Literatura Apinajé: a importância das histórias para a formação das pessoas
O meu trabalho tem a ver com as histórias dos anciãos que serão registradas para o futuro. As histórias tradicionais são uma forma de trazer os conhecimentos dos anciãos para as novas gerações Apinajé. Antigamente, todas as histórias tradicionais eram contadas oralmente pelos mais velhos do povo Apinajé, mas, hoje em dia, algumas não são mais contadas na comunidade.
As histórias tradicionais são muito importantes para o povo Apinajé conhecer, aprofundar e adquirir conhecimentos guardados pelos mais velhos, registrando na escrita e na oralidade e fortalecendo saberes para o futuro. Sou professora indígena e me preocupo com a formação das crianças.
Minha escola se chama Mâtyk. É uma escola importante para meu povo. Mâtyk era um indígena Apinajé que morava na aldeia velha, chamada São José. Ele casou em seu próprio povo e foi constituindo família. Assim, a comunidade o escolheu como cacique. Foi uma homenagem a uma pessoa que muito boa e respeitada.
Foi Mâtik quem começou a organizar os outros Apinajé, pois, naquela época, o povo era muito espalhado pelo território. Muitos moravam na aldeia Botica, em outras comunidades e até na roça. Muitos não queriam sair dos seus lugares espalhados, pois se acostumaram lá desde que nasceram.
Mâtyk insistiu para o povo ficar unido, como uma comunidade. Ele lutou muito, até que conseguiu trazer todos os Apinajé para a aldeia São José. Ele fortalecia os trabalhos comunitários e, até mesmo, fez uma grande roça comunitária para todo mundo. Ele foi um grande cacique porque entendia o poder da comunidade.
No tempo que o Mâtyk foi chefe, a vida dos Apinajé era muito boa, todo mundo vivia bem, em paz. Não havia conflitos com os kupê, não havia doenças, nem invasões, pois o cacique Mâtyk falava forte, com todo respeito, para as comunidades da aldeia e, também, para os kupê (não indígena) da cidade. Não havia nenhum tipo de problema. Depois que os kupê se aproximaram e criaram a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) para trabalhar com os indígenas, começou a acontecer coisas ruins com os Apinajé. A vida não era mais como antes.
Quando pesquisei com as mulheres mais velhas, descobri também que o cacique Mâtyk era um homem jovem, que tinha muito respeito pelos conhecimentos e pela experiência dos antigos para trabalhar com seu povo Apinajé. Todos dizem que Mâtyk foi um cacique muito bom, ajudou bastante as comunidades, apoiou os trabalhos de roça, ajudou as famílias indígenas. Foi um modelo de chefe que, hoje em dia, é difícil encontrar.
Ele faleceu enquanto era cacique, há muito tempo. Na época era o chefe mais conhecido de todas as aldeias. Naquela época, havia muitas festas culturais que estavam acontecendo no pátio da aldeia, mas o Mâtyk faleceu e não chegou a ver o final delas.
O nome dele continua em minha comunidade. Por isso, quando começaram a construir uma escola para meu povo Apinajé, o povo pensou em seu nome. Nós nos reunimos, junto com o cacique Kunihtyk, e escolhemos o nome dele para a escola. Hoje, os jovens sabem o nome da escola, mas não conhecem as histórias e as pessoas.
A família do Mâtyk é a família do Moisés Môxgô e a família do finado Toim Wanhmékri. Mâtyk deixou dois filhos homens e mais um que ele criou, era de seu irmão, considerado como filho de verdade. Só não deixou mulher.
Foi muito interessante para mim, aprender com os velhos do meu próprio povo e descobrir a história sobre o Mãtyk, sobre o tempo que ele viveu com o povo Apinajé, sobre o que é ser um bom cacique. Essa história do Mãtyk é uma dos tempos recentes e nem todos sabem.
A história de um indígena guerreiro
Esta é uma história tradicional que conta como antigamente existia uma aldeia para todos os povos, mas, quando eles se dividiram para as grandes caçadas, começaram a brigar dentro do mesmo povo. Foi assim que aconteceu a divisão.
Um indígena guerreiro chamado Kuwênh Kaure era muito valente e muito forte. O Kuwênh Kaure chamou a sua família: esposa, filho, cunhados, sogra e sogro para sair da aldeia, passar alguns dias no mato para fazer uma grande caçada, para poder matar alguma caça para comerem.
Quando chegaram no mato, o guerreiro escolheu um local para ficarem. O local era para ser seguro, mas não foi. O guerreiro Kuwênh Kaure foi para a caçada e pediu à sua família que não tocasse fogo no mato.
