INTERCULTURALIDADE E AUTONOMIA
Na entrevista para a Revista Pihhy, realizada durante o Acampamento Terra Livre (ATL), em abril de 2024, que contou com a participação dos parentes Gregório Huhte Krahô e José Cohxyj Krikati, Jonas Polino Gavião, grande liderança e professor indígena há décadas, compartilha um pouco de sua trajetória como liderança e representante indígena, sendo um dos primeiros do povo Gavião a estudar na cidade. Além disso, reflete sobre políticas interculturais e de autonomia.
Ele relata que para estudar caminhava três horas e meia para chegar à cidade e depois repetia o trajeto de volta para a sua aldeia. Durante sete anos, chegava em casa de madrugada, mas persistiu e concluiu seus estudos do ensino fundamental e médio.
Quando adulto, se envolveu em discussões sobre educação para os povos indígenas e contribuiu para a criação do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), cujo intuito é construir políticas em defesa dos povos indígenas. Instituições como o CTI frequentemente assumem papéis importantes para garantir que a formação e as aulas nas aldeias continuem.
Jonas foi aluno da primeira turma do Curso de Educação Intercultural, da Universidade Federal de Goiás (UFG), onde encontrou pessoas dedicadas à melhoria da educação, como a professora Maria do Socorro Pimentel.
Na época, o curso não tinha um prédio próprio. Então, Jonas e seus colegas ocupavam salas de outras graduações. A professora Maria do Socorro convidou Jonas, que era membro do conselho indígena, para dialogar com a Funai, a UFG e a Fundação Banco do Brasil, buscando apoio para criar um centro de formação para indígenas dentro da universidade.
Após negociações, as instituições cederam espaço para o local onde hoje é o Núcleo Takinahaky.
Ele foi precursor, igualmente, no Curso de Especialização em Educação Intercultural e Transdisciplinar: gestão pedagógica, coordenado pela professora Socorro e pelo professor Alexandre Herbetta, o entrevistador.
Atualmente, elaborou uma primeira versão de um novo Projeto Político Pedagógico (PPP) para as escolas Gavião. Nele, a matriz cultural e epistêmica indígena é a base dos processos de ensino e aprendizagem. A musicalidade, a língua materna, enquanto centros do processo, promoviam, então, práticas interculturais, se articulando a outros saberes, como os não indígenas.
Os estudos de Jonas não pararam. Após concluir seu curso superior, ele permanece estudando a língua portuguesa e reforça a complexidade do idioma. Além disso, busca compreender mais sobre política em âmbito nacional, estadual e municipal para conseguir ser mais efetivo em sua atuação na defesa dos povos indígenas. No momento, está finalizando seu mestrado.
Apesar do preconceito, racismo, intolerância e discriminação estarem presentes na esfera política, para Jonas, é indispensável mostrar as perspectivas indígenas frente aos mais diferentes temas, pois eles têm pontos de vista a serem considerados na tomada de decisões.
Jonas relembra as palavras de seu avô, que dizia que sua língua e cultura não são exóticas, mas sim parte intrínseca de seu contexto de vida, embora frequentemente incompreendidas pelos outros.
Ele destaca a importância da tradição oral na transmissão de histórias, ressaltando que, embora não estejam registradas por escrito, são consideradas verdadeiras e significativas para sua comunidade, e não lendas e mitos como são constantemente vistas pelos não indígenas.
No ambiente acadêmico, ele valoriza a oportunidade de registrar suas histórias tanto na língua indígena quanto em português, em um exercício da interculturalidade, que para ele é inevitável.
Jonas testemunhou muitas vezes outras pessoas falando em nome dos indígenas. Com o conhecimento da língua portuguesa e da antropologia, eles se capacitam para defender a si mesmos e para falar por conta própria.
A interculturalidade permite evidenciar a diversidade da cultura indígena, reconhecendo que cada povo possui seu próprio jeito de ser, língua e organização.
Por fim, Jonas parabeniza os estudantes indígenas de antropologia, José e Gregório, desejando-lhes sucesso em seus estudos e ressaltando a importância vital de sua formação para a comunidade indígena e para a sociedade em geral.