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PATRIMÔNIO CULTURAL
Última edição de 2024 do Conta, Canta e Dança celebra o samba na Fundação Cultural Palmares
Nesta quarta-feira (04), o espaço Mário Gusmão, sede da Fundação Cultural Palmares, será palco do último evento do ano do Conta, Canta e Dança. A edição final presta uma homenagem às raízes e à vitalidade do samba, um gênero que representa a resistência, a identidade e a riqueza cultural do Brasil.
Para tornar a homenagem ainda mais significativa, o último tema é Casa de Bamba, uma celebração à grandiosa trajetória de Martinho da Vila, um dos maiores ícones do samba brasileiro.
O título, inspirado em um de seus maiores sucessos, remete à composição criada na década de 1980, que retrata o espaço de vivência e as experiências cotidianas das pessoas na “Casa”. A obra explora as relações sociais de quem ali convive, profundamente entrelaçadas com o universo religioso e cultural que permeia a Casa de Bamba.
A programação inclui música ao vivo e apresentações, reunindo grandes nomes do samba brasileiro e brasiliense, como Marcelo Café, Eliane Faria, Nilcemar Nogueira, Kaxitu Campos e o grupo 7naRoda.
Com esta celebração, a Fundação Cultural Palmares encerra suas atividades de 2024, destacando o papel transformador da arte como instrumento de resistência, educação e exaltação da cultura negra.
O evento reafirma o compromisso da instituição com a preservação e a continuidade do legado do samba, valorizando suas raízes e promovendo sua relevância nas lutas sociais e culturais do Brasil.
Próximos passos
Segundo o diretor do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-Brasileira, Nelson Mendes, “o Conta, Canta e Dança trará uma abordagem especial com Cinevídeo, rodas de conversa sobre Abdias Nascimento, Palmares em Cena, lançamento de livros, discussões políticas, arte, manifestações e cultura.”
Até lá, o legado do Conta, Canta e Dança seguirá pulsando nas batidas do pandeiro, nos passos ritmados do samba e na memória de todos os que viveram esse dia inesquecível.
Conheça os artistas dessa edição:
Eliane Faria
Com 30 anos de carreira, Eliane Faria é uma das grandes intérpretes do samba. Filha do lendário Paulinho da Viola e neta do renomado violonista César Faria, ela carrega em seu sangue a essência do gênero.
Eliane é também sobrinha de Anescarzinho do Salgueiro e afilhada de Mauro Duarte e Violeta Cavalcante, reforçando sua ligação com alguns dos maiores nomes da música brasileira.
Criada nas rodas de choro e samba de botafogo, ela se destaca como compositora e diretora cultural da Escola de Samba Unidos de Boston, em Boston, Massachusetts, nos Estados Unidos, promovendo a cultura brasileira internacionalmente.
Kaxitu Campos
Neto e bisneto de fundador da escola de samba Vai Vai, fundada no quintal de seu bisavô, na Rua Rocha, no bairro do Bixiga, em São Paulo. Apesar do forte vínculo com a escola, sua contribuição se torna ainda mais significativa no campo político, atuando como presidente da Fenasamba.
Marcelo Café
Cantor, produtor e compositor, é responsável por sucessos como "Coração de Malandro" e "Meu Exílio". Assina diversas produções, incluindo o festival Tardezinha do Samba, que teve sua origem em Ceilândia.
Marcelo também se destacou na produção de trilhas sonoras para o cinema, como a do documentário “Filhas de Lavadeira”, dirigido por Edileuza de Souza, obra premiada em diversos festivais pelo Brasil.
Nilcemar Nogueira
Nilcemar Nogueira é sambista, gestora cultural brasileira, doutora em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestra em Bens Culturais e Projetos Sociais pela Fundação Getúlio Vargas. Foi professora da Universidade Estácio de Sá.
7naRoda
O 7naRoda é um grupo de grande relevância no cenário musical de Brasília. Fundado em 2007, o grupo candango completou 13 anos de trajetória em 2020, sempre carregando com orgulho a bandeira do samba.
Uma de suas bases é o respeito à Velha Guarda, que inspira e norteia seu trabalho. Reconhecidos pela excelência musical, os integrantes do 7naRoda consolidaram sua posição como a roda de samba mais tradicional da capital brasileira.
Os vários estilos samba
O samba, criado no Brasil, tem suas raízes nos batuques trazidos pelos negros escravizados, que se misturaram a ritmos europeus como a polca, a valsa, a mazurca e o minueto, entre outros.
No início, as festas de dança realizadas pelos negros escravizados na Bahia eram chamadas de "samba". Estudos indicam o Recôncavo Baiano como o berço dessa manifestação cultural, com destaque para a tradição de dançar, cantar e tocar instrumentos em roda, consolidando o samba como uma expressão de resistência e identidade cultural.
Consolidado como uma das manifestações culturais mais emblemáticas do Brasil, apresenta variações regionais que expressam a diversidade e a riqueza cultural do país.
Entre os estilos mais marcantes estão o samba da Bahia, do Rio de Janeiro e de São Paulo, cada um com características próprias e profundas conexões com as tradições locais.
Samba Baiano
O samba baiano se destaca pela forte influência de ritmos afro-brasileiros, como o lundu e o maxixe, refletindo a rica herança cultural da Bahia. Com letras simples, ritmo acelerado e uma cadência hipnotizante, esse estilo celebra o balanço e a energia, elementos fundamentais da cultura baiana.
