também, do livro inspirado na obra da autora, SURI.
Não deixe de ler e aprender...
SUA PELE, SUA COR E A NATUREZA!
Eu tinha sete anos e estava deitada debaixo de um ingazeiro.
Caía uma chuva fina e lenta. Parecia que as gotas de chuva ficavam um tempo paradas no ar. Dentro de mim, amanhecia e anoitecia toda vez que uma gota de chuva tocava o meu rosto.
Eu estava na ilha dos meus sonhos, e não era fruto da minha imaginação; era minha casa, onde o meu corpo foi se desfazendo e se tornando parte de cada grão de areia.
Naquela manhã, enquanto eu refletia, um pássaro sobrevoou as árvores e pousou no galho do ingazeiro.
Era um pássaro azul brilhante. Fiquei fascinada por sua cor, que se confundia com o céu. Ao me levantar para ver melhor, ele voou para a beira do rio, e eu saí correndo atrás dele para ter certeza de que não era fruto da minha imaginação.
Quando cheguei à beira do rio, vi um pescador todo contente contando os insetos que ele tinha pegado para a pescaria. Fui chegando devagar e perguntei:
— Para que tantos insetos diferentes? E essas sementes de curidi?
Ele sentou-se na areia, na direção do rio, e disse:
— Cada inseto é para pescar um peixe diferente, e essas sementes de curidi são para pescar aracu.
— Eles morreram? — perguntei.
O pescador, todo animado, respondeu:
— Eles estão dançando!
— Logo em seguida, ele se levantou e disse:
— Põe os pés nessa pequena correnteza.
Caminhei e coloquei os dois pés na corrente, e então ele disse:
— Isso é vida, Clara!
Fiquei assustada. Ele sabia o meu nome! Depois suspirei e perguntei:
— Você viu o pássaro azul?
Ele respondeu:
— Não vi, mas pergunte para aquelas borboletas.
Olhei com estranheza, mas fiz o que ele pediu. Entrei no redemoinho das borboletas verdes e amarelas e perguntei:
— Vocês viram o pássaro azul?
Depois que perguntei, elas saíram voando até a copa de uma árvore e, então, se transformaram no pássaro azul! Eu dei um pulo de alegria e gritei:
— É ele!
— E, depois, olhei de volta para mostrar ao pescador, mas ele tinha desaparecido.
Olhei novamente para a copa da árvore, mas o pássaro também havia desaparecido. Suspirei e caminhei até o lugar onde o pescador estava sentado, e lá encontrei uma pena azul brilhante.
Autoria: Bete Morais