Notícias
ITAMARATY
Show inédito de Zélia Duncan encerra Seminário Memória e Democracia, promovido pelo MinC
Foto: Filipe Araújo/ MinC
Sete Mulheres pela Independência do Brasil, trabalho inédito da cantora e compositora Zélia Duncan em parceria com Ana Costa, marcou o encerramento do Seminário Memória e Democracia, com a presença da ministra da Cultura Margareth Menezes. O evento promoveu, nos dias 14 e 15 de setembro, palestras para amadurecer e enriquecer o debate a respeito da construção do Museu da Democracia, no Itamaraty, em Brasília.
A apresentação da artista – com as musicistas Geiza Carvalho, Jessica Zarpei e Giselle Sorriso – nasceu da amizade dela com a historiadora Heloísa Starling (Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG), curadora do seminário. Para enaltecer mulheres invisíveis no processo de independência do Brasil. Zélia e Heloísa trabalharam histórias reais, o que resultou no disco lançado no último dia 7 de setembro.
Integrante da terceira mesa de debates, a cantora do Rio de Janeiro confessou ter visto sua cidadania aflorar durante a pandemia. Ela contou que alguns amigos a alertaram sobre os perigos em se expor, mas que ela mesma já estava decidida a exercer sua influência artística em favor da cidadania.
“A gente não precisa de artistas, diziam. Precisamos de engenheiros, advogados, médicos. Mas se eu entrar no hospital e tiver um quadro, vou me curar um pouquinho mais”, brincou. A arte e a democracia ganharam destaque, também, durante os debates que envolveram a modalidade de poesia de improviso do sertão do Pajeú (Pernambuco), seis mulheres glosadoras, conhecidas como mulheres de repente, mostraram seus talentos com versos com base em temas como “Para haver democracia, é preciso liberdade” e “Quem depois se arrepende, sabe bem em quem votou”. “Desejamos que o museu seja acessível, que as favelas estejam lá e os sertões também”, bradou a glosadora Luna Vitrolina, emocionando a curadora do seminário.
“O patrimônio artístico brasileiro tem uma capacidade artística fenomenal”, iniciou sua fala o mediador Leandro Grass, presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Ele também destacou ser um dos caminhos para fortalecimento da democracia o fomento e incentivo da cultura.
Entoando cantos e sacudindo maracá, Márcia Kambeba, poeta e geógrafa da Universidade do Estado do Pará (UEPA) demonstrou a força da Amazônia e da importância da defesa ambiental em sua fala. “Só há democracia com respeito e respeitar o outro é respeitar seu território”, disse após defender que na arte existe também o sagrado, em referência ao poder do maracá.
A vanguardista experiência do Museu RioMemórias foi trazida ao debate por Lívia Baião. Criado em 2019, o museu não tem um espaço físico, ocupa as páginas da internet em um site próprio. Mas isso não limita que o projeto realize atividades especialmente em escolas públicas e com participação de comunidades geralmente excluídas do acesso às artes. Dentre atividades para incentivar estudantes a pensarem e produzirem arte, Lívia contou que o RioMemórias promove ainda o chamado Escola no Museu.
Roberto Andrés, arquiteto e urbanista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), trouxe para o seminário reflexões sobre a ocupação do espaço urbano refletida em canções como “Casa no Campo”, de Elis Regina, gravada no início dos anos 70. Ele lembrou que a segregação da elite em condomínios e o afastamento de cidadãos para a periferia fazem parte de uma “democracia na vida cotidiana” a ser pensada e repensada ao longo da história.
A última mesa abordou o tema “Construindo o Museu da Democracia Brasileira”, com exemplos práticos envolvendo experiências imersivas e com linguagem mais tecnológica para atrair o público mais jovem, mas também espaços de preservação de tribo indígena e movimento de camponeses e camponesas.
Andréa de Araújo Nogueira, representante do Sesc-SP, afirmou ser necessária a preservação da memória com foco no futuro. Responsável pela mediação da última mesa do seminário, a Doutora em Museologia pela Universidade de Brasília (UNB), Débora Santos, ressaltou a importância dos espaços de culturas terem suas construções discutidas com toda sociedade. Já o artista Gringo Cardia, idealizador do Spetaculu Escola de Arte e Tecnologia do Rio de Janeiro e de diversos museus no Brasil e no exterior, lembrou da importância de novas linguagens em museus contemporâneos.
Suzenalson da Silva Santos, coordenador do Pontos de Cultura e Memória: Museu Indígena Canindé (Aratuba, Ceará), relembrou toda trajetória de criação do museu por um esforço pessoal do Cacique Sotero, a partir de 1995, com objetivo de contar a História do Índio na Sociedade. Alane Maria Silva de Lima, do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas (Paraíba) encerrou a última mesa de debate lembrando assassinatos de povos que lutam pelo direito à terra. “Não se fala em democracia sem falar da democratização do acesso à terra”.
Dia Internacional da Democracia
A mesa de debate Democracia para quem? Uma nova agenda de Direitos, mediada pela diretora do Departamento de Processos Museais do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Mirela Leite de Araújo, abriu as atividades desta sexta, Dia Internacional da Democracia.
Ao abordar um trecho do livro Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, a historiadora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Ynaê Lopes dos Santos, falou sobre o contexto histórico do racismo no Brasil e sua relação com a democracia. Segundo Ynaê é preciso alargar o conceito de democracia e sobretudo a prática da experiência democrática. “Fundamental para pensarmos um museu da democracia é entender de que democracia estamos falando e qual democracia nós queremos”, avalia.
O cofundador da Redes da Maré, Édson Nóbrega, contou sobre a experiência do Museu a céu aberto da Maré e disse que é preciso problematizar as representações sobre as favelas, pois são elas as produtoras de cultura. “Os moradores de periferias e favelas são os primeiros a sentir quando a democracia falta, falar em democracia também é falar em justiça e igualdade numa sociedade tão desigual quanto no Brasil”.
O jornalista André Basbaum, que é diretor de conteúdo do Grupo Bandeirantes, falou sobre Desinformação e Democracia. “O combate à desinformação tem que estar no centro desse debate e o jornalismo profissional é o único meio para combater essa desinformação”.
A socióloga da Universidade da Cidadania/UFRJ, Dulce Pandolfi, falou sobre o tema Por que Democracia? “Sem cidadania não há democracia. A nossa história foi fincada em cima da escravidão e do latifúndio, que aconteceu aqui em 8 de janeiro e o que acontece nas favelas, está totalmente relacionado com a impunidade da ditadura. Temos que ir fundo nessas questões”, disse a professora, que considera fundamental que o tema “sem anistia” seja contemplado no museu da democracia.