Sou liderança indígena do povo Kariri da Paraíba, cresci no meu território e aos 08 anos fui morar em Duque de Caxias, pois meu povo passou por processo de expulsão e perdemos nossas terras. Cresci em Duque de Caxias.
Minha trajetória cultural começou ainda na adolescência nos espaços de arte e cultura da Lira de Ouro e no Centro Cultural Estacionarte, em Duque de Caxias, onde nos reuníamos para pensar a cultura da cidade, fazíamos saraus de poesias e exposição de artes. Nesse espaço conheci artistas que hoje são minhas referências de vida.
Aos 14 anos voltei para meu território de origem e atuei em várias lutas para fortalecer mais uma vez minha etnia. Voltei para Duque de Caxias aos 18 anos e daí em diante comecei a minha trajetória cultural com o objetivo de fortalecer e dar visibilidade à cultura ancestral.
Trabalhei em projetos sociais na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, pelo Ciclo Brasil de leitores com os projetos +livros – violência e libertação de livros. Pela Secretaria de Educação desenvolvi projetos de arte e educação indígena de 2000 a 2011, quando me formei professora de ensino fundamental. Atuei no Censo 2000 como recenseadora e em 2010, como supervisora, registrando os indígenas que estavam em Duque de Caxias. Atuei em projetos do Programa Mais Educação, recreio nas férias e fui coordenadora do projeto Mais Cultura nas Escolas, onde desenvolvia oficinas de arte, de brinquedos pedagógicos e de artesanatos indígenas.
Em 2012 atuei como arte educadora indígena no desabamento de Xerém, na escola Eli Kombat, onde me destaquei pelos trabalhos desenvolvidos com material de reuso e argilas do próprio território de desabamento. Em 2013 fui convidada para trabalhar na Secretaria de Cultura como auxiliar de projetos especiais. Em 2015 me formei em emendas parlamentares e editais e fui responsável por dialogar e trazer algumas emendas parlamentares para a cidade. Participei de várias exposições de arte pelo Instituto Histórico de Duque de Caxias, Museu Vivo do São Bento, fui professora de artes pela Galeria Arte e Fato durante alguns anos. Participei de atividades culturais na Feuduc no período de 2010 a 2015 quando estava fazendo a graduação de letras, sempre levando a cultura do meu povo para esses espaços.
Em 2015 fui responsável pela primeira feira de cultura indígena em Duque de Caxias, onde tivemos atividades que fortaleciam o dia dos povos indígenas. Fui curadora em 2017 da exposição “Do Kariri às margens de Caxias, protagonismo de mulheres guerreiras do Nordeste” pelo instituto Histórico de Duque de Caxias. Nessa exposição fizemos rodas de conversas, instalação de arte, palestras sobre a cultura indígena e afro-brasileira e desfile com as roupas indígenas desenhadas pela minha mãe, Judith Kariri, que morou quase 30 anos no Jardim Anhangá.
Em 2018 desenvolvi projetos para o Sesc e Sesi Baixada, Rio de Janeiro, com o escritor Cristino Wapichana e a escritora Márcia Kambeba. Participei das exposições de arte na Biblioteca Governador Leonel Brizola no dia internacional da mulher. Estive na construção de vários projetos dentro da Secretaria de Cultura e também na construção da Marcha das Mulheres Negras e Marcha das Margaridas, quando abrimos caminhos para hoje termos a Marcha das Mulheres Indígenas. Atuei em conselhos de cultura, meio ambiente, educação e no conselho da mulher. Participei das discussões e criações de projetos pela Fundação Fé e Alegria, onde atuei como mediadora de conflitos e arte educadora, de 2003 a 2006, levando palestras para as escolas. Sou escritora e participei de coletâneas pelo MMMR (Movimento Mundial Mulheres Reais) onde ganhei prêmios e reconhecimento internacional. Participei de exposições e bienais de artes na Finlândia, Espanha, Colômbia e Itália, nos anos de 2019 a 2023, sempre levando o nome da cidade para as minhas palestras. Atuo no Conselho de Cultura de Duque de Caxias, como suplente, na cadeira afro-brasileira e indígena.
Em 2023, fui agraciada com o título Doutora Honoris Causa pela FACETEN (Faculdade de Ciências, Educação e Tecnologia do Norte do Brasil) e OCAA (Ordem dos Capelães Afro e Ameríndios do Brasil).
Atualmente estou cacica da Afika-PB (Associação das famílias Kariri da Paraíba). Sou idealizadora e Presidenta do Coletivo Nacional Tuxaua, rede de saberes indígenas e cultura popular. O coletivo Tuxaua tem a base de atuação na Baixada Fluminense/RJ/SP/MG e Paraíba e realiza projetos sociais e de pesquisas.
Presto assessoria no setor de projetos de audiovisual e cultura indígenas para prefeituras e parlamentares em âmbito nacional. Faço parte da comissão de intolerância religiosa de Caxias/RJ e de Cotia/SP. Sou curadora de artes com experiência em galerias de arte e centros culturais no Rio de Janeiro e São Paulo.
Trabalho com as cores da terra, das plantas, das flores da Caatinga Minha arte é uma leitura da beleza do meu território. Com isso, desenvolvo técnicas que utilizam as tintas extraídas dos elementos da natureza, das flores do sertão e da riqueza das cores das terras encontradas no território paraibano. Utilizo o jenipapo, carvão e urucum, desenvolvendo um catálogo de tintas naturais. Trabalho também com a leitura da arte rupestre, esta que conta a história do meu povo, desde o Sertão da Paraíba até a Serra da Capivara.