Ele disse:
- É um perigo!
Também falou para a sua esposa fazer uma casa redonda para eles dormirem.
Ele já estava andando no mato, caçando, e viu a fumaça do fogo. Por isso, logo voltou com um veado que tinha caçado. Quando chegou, brigou com a família:
- Eu falei para não tocarem fogo ao redor! São teimosos e fizeram isso.
O guerreiro pediu, ainda, para a esposa 'moquear' o veado, enquanto era cedo, e sua esposa fez a moquenha.
O Kuwênh Kaure disse novamente à família para terem muito cuidado.
- Quando eu estava voltando, vi uma canoa que atravessou o rio. Estou com muito medo que aconteça alguma coisa. Com certeza alguns outros grupos indígenas vão nos descobrir por conta da fumaça. Eu pedi para vocês não tocarem fogo e vocês tocaram, né! Temos que ficar atentos, porque uma briga pode acontecer a qualquer momento.
O guerreiro Kuwênh Kaure já tinha percebido que invasões e conflitos com outros indígenas estavam para acontecer. E foi o que aconteceu.
O Kuwênh Kaure pediu à esposa que tirasse as carnes da moquenha para poder comer. Ela foi e, de repente, viu um homem sentado perto da moquenha.
Logo voltou e contou para seu marido guerreiro. Ele voltou com ela.
Chegando na moquenha, flechou o homem e correu. Tirou as carnes e voltaram ao local onde estavam.
Já estava anoitecendo, um pouco escuro, mas ainda dava para ver um pouco longe. Por isso a mulher viu aquele homem.
Seu sogro era um pajé. Por isso, o guerreiro pedia à sua esposa para dizer ao pai pajé que olhasse espiritualmente o local. Assim ele podia relaxar.
O pajé dizia para o guerreiro que não ia acontecer nada com eles, porque o dono espiritual estava ali animando e cantando. O guerreiro, entretanto, seguia desconfiado. Ele estava preocupado, por isso seguiu falando para a esposa dizer ao pajé para olhar bem a região, até que o pajé o chamou de medroso e se zangou com ele, desrespeitando-o.
Uma noite, enquanto todos dormiam, só o guerreiro não conseguiu dormir e, às duas horas da manhã, viu outros indígenas atacarem o local. Ele escondeu a família e os conflitos começaram.
Como o Kuwênh Kaure era antigo e forte, acabou matando todos os outros indígenas adversários que o atacaram. Deixou apenas um escapar todo machucado: para que ele falasse para seu grupo.
Quando voltou da briga, tirou a esposa, o filho e um cunhado do mato, onde os tinha escondido. Ele voltou ao local e viu o sogro machucado, a sogra com ferimentos e os outros cunhados mortos.
Quando chegou perto da sogra disse:
- Era isso que você queria, sogra, quando eu alertava a situação e você me chamou de medroso.
A esposa disse: Não! Não mata ela! Vamos levá-la para passar os remédios do mato necessários! Mas a sogra estava muito machucada e não resistiu.
Esta é a história do indígena guerreiro.
A história tradicional de um indígena guerreiro é contada pelos anciãos desde antigamente. Há versões da história do guerreiro que protegia seu grupo em um tempo de divisão.
Há uma versão que fala de outro indígena do mesmo grupo da aldeia que também era valente. Seu nome é Nohkáre. Ele conversou com seu grupo para poder atacar o guerreiro, e atacaram. O Nohkáre era chefe do grupo que atacou o guerreiro.
Assim começaram os conflitos entre eles. E começou a divisão dos indígenas da aldeia. A partir daí, cada grupo começou a fundar aldeias diferentes para sobreviverem em paz, vivendo com a cultura do seu povo.
Conversei novamente com mulheres anciãs para saber a versão delas. Fiz perguntas escritas na língua materna, para as anciãs entenderem melhor sobre o que eu estava falando.
A história do indígena guerreiro é importante para as comunidades que continuam contando, valorizando e fortalecendo nossa cultura. Ela é importante para que as crianças e jovens conheçam as histórias tradicionais, através dos conhecimentos dos anciãos, e para manter sempre nas comunidades.
Percebi que nossas histórias Apinajé são parecidas com as de outras comunidades, como dos Krahô e Krikati. Há apenas formas distintas de se contar as versões. Os nomes das histórias são os mesmos, por exemplo: A história da estrela, do Sol e da Lua, do macaco e da onça.
História das cabaças
No princípio da criação, o Deus poderoso criou o Sol e a Lua. O Sol e a Lua andavam sozinhos na terra. O Sol resolveu pensar em criar os seus filhos e plantou a cabaça na roça para criar os seus filhos-cabaça. Plantou cabaça na roça. Depois a cabaça foi crescendo e formou-se como uma grande cabaça. A Lua fez o mesmo!
