Më caric.Saúde
Conversa com a Sra. Maria Joana Prupru
Fábio Inxycaprêc Krahô, tradução e gravação
“Nasci bem nesse lado do território Kraholândia, do lado de nossa reserva. No kri (aldeia) Cachoeira. Antigamente, no tempo dos antepassados, não existia essa alimentação que a gente come hoje. A gente comia só macaúba, cajá assado, e não tinha essa alimentação que a gente consome da cidade. Comia só essa fruta nativa, como eu falei que é macaúba. É cajá. Cortava folha de macaúba, colocava no fogo até ficar pronto. Quando eu tinha 18 anos, eu assistia essas festas culturais mehi lindas, e nós pintávamos o corpo. É uma festa que a gente, as mulheres novas acompanhavam a festa, durante uma semana. A gente se manifestava em dança, cortava o cabelo, pintava o corpo e começava a corrida de tora. Tinha três rainhas, como Patpro e Cope, que era a rainha da penpcwyj e crocro, que fazia o jirau. Tinha um menino, os homens ficavam na parte debaixo do cá (pátio). A gente colocava no centro do cá banana, abóbora, legumes, esses frutos que a gente plantava no pur (roça) e consumia, e eles dançavam ao redor. Eles faziam a roda: roda para lá, roda para cá. Faz o círculo. Isso era saúde! Tem 4 anciãos famosos que faziam essa festa. É a festa Pjêre jahe kãm xà, com dois clãs: Hàc (gavião) e penxy (abelha). Impej!
Por isso, os antepassados, os mais velhos, comem essas frutas e não tem a doença como existe hoje. Diabetes. Pressão alta. Tem a ver com cultura. Hoje tem muita doença. Essa alimentação como feijão e arroz que já vem tudo destruído, destruído da cidade, industrializado. Suco. A doença do corpo vem toda através dessa alimentação que a gente come hoje. Eu faço bem resguardo e tenho boa alimentação. Por isso estou assim, bem.
Me lembro bem das festas fortes, de nosso tio e tia. As primeiras brincávamos muito. Eles pintavam o corpo, cortavam o cabelo, furavam a orelha. Estamos na festa. Eu, quando era menina, eu acompanhava tudo. Essa tapera que fica nos Krahô.
Gente, tá um sol bem quente, eu não consigo falar muito, o sol tá quente demais. À noite eu posso contar mais, posso contar muitas, várias histórias. Nesse kri, a festa que fazem jirau. Colocam banana, fazem paparuto. Tô contando a história para meu neto. Lembro que naquela época a manifestação cultural era forte. Com respeito. Às vezes eu saía para fazer uma pesquisa no mato, para aprender mais. Lembro do tio Antônio Balbino. Fazia uma manifestação muito forte. Ele ia fazer a caçada. A roça. Plantava tudo. Mandioca, favo, milho, tudo. Juntava todo mundo. Aí colocava o menino lá no jirau. Em cima do jirau. E fazia cantoria na hora da festa, ao redor do menino. O menino em cima e todo mundo cantando no cá (pátio). Vai no outro lado do pátio e volta, assim que segue a cantoria. Cantoria. Meu irmão era forte. Tinha festa em diversos kri (aldeia): Pedra Branca. Pedra Furada, Cachoeira, que é aqui. Em aldeia maior, maior. Que chama Inxu (pai). No final do ano trabalhava com o pessoal. Aí eu conto a história. Antigamente eu contava histórias para os meus netos ouvirem. Eu vou contar um pouco. Tem dois tipos de amijkin, Kragayu e Papamel e dois partidos: Wacmêj e Katamjê, verão e inverno, eles cantam assim impej (bonito), e aí eles vão dançando para lá e para cá. Tem duas rainhas. Era minha irmã. Ela era assim, nova, de 18 anos. Isso movimentava o krin (aldeia), o pur (roça) com boa alimentação, resguardo, respeito. Trazia saúde”.