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FORMAÇÃO CULTURAL
Seminário discute espaços para a criação de repertórios e formação cultural no Brasil
Foto: Reprodução
Gestores de equipamentos de educação e de cultura se reuniram na tarde desta quinta-feira, 15, para discutir o tema Espaços para a criação de repertórios, formação artística e cultural no Brasil – diálogos possíveis. O painel fez parte da programação do Seminário Nacional de Cultura e Educação – Aprender para Construir, realizado pelos Ministérios da Cultural (MinC) e da Educação (MEC), entre os dias 14 e 16, em Brasília-DF.
Mediados pela diretora de Música da Funarte, Eulícia Esteves, participaram o professor e reitor do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), Rafael Almada, a diretora de formação do Instituto Dragão do Mar (IDM), Beth Jaguaribe, a professora e pró-reitora de extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ivana Bentes e o pró-reitor de Cultura de Extensão e Vivência da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Fabrício Carvalho, também maestro da Orquestra Sinfônica da instituição.
Como questão balizadora, Eulícia Esteves, perguntou como criar mais espaços para acolher produções, vivências e trocas culturais. “Apesar dos desafios, a arte e a cultura estão aí. Então, como fazer pontes entre instituições e o que está pulsando e fervilhando porque as pessoas dançam, cantam, sentem a necessidade de se expressar por meio da arte?”, questionou, lembrando que há carência de espaços tradicionais como teatros, cinemas, centros culturais e bibliotecas.
Ela também alertou que apesar de prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), o ensino das artes ainda não é uma prática consolidada em escolas e universidades brasileiras.
Celebrar com arte
Abrindo a rodada de conversa, Fabrício Carvalho, disse que é necessário celebrar, com arte, o momento de retomadas que se vive no Brasil. De acordo com ele, apesar do Mato Grosso, como estado continental, ostentar índices grandiosos em alguns setores econômicos, quando se fala em cultura, a realidade muda, principalmente no que se refere a espaços formais para apresentações artísticas.
Como forma de melhorar o quadro, ele sugere uma tríade composta por articulação, reconhecimento e financiamento. Segundo o maestro, é preciso articulação dos atores envolvidos na cadeia produtiva da economia criativa e destes com gestores públicos para viabilizar a produção e a criação de espaços propícios.
Em seguida, viria a necessidade do reconhecimento dos artistas, para potencializar aqueles que nunca tiveram voz. No que tange ao financiamento, ele defende uma busca ativa. “Tem que haver uma grande ação brasileira em prol do financiamento da cadeia produtiva da cultura e para potencializar aqueles que nunca tiveram voz. Sabemos que dá certo, que é possível fazer isso. Já fizemos. Esse foco é necessário em um momento de reconstrução do Brasil”, afirmou.
Contra-ataque
Ivana Bentes alertou para o uso das tecnologias de comunicação pela extrema direita nos últimos quatro anos. E disse que o aprendizado com valores antidemocráticos deve ser revertido para a discussão e implantação de modelos de redes de cultura digital. “Vivemos experiências de polarização, discurso de ódio e eles não foram formados e disseminados em espaços formais”, disse.
Segundo ela, atualmente se vive, no Brasil, uma disputa de repertórios. E para valores democráticos, arte, cultura e educação ganharem mais espaços, precisam de formas disruptivas de chegar às pessoas, também de forma capilarizada.
Nesse sentido, ela lembrou dos programas Mais Cultura nas Escolas e Mais Cultura nas Universidades, que devem ser retomados em breve, mas propondo o movimento oposto – que as pessoas saiam desses espaços e possam transformar seus territórios em equipamentos culturais. “A arte e a cultura também devem ser temas transversais em políticas públicas de todas as áreas e que atividades culturais formais devem prever, sempre, atividades de formação. Está na hora do contra-ataque”, sugeriu.
Existência e não sobrevivência
Beth Jaguaribe defende uma formação em artes que extrapole a necessidade de uma formação profissional e seja mais voltada à estética, ao poder de provocar transformações, “seguindo a perspectiva da existência e não da sobrevivência”.
Como exemplo, ela citou a metodologia do instituto que dirige, que foca em processos que se aproximam do que chama “poética da criação”.
Defendendo que há uma infinidade de formas de fazer arte, Beth propõe o Pacto do sensível, para mobilizar estruturas de poder, democratizar acesso aos bens culturais e articular esferas de gestão.
Finalizando o painel, Rafael Almada defendeu um uso maior dos Institutos Técnicos como espaços de formação também em arte e cultura, para além da educação profissional e tecnológica. “A escola é um equipamento cultural estratégico”, afirmou.