RETOMADA EPISTÊMICA
O projeto Retomada Epistêmica busca mostrar e gerar uma universidade mais indígena.
Ele é coordenado por intelectuais e artistas indígenas e não indígenas, como Edval Canela, Daniel Pastana Yudja Juruna, Higino Tsitomowe Paramei'wa, Rômulo Tsereru'õ, Delarin Tsereura Butaawe, Edmundo Wahuka Javaé, Samanta Javaé Maluadidi, Weretuma Karajá, Valdemar Tsibrui 're Tsoropre, no âmbito da Universidade Federal de Goiás.
“Este tema é muito significativo, traz uma reflexão crítica mais profunda para gente pensar na nossa realidade e, ao mesmo tempo, no espaço da universidade. Às vezes, não somos bem acolhidos pela própria instituição de ensino, mas pelo tema nós abrimos, nós gritamos para que o espaço seja mais aberto para todos, nós povos indígenas, quilombolas ribeirinhos, raizeiros, quebradeiras de babaçu, para que sejamos bem recebidos pela instituição. É cansativo, mas nós merecemos. Por meio do tema, aprendemos a potência da pintura” (Delarim Butaawe)
“Essa semana foi muito importante. Esse trabalho é uma coisa nova e espiritual. Pude pensar a importância das epistemologias indígenas. Podemos retomar a nossa universidade como verdadeiramente um território indígena” (Daniel Yudjá)
Nas últimas décadas observamos um aumento exponencial na entrada de estudantes indígenas no ensino superior, tanto em instituições particulares como em públicas, o que é muito positivo.
Trata-se de uma demanda histórica do movimento indígena no país e é fruto de muita luta.
Desde os anos 2000, pelo menos, a criação de cursos de educação intercultural, a política de cotas e um pequeno avanço nas políticas de inclusão promoveram a abertura de vagas.
As universidades seguem, entretanto, na maioria das vezes, baseadas na monocultura ocidental, em relação à língua hegemônica, gêneros de expressão e comportamentos.
O projeto nasceu da articulação entre alguns campos de saberes: os saberes ancestrais, a antropologia, o design, a arquitetura e as artes visuais. Partiu também de um entendimento de que a universidade deve estar comprometida com a luta social.
Ele possui interesse pelos processos criativos de criação de imagens-conhecimento, envolvidas nos saberes visuais, textuais, gestuais dos diversos professores e professoras indígenas que atuam no Núcleo Takinahaky, da Universidade Federal de Goiás.
A retomada epistêmica foi uma ação concreta de ocupação territorial, via transformação das paisagens acadêmicas, realizada em julho de 2019, a partir da inserção de imagens-conhecimento no espaço universitário.
Estas imagens potentes e territoriais foram compostas por artistas indígenas, buscando articular elementos cosmológicos locais e acadêmicos.
As imagens-conhecimento sobrepõem de maneira interessante elementos de uma cosmovisão indígena e elementos que representam o espaço acadêmico da mesma instituição.
As atividades se desenvolveram ao longo de uma semana. Buscou-se pensar, problematizar e produzir conhecimento sobre o território, entendido tanto em relação aos espaços originários, demarcados ou não, em contexto urbano ou rural, como ao espaço acadêmico, a própria universidade, entendida como um território determinante nas relações entre saberes, poderes e subjetivação no país.
Em seguida, buscou-se problematizar processos de violência epistêmica, presentes nos distintos espaços, vinculados ao processo de racismo epistêmico, central no estudo das colonialidades do ser, saber e poder.