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Silviano Santiago recebe Prêmio Camões, a maior honraria da literatura lusófona
Foto: Juliana Uepa/MinC
O escritor mineiro Silviano Santiago recebeu nesta terça-feira (14) o Prêmio Camões, a mais alta distinção da literatura em língua portuguesa. A cerimônia aconteceu na Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, com a presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes.
“Pensar o prêmio Camões, no momento em que vivemos, significa abraçarmos uma língua portuguesa que é diversa, multifacetada, multicultural e transformadora. O prêmio reafirma a importância da literatura como algo que nos constitui como cidadãos e cidadãs, pois, nos permite reivindicar uma posição de donos e donas de nossas próprias ideias. A literatura e a escrita têm um magnífico poder de transformação de vidas e do acesso à escrita, em particular, para grupos marginalizados”, discursou a chefe do MinC durante a solenidade.
Santiago foi premiado por seu conjunto de obra, que inclui ensaios, romances, contos e poesias. Em sua fala de agradecimento, o escritor dedicou o prêmio ao artista Mário de Andrade (escritor de vários gêneros literários, músico, historiador e fotógrafo), além de refletir sobre a participação da Amazônia em águas democráticas da literatura.
O escritor rememorou que, em 1942, “proibido pelo Estado Novo de falar no auditório do Itamaraty, Mário lê, na Casa do Estudante do Brasil, o seu sofrido testamento sobre o legado do modernismo brasileiro. A reflexão ensaística do mestre se torna pessoal e se exprime por palavras que roubo, no momento, em que agradeço a presença ilustre de todas e de todos neste auditório”.
Sob efusivos aplausos, Silviano encerrou seu pronunciamento: “Repito as palavras de Mário de Andrade. E se agora percorro a minha obra já numerosa e que representa uma vida trabalhada, não me vejo, uma só vez, pegar a máscara do tempo e esbofeteá-la, como ela merece. Quando muito, lhe fiz de longe umas caretas, mas isto, a mim não me satisfaz.”
Presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Marco Lucchesi, revelou-se emocionado com o discurso do artista premiado. “Foram palavras muito intensas as de Silviano”, confessou, após pegar as folhas lidas pelo escritor e dizer que se tratava de mais um arquivo da FBN. Ele agradeceu o investimento do MinC na Biblioteca Nacional e defendeu que “não há paz sem justiça social”.
Representantes de Portugal
O Prêmio Camões é uma honraria instituída pelos governos de Brasil e Portugal, com intuito de estreitar laços culturais de países lusófonos, resultando no enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa.
O embaixador de Portugal no Brasil, Luis Faro, caracterizou o momento como especial por colocar a “escrita em dia”. Explicou: “É um ano em que são entregues quatro Prêmios Camões. Não é normal, mas eu diria que é um ano auspicioso para os nossos países, colocando a escrita em dia, em um ano de uma nova era para o Brasil e para o Brasil em relações com o mundo. Encerra-se um ciclo e reabre-se a normalidade. A partir do próximo ano retomaremos o ritmo”, comemorou.
Em discurso gravado em vídeo, o ministro da Cultura de Portugal, Pedro Adão e Silva, falou sobre os quatro prêmios atrasados aos quais se referiu o diplomata. “Em matéria de Prêmio Camões, esse tem sido um ano singular e de muita celebração em conjunto com o Brasil, uma vez que acabamos por entregar em 2023 os prêmios correspondentes a quatro anos. Tivemos a emocionante cerimônia que celebrou Chico Buarque, autor premiado já no longínquo ano de 2019. Agora, Silviano Santiago, por 22, mas também entregaremos o prêmio, com caráter póstumo, ao português Vitor Aguiar e Silva, por 2020, e entregamos em maio passado à moçambicana, Paulina, Chiziane, por 2021”, relembrou.
O chefe da Cultura de Portugal também celebrou a importância da literatura em português: “As histórias dos povos que falam português estão tão entrelaçadas que nos conhecemos melhor uns aos outros de uma maneira de nos conhecermos melhor a nós mesmos”. E saudou o escritor Silviano Santiago por estudos de outros grandes renomados artistas da língua portuguesa como Machado de Assis, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e Eça de Queirós.
“O estudo das semelhanças e das diferenças dos laços muitas vezes invisíveis que ligam as sociedades umas às outras permite, aliás, ter uma compreensão mais iluminada da sua própria cultura. Santiago transita com maestria por vários caminhos sem perder o pé”.
Escritor mineiro
Santiago, 87 anos, é um dos grandes escritores brasileiros da atualidade. Sua obra é marcada pela experimentação formal e pela reflexão sobre a identidade cultural brasileira. Entre seus principais livros estão "Machado" (2016), "Stella Manhattan" (1985) e "Em Liberdade" (1981).
Nascido em Formiga, Minas Gerais, Santiago formou-se em Letras e fez doutorado em Literatura Francesa na Sorbonne, em Paris. Lecionou em universidades dos Estados Unidos e, com o Prêmio Camões, se junta a ícones da literatura em português como José Saramago, Jorge Amado, Fernando Pessoa e Clarice Lispector.