A lambada, por exemplo, tem raízes no maxixe, demonstrando a constante evolução dos gêneros musicais locais. Além disso, o samba baiano mantém um diálogo vivo com outras manifestações culturais, como o axé e a percussão afro, sendo amplamente representado por grupos icônicos como Olodum e Ilê Aiyê.
Essa conexão entre música, dança e tradição faz do samba baiano uma expressão vibrante e única da identidade brasileira.
Samba de Roda
Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) desde 2005, o samba de roda é uma expressão tradicional do Recôncavo Baiano que remonta ao século XIX.
Este subgênero do samba integra canto, dança e instrumentos típicos, como pandeiro, berimbau, atabaque e viola, formando um mosaico cultural de grande riqueza.
Nas apresentações, os participantes se dispõem em roda, enquanto dançarinos exibem seus movimentos no centro, criando uma interação dinâmica entre música, corpo e ritmo.
Com profundas raízes na herança africana e nas tradições dos terreiros de candomblé, o samba de roda simboliza um elo essencial entre a musicalidade e a espiritualidade afro-brasileira, perpetuando sua relevância cultural e histórica.
Samba Carioca
No Rio de Janeiro, o samba se firmou como símbolo nacional e uma poderosa expressão das classes populares. O samba carioca mantém uma forte conexão com a vida urbana, especialmente nas favelas, onde traduz tanto os desafios cotidianos quanto a alegria e a resistência do povo.
Das históricas rodas de samba na Pedra do Sal às grandiosas escolas de samba, o estilo carioca é marcado pela combinação de poesia, crítica social e humor, características que lhe conferem singularidade e profundidade cultural.
Ícones como Noel Rosa, Cartola e Paulinho da Viola são referências eternas desse movimento, que continua a inspirar e emocionar gerações.
Samba Paulista
O samba em São Paulo desenvolveu características únicas ao assimilar influências de imigrantes italianos e outras culturas presentes na cidade.
Nos bairros operários, o samba tornou-se um símbolo de resistência e um espaço de celebração da diversidade cultural.
Com letras frequentemente mais elaboradas, o samba paulista reflete as experiências da classe trabalhadora, trazendo um sotaque próprio e um olhar sensível sobre o cotidiano urbano.
Adoniran Barbosa, com clássicos como Trem das Onze, é a maior referência desse estilo, traduzindo em sua obra a alma e a identidade do samba paulistano.
Principais subgêneros
Samba-Enredo
Surgido no Rio de Janeiro na década de 1930, o samba-enredo tornou-se o elemento central dos desfiles das escolas de samba. Cada enredo narra uma história, frequentemente inspirada em temas culturais, históricos ou sociais, servindo como base para a concepção de fantasias, alegorias e coreografias.
Esse subgênero é uma expressão artística que combina música, poesia e espetáculo, consolidando o samba como um veículo de memória e criatividade popular.
Partido Alto
O partido alto, caracterizado pela improvisação e pela valorização da oralidade, destaca-se por sua temática ligada ao cotidiano das comunidades. Marcado por versos rápidos e melódicos, esse estilo mantém viva a tradição do samba de roda, ao mesmo tempo em que dialoga com as realidades urbanas.
Ícones como Zeca Pagodinho e Martinho da Vila são referências nesse subgênero, perpetuando sua importância na cultura popular brasileira.
Pagode
Nascido na década de 1970, o pagode trouxe uma renovação ao samba, incorporando instrumentos como o banjo, o tantã e o repique de mão, além de elementos eletrônicos que modernizaram o estilo.
Com letras predominantemente românticas e dançantes, o pagode conquistou um público amplo, ampliando a visibilidade do samba na música popular brasileira.
Grupos como Fundo de Quintal e Raça Negra são grandes expoentes do gênero, marcando gerações com suas canções e contribuindo para a sua consolidação no cenário musical.
Samba-Canção
Com raízes nos anos 1920, o samba-canção se destaca pelo ritmo mais lento e pelas letras melancólicas e românticas. Clássicos como Ai, Ioiô (1929) deixaram uma marca profunda em sua trajetória, consolidando o gênero como uma das vertentes mais elegantes e emotivas do samba.
Samba de Breque
Com suas pausas dramáticas e comentários humorísticos ou críticos, o samba de breque ganhou destaque como uma vertente única do samba, sendo popularizado pelo icônico Moreira da Silva. Suas interpretações marcantes deram ao gênero um tom irreverente e teatral, que o consagrou como uma expressão original da música brasileira.
Sambalanço
Influenciado pelo jazz, o sambalanço emergiu nos anos 1950 nos bares e clubes das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Artistas como Jorge Ben Jor inovaram ao combinar o samba com outros gêneros musicais, criando uma sonoridade única e cativante que marcou a época e ampliou os horizontes do samba tradicional.
Samba de Gafieira
Originado na década de 1940, o samba de gafieira é um estilo vibrante e dançante, caracterizado por seu forte apelo instrumental e especialmente criado para os salões de dança. Ele combina sofisticação musical com a energia do samba, tornando-se uma expressão artística que celebra o movimento e a interação entre os pares.
Samba-Exaltação
Com letras patrióticas e arranjos orquestrais grandiosos, o samba-exaltação celebra as belezas naturais e culturais do Brasil. Aquarela do Brasil (1939), de Ary Barroso, é o exemplo mais emblemático desse estilo, que marcou uma era de valorização nacionalista na música brasileira.
Samba Carnavalesco
Marcado por letras descontraídas e ritmos vibrantes, esse subgênero do samba é ideal para embalar os animados bailes de carnaval. Clássicos como Abre Alas e Cabeleira do Zezé capturam perfeitamente seu espírito festivo, transformando cada apresentação em uma celebração contagiante.