A história de Huka-huka
Huka-huka começou no tempo primordial quando os animais e os peixes viviam como seres humanos, no momento em que Sol/kwat, Lua/jay e Mavutsini eram donos do mudo.
Os três são criadores do nosso mundo, do povo Kamaiurá, e foram capazes de inventar nossa cultura de ancestralidade.
Certo dia, entretanto, chegou também a tristeza no mundo. As mães deles faleceram inesperadamente e todos sofreram com muita depressão.
Pensaram em fazer uma homenagem e realizaram o primeiro ritual do Kwarup (significado de festa de ritual do sol).
Naquele tempo isso foi algo experimental da ciência, e existe até nas gerações de hoje. Tratava-se de homenagear a mãe.
A homenagem deu certo, as regras do ritual foram corretas. E este conhecimento passou de geração em geração, tirando o luto das famílias que podiam voltar à vida normal na comunidade.
Ninguém aceitava a perda na família e sofria com depressão. Com o tempo, as pessoas acabavam com suas vidas. Por isso, Sol e Lua experimentaram uma maneira de lidar com o problema de ansiedade e depressão nas pessoas. Decidiram homenagear a mãe por meio de um ritual.
Depois do primeiro Kwarup, Sol disse para o irmão Lua, dessa forma nossos netos vão conseguir seguir a vida! Por isso, hoje a gente não morre mais de tanta saudade, porque Sol e Lua criaram regras para despedir de luto depois de um ano.
Assim, Sol e Lua pensaram em uma forma de existência aos povos do Xingu, para não prejudicar nós das gerações atuais.
Na festa ritual Kwarup, eles convidaram os peixes para finalizar a festa do Sol. Para isso eles disputavam a luta Huka-huka.
Os peixes eram os oponentes que confrontavam na luta corporal outros animais, como a onça, a anta, a jaguatirica.
Os peixes eram participantes, e não os donos da festa. Eles disputaram com os melhores lutadores, os animais mamíferos.
Os peixes lutaram muito bem e derrotaram todos os outros animais, até o momento em que os donos da festa ritual Kuarup, Sol e Lua, não ficaram satisfeitos com isso, com a derrota de seus campeões. Eles ficaram muito zangados!
O Sol pensou em lutar, ele mesmo, com os peixes, mas o dono da festa não podia lutar! Enquanto Sol estava lutando com os peixes, estes resolveram não usar toda sua força contra o dono da festa. Sol falava que não sentia a força do corpo dos lutadores-peixes. Ele disse:
Essas pessoas que estão derrotando os campeões são fracas.
Se os peixes demonstrassem realmente sua força, Sol e Lua, donos do mundo, poderiam fazer mal a todo mundo. Com medo, eles não estavam lutando para valer.
O único que se mostrava corajoso e bravo era a cobra Muzum, que via o Sol derrubando seus companheiros das lutas e discordava. Ela achava tudo muito engraçado e, ao mesmo tempo, queria lutar com toda sua força contra o dono do mundo.
O Sol finalmente chamou Muzum:
-Agora chegou sua vez. Vamos lutar!
Muzum derrotou Sol e jogou sua cabeça com força para baixo. O Sol apagou e desmaiou!
(As fotografias são do acervo pessoal do autor)
Dessa forma surgiu a luta Huka-huka tradicional, com o fim da luta entre a cobra Muzum e o Sol.
Após o fim da luta, a cobra Muzum se transformou e foi embora entrando no buraco.
Quando Muzum foi embora, o Sol acordou e a procurou para lutar novamente.
O povo avisou que ela já tinha ido embora, entrando no buraco.
-Ela não vai escapar de mim!
O Sol entrou no buraco e tentou pegar a cobra pelo braço, só conseguiu pegar na cauda de Muzum, que escorregou com o óleo de pequi que estava usando em seu corpo.
Assim, o Sol definiu regras da luta corporal
- Quem se cuida, quem cuida do corpo, vai se tornar grande lutador, quem não se cuida, nunca representará seu povo na luta Huka- huka tradicional.
A luta Huka- huka tradicional seguiu com o povo Kamaiurá e os outros povos do Alto Xingu, a partir da luta dos peixes com os mamíferos, depois com o Sol.
Naquele tempo existiam os grandes lutadores, campeões de seus povos. Quando o Sol definiu a regra da luta, somente algumas pessoas se tornam lutadoras.
Estas pessoas, conforme a regra do cuidado com o corpo, devem passar pelo processo de reclusão. Ficar três anos reclusos, tomando chá, purificando o corpo com erva nativa. E aproveitando o momento tão importante para passar arranhadeira com raiz no corpo, especialmente nos braços, como Trau'iyhwape, Jawara ywy, Pira ywunet, Ywepo kytã e Manaca.