Cantorias Timbira
O curador da Revista Pihhy, Júlio Kamer Apinajé, conversou com o grande cantor Apinajé, Zé Cabelo, e traduziu, a seguir, sua fala.
“Eu moro na aldeia Brejinho. Aprendi as cantorias, as nossas cantorias.
Foi na aldeia São José, no território Apinajé. Aos 12 anos, ainda não sabia cantar. Meus professores foram José Brasil e minha vó Maria Barbosa. Eles me ensinaram toda a musicalidade indígena mẽhĩ e panhĩ.
Eu aprendi, sendo cantor. Hoje já tenho 41 anos, no ano de 2024. Ainda continuo cantando as musicalidades panhĩ.
Minha mãe é Kamêrkamrô. O nome do meu pai é Krãre. Ele não está mais entre a gente. Minha mãe continua viva. Na ausência do meu pai, continuo cantando as musicalidades panhĩ. Eu aprendi as cantorias na aldeia São José e no Centro de Ensino e Pesquisa Pinxwỳj Hempejxà, na cidade de Carolina, Maranhão.
Aprendi tudo como cantor profissional. Com dez anos comecei a aprender. Com dois anos já estava aprendendo bem. As pessoas que me ensinaram a cantar são: minha avó Maria Barbosa e os cantores do povo Gavião, o ancião José Brasil e o José Damásio. Estes são os meus professores. O Wexa também me ensinou a cantar. E o José Ambrosio também.
Cantar é o sonho do meu sonho.
Foi meu sonho que me revelou que eu poderia ser o cantor do povo.
Considero que o ser supremo me passou essa habilidade de ser cantor, por meu sonho. Por isso tenho habilidades de cantoria. Tenho orgulho de ser o cantor com toda a sabedoria e pedagogia que potencializa o saber ancestral.
Expresso o conhecimento panhĩ através das cantorias. Música, para nós, é conhecimento, pedagogia e sustentabilidade. Me sinto feliz com isso!
Sobre as cantorias, as mestras cantoras que já se foram, como Nhiwêêre e os que ainda estão entre nós, como Sinore e Sirax, com estas mestras fiz pesquisas de conhecimento e vivência sociocultural. Fiz registro na escrita. Fiz pesquisa também com o cantor jovem Nhĩnô.
Desta forma, fui aprendendo ainda mais a cantoria. Pesquisei estas mestras anciãs sobre as musicalidades. Com estes saberes é que canto as músicas. Aprendi tanto as músicas Krikati, Gavião e Krahô, por isso que, às vezes, confundo as músicas. Tem outra pessoa importante que me ensinou as cantorias, que mora na aldeia Palmeiras. O nome dele é Miguel. É uma das pessoas que me ensinou a cantar diversas musicalidades Panhĩ.
Vou cantar algumas músicas de Wyhty, que é cantada apenas dentro desta casa. Sem maracá”.