O Sol e a Lua colheram as cabaças na água. Depois, marcaram o tempo para voltarem e retirarem os seus filhos da cabaça. Quando o Sol e a Lua jogaram a cabaça na água, ela se transformou em pessoas para irem às suas casas. Essas pessoas criaram uma aldeia e construíram as casas para os seus filhos morarem com as famílias. Cada filho do Sol e da Lua formavam casais para irem às suas casas.
Todos os filhos do Sol que foram criados eram bonitos e bem feitos, mas os filhos da Lua não eram tão bons, porque todos os filhos da Lua tinham problemas. A Lua ficou com vergonha. Os filhos do Sol eram sempre muito bons e calmos, mas não eram valentes. E os filhos da Lua são, sim, muito valentes, mas eram fofoqueiros.
Foi assim que o Sol e a Lua criaram os seus filhos. E foi dessa criação que surgiu o povo Apinajé. Fomos criados na cabaça pelo Sol ou pela Lua.
Esta é uma história tradicional sobre o surgimento do povo Apinajé desde o princípio da criação.
A história do jacaré
Era uma vez um jovem indígena que estava caminhando ao lado do rio, quando, de repente, apareceu um jacaré que perguntou a ele: “Onde vai?"
O jacaré era pequenino, estava num lago, secando. O indígena ficou com pena e o levou até o rio, deixando ele lá.
O jacaré cresceu e ficou grande. Ele ainda lembrava do indígena que o salvou. Quando o encontrou, pediu para o indígena montar em suas costas, para atravessarem o rio. O jacaré ajudaria e falou, ainda, ao indígena, para dizer que o rosto, o rabo e o couro dele são enrugados e feios.
O indígena pensou bem e não disse nada, porque ficou com medo de o jacaré afogá-lo e comê-lo. Ele respondeu apenas que o corpo do jacaré é todo macio.
Desse jeito, tenso, foram chegando perto da beira do rio, quando encontraram dois cavalos bem velhinhos. O jacaré perguntou como se gera dor nas pessoas. Os cavalos responderam não saber e o jacaré disse que iria comer o homem. Encontraram, então, dois bois a quem o jacaré fez a mesma pergunta e teve a mesma resposta.
Na frente tinha duas raposas para quem o jacaré fez a mesma pergunta. A raposa pediu ao jacaré que chegasse mais perto porque é surda. Quando o jacaré chegou perto, a raposa piscou os olhos para o indígena, que pulou das costas do jacaré e correu. O jacaré saiu em disparada atrás. O indígena pediu ajuda ao jaó, que o escondeu. Quando o jacaré chegou, perguntou se viu alguém passando. O jaó disse que não viu.
O jacaré ia voltando, quando o indígena saiu do esconderijo e o chamou de feio. Ele saiu correndo até que encontrou duas perdizes colhendo amendoim. A perdiz enxergou o indígena que o jacaré queria comer e matou o jacaré.
Pesquisei com os mais velhos sobre a história do jacaré que era antigamente muito contada. É uma história dos antigos. Todos os anciãos conhecem as histórias tradicionais, desde os tempos antigos. Cada um dos anciãos tem a forma particular de contar as histórias tradicionais. Essa história do jacaré também pode ser contada de maneira diferente. Alguns contam de acordo com que aprenderam e entenderam. Existe essa diferença nas versões das histórias tradicionais do povo Apinajé.
Histórias dos dois indígenas
Antigamente, nossos avôs e avós moravam em uma aldeia, onde moravam, também, dois pássaros que matavam os indígenas: um gavião e uma águia. Com medo dos dois pássaros, os indígenas se juntaram e resolveram mudar a aldeia para bem longe dali.
Apenas um casal de velhos ficou com seus netos: Ahkrêxti e Kenkutãhti. Eles moravam sozinhos, corriam com a tora e cantavam no pátio. Assim que os netos cresceram, perguntaram pelo seu povo e os pais. Os velhinhos disseram que o gavião e a águia mataram seus pais. E as outras pessoas foram embora com medo de todos morrerem.
Ahkrêxti e Kenkutãhti resolveram, então, se vingar. Pediram ao avô para fazer duas bordunas grandes e queriam conhecer o lugar, na beira do ribeirão, em cima de um grosso tronco de árvores, onde os pássaros viviam. O avô levava comida aos netos todos os dias. E os netos pediram para o avô fazer jirau e, depois, fazer uma casinha redonda, perto da caverna onde os pássaros matavam os indígenas. Os netos começaram a matar passarinhos com a borduna e os deixavam para o avô.
No dia seguinte, eles foram provocar o gavião e a águia na caverna com uma pedra. Eles gritaram e o gavião saiu primeiro. Ahkrêxti, mais ligeiro na corrida que o irmão, provocou o gavião e levou muito tempo enganando o animal, sem descanso, até que o gavião, cansado, não tinha mais força, caindo sentado no chão de bico aberto. Ahkrêxti o matou com a borduna.
Sobrava, ainda, a águia, mais rápida que o gavião, e que escapou dali pelo meio do dia. Ahkrêxti insistiu e voltou a provocar a águia, tentando fazer com que ela caísse no chão. Kenkutãhti queria fazer o mesmo, mas Ahkrêxti o aconselhou a tomar cuidado. A águia, voando com rapidez, cortou a cabeça dele e voltou para a caverna, não saindo mais, assim, matando Kenkutãhti.
Por isso, Ahkrêxti resolveu não voltar mais para casa dos avós, indo procurar a aldeia dos parentes que tinham mudado com medo das aves. Ele andou pelo mato muito tempo até que encontrou os parentes, se escondendo no caminho do ribeirão. O povo estava banhando depois da chegada da tora. Quando todos foram embora, se aproximou uma moça conhecida. Eles acabaram casando na manhã seguinte e Ahkrêxti se apresentou para a comunidade no pátio central da aldeia.
No outro dia, Ahkrêxti foi com a mulher tirar mel. Ele fez um buraco no tronco e mandou a mulher meter o braço na árvore. Ela ficou presa no buraco e por mais que se esforçasse não conseguia tirar o braço de lá. Ahkrêxti ajudou até que desistiu e ela morreu. Ele voltou sozinho para a aldeia. Um irmão da mulher descobriu tudo.
De manhã, ele seguiu o rastro de Ahkrêxti até o lugar do crime.
A família resolveu se vingar. Reuniu o povo da aldeia e combinaram de fazer uma fogueira enorme para fazer moquenha. As mulheres disseram a Ahkrêxti que colocasse os seus bolos. As batatas primeiro, que era para estarem bem no meio do braseiro. Quando ele estava colocando o alimento, o empurraram por todos os lados para dentro da brasa.
A pesquisa desta história foi feita com um ancião sobre a história dos dois indígenas. É uma história dos tempos antigos que ainda são contadas oralmente pelos Apinajé. Há versões diferentes, pois cada história é contada de acordo com a pessoa que a aprendeu. Esta e outras histórias podem trazer a importância do conhecimento dos mais velhos que a comunidade deve conhecer.
Perna de Lança
Uma vez, dois cunhados saíram para caçar no mato. Andaram muito e não encontraram nada. Um cunhado falou para o outro que ia passar o resto da noite ali. Fizeram o fogo e deitaram. O outro cunhado dormiu, mas ele apenas fingiu que dormiu, e começou a colocar a perna no fogo.
De repente, o cunhado que estava dormindo, acordou e viu a perna do cunhado no fogo, ficando assustado. O cunhado disse que não estava sentindo, quando os dois deitaram de novo, ele tornou a colocar a perna no fogo. O rapaz que estava observando a situação, desta vez, estava vendo tudo, mas não falou nada, ficou apenas observando, até que o fogo cortou a perna do rapaz, que a jogou próximo a um pé de pequi.
Ele mandou, então, o cunhado pegar pequi. Ele foi procurar o fruto e não achou. Achou apenas a perna do parente. Ele fez da perna uma arma, raspando com caracol, deixando uma ponta muito aguda. Assim, quase matou o cunhado que escapou, fugindo para a aldeia. A esposa não acreditou na história.
Os homens da aldeia fizeram um lêpo de madeira parecido com o homem assassinado. Pintaram e enfeitaram o tronco. Botaram no meio do caminho e foram procurar perna de lança. Ele ficou preso e os homens o flecharam e o mataram. E o colocaram no galho da árvore. Dali, ele se transformou em Krã-Krokrokre (cabeça de maracá), que fugiu aos pulos. Ele passou a atacar os indígenas que caçavam. Estes resolveram fazer um buraco fundo no caminho e chegaram de novo à cabeça de maracá, que apareceu pulando, caiu no buraco e não pôde se livrar mais.
Os guerreiros mataram Krã-Krokrokre e fizeram uma grande fogueira.
Eu fiz a pesquisa com ancião do povo Apinajé sobre a história de perna de lança que era contada antigamente. É uma história tradicional dos Apinajés nos tempos antigos. E ainda é contada pelos mais velhos da comunidade. É história reconhecida pelos anciãos do povo. Esta história é contada dentro das famílias.
É importante para o povo Apinajé conhecer, revitalizar e fortalecer as tradições, nossa cultura, nossos conhecimentos, que são guardados pelos anciãos.
A onça e o macaco
A onça e o macaco fizeram amizade e foram trabalhar para o compadre deles. No meio do caminho, encontraram uma cobra. A onça disse para o macaco pegar o laço que a comadre tinha esquecido, chegando perto da cobra. A onça estava tentando enrolar o macaco de todo jeito, mas o macaco era esperto e não fez nada que a onça mandava.
Chegaram na casa do compadre. Passaram-se alguns dias e a onça começou a comer o bezerro do compadre. O macaco viu. No outro dia, de noite, os dois combinaram para se banhar com a água. O macaco encheu a bacia de água e a onça de sangue de bezerro, tentando culpar o macaco. Como o macaco era esperto, trocou a bacia da onça, que dormiu muito.
Umas 5 horas da manhã, acordaram e fizeram o banho. De manhã, o compadre foi ao curral para tirar leite e percebeu que sumiram três bezerros. O macaco estava andando por lá, assobiando e contando para o compadre que foi a onça que comeu os três bezerros. Para provar a verdade, pediu, ainda, ao compadre, para ir até à onça. Ele foi até a onça e viu que ela estava dormindo com cheiro de sangue de bezerro. O macaco pediu para matar a onça com a espingarda do compadre. Tirou o couro e cortou em pedaços, torando um pedaço da costela, que assou.
Ele foi embora, passando pela família da onça, que resolveu matar o macaco, que escapou e foi embora.
No dia seguinte, a onça fêmea e os filhotes pegaram o macaco para comer no almoço, deixando-o com uma filha. E foram trabalhar na roça. Quando voltaram, o macaco já tinha matado a filha da onça.
A casa estava vazia e o macaco lavando roupas no ribeirão. Descobriram tudo e lutaram, até que fizeram um homem com lêpo de madeira e botaram no lugar de quem bebia a água.
O macaco apareceu para beber e viu o homem de madeira. Ele chegou, chutou o homem e ficou preso. Assim terminou a história.
Pesquisei com uma das mais velhas da comunidade sobre a história da onça e o macaco, que é contada antigamente, e ainda é contada pelos Apinajé. É uma história reconhecida pelos anciões que contavam nos tempos antigos. Cada ancião sabe contar essa história dá forma diferente, porque todos contam de acordo com os conhecimentos que aprenderam naquele tempo
Por isso, essa história ainda existe no povo Apinajé. Os mais velhos contavam para seus filhos, netos da família e para aqueles que se interessavam ouvir e saber das histórias tradicionais. Algumas histórias e tradições ainda são valorizadas pelos anciãos do povo Apinajé.
Para o povo Apinajé, são muito importantes as histórias tradicionais, serem reconhecidas para fortalecer sempre e aprofundar as histórias que são contadas na oralidade, para não perderem os conhecimentos tradicionais.
As histórias tradicionais podem trazer a importância do conhecimento que a comunidade, jovens e crianças devem reconhecer, para registrar e continuar valorizando para a geração, para o futuro, e também para buscar outras informações importantes sobre as histórias antigas, porque os anciãos são a biblioteca viva.
Homem Morcego
Conversei com a anciã Amnhák sobre a história do homem morcego, uma das histórias tradicionais que ainda são contadas pelo povo Apinajé. É uma história importante que vem dos tempos antigos. Foi através do homem morcego que os Apinajé conseguiram viver com as culturas tradicionais e as festas tradicionais.
No princípio, o homem morcego matava os homens Apinajé. Quando estes estavam caçando e passavam em uma caverna, os morcegos eram descobertos pelos homens Apinajé, que tocavam fogo para matar todos os morcegos. Como havia um buraco por cima da caverna, os morcegos escaparam e sobreviveram. Um deles, porém, um filhote, ficou na caverna e foi adotado por um homem.
Minha pesquisa mudou meus conhecimentos e aumentou bastante meu interesse na cultura. Antes eu não sabia sobre a importância das histórias tradicionais para meu povo. Aprendi e descobri outras histórias. Usei estas histórias e estas discussões em minhas aulas. Mudei algumas atitudes em sala de aula. Os alunos querem estudar e se formar em nossa cultura. Nossa cultura é importante e deve ser valorizada na comunidade.
Foi difícil escrever no português. Quero e acho muito importante desenvolver materiais didáticos e, assim, manter a cultura viva.