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Reunião extraordinária do CNPC trata de ações após calamidade no Rio Grande do Sul
Foto: MinC
“Mais do que a reconstrução econômica, a gente vai ter que ajudar na reconstrução da esperança de um estado inteiro”. Essa é a avaliação da secretária de Comitês de Cultura, Roberta Martins, feita enquanto presidia a reunião extraordinária do Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC), nesta quarta (15), para debater as demandas urgentes do Rio Grande do Sul. A Plenária reuniu conselheiros do estado para ouvir as demandas do setor cultural e avançar no plano de ações emergenciais que já está sendo executado pelo Ministério da Cultura (MinC) no rol de ações do governo federal.
A avaliação é de que os fazedores de cultura dos municípios atingidos vão precisar de apoio em curto, médio e longo prazos. Por isso, o MinC e todas as suas entidades vinculadas estão engajados em pensar medidas que sejam também estruturantes, ou seja, sirvam como plano de ação em situações de calamidade, como explicou a coordenadora-geral da Secretaria Executiva do Ministério, Aline Tortelli.
“Existem grupos de trabalho que estão tratando as ações de forma transversal, em parceria com a sociedade civil. A ideia é atender imediatamente o Rio Grande do Sul, no que o estado está precisando agora. Mas as ações estão sendo pensadas para que o MinC esteja pronto e possa propor ao governo ações que deem conta de possíveis outras situações de emergência”, declarou.
“Todo o Sistema MinC está comprometido em busca de soluções. Não é fácil, é tudo novo, mas nós vamos ter que aprender a lidar com essas intempéries climáticas, sob vários pontos de vista. Nunca tivemos um protocolo de emergência e essa é uma questão muito cara para nós. Precisamos pensar em ações concretas como criação de fundos, mapeamento de danos, recuperação de equipamentos culturais e patrimônios”, avaliou Roberta Martins.
Força-tarefa
Integrante do escritório de monitoramento criado pelo governo federal em Porto Alegre, o MinC está envolvido em várias frentes para elaboração de um plano que seja abrangente. Para o secretário de Formação, Livro e Leitura (Sefli), Fabiano Piúba, não se pode esquecer a dimensão da cultura ao planejar a recuperação do estado.
“Não há uma reconstrução sem a compreensão do lugar da arte e da cultura nesse processo. Estamos aqui empenhados, desenhando uma ação de recuperação das bibliotecas públicas municipais por meio de reforma da infraestrutura, acervo, mobiliário e equipamentos”, explicou.
A secretária de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC), Márcia Rollemberg, lembrou que a rede de Pontos de Cultura pode ser uma importante referência no trabalho de articulação para a reconstrução das cidades. “Precisamos planejar ações para abordar a dimensão no campo da memória, para reconstruir a perspectiva de vida dessas pessoas”, avaliou.
Presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge também fez questão de destacar o engajamento da entidade. “Entre os grandes atingidos estão fazedores de cultura quilombolas e a gente do terreiro”, declarou, apontando o desafio.
A reconstrução é uma das grandes preocupações dos agentes culturais que vivem nas cidades gaúchas. Representante da sociedade civil no Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul, Consuelo Vallandro é uma das pessoas que precisaram sair de casa por risco de inundação. Na reunião, ela lembrou que a classe artística deve ser uma das últimas a ter condições de voltar a trabalhar.
“A maior parte vive sem carteira assinada. Vive de show, de aulas, de eventos, de gravação e tudo está sendo cancelado. Já tem evento marcado para agosto sendo cancelado. Estamos num Titanic social. A gente perdeu os espaços onde a gente se apresentava, teve gente que perdeu instrumentos. Diferentemente da pandemia, temos um dano material gigantesco”, lamentou.
Presidente da Federação das Entidades de Artesãos do Estado do Rio Grande do Sul (Fedargs), Rejane Verardo descreveu como o setor foi afetado. “Muitos perderam, além das casas, suas oficinas de trabalho. E o artesanato, assim como outros segmentos, dependem das feiras. Trabalhamos de dia pra comer à noite, ninguém tem um fundo. Precisamos de ações mais que emergentes”, disse emocionada.
Já a presidente do Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul, Alessandra Motta, comentou os esforços que estão sendo feitos em meio à destruição. “Sou uma pessoa extremamente sensível e fico procurando na legislação um apoio normativo para todas as ideias que a gente tem. Algumas vão levar algum tempo, estamos focando nas emergências, no que precisamos fazer para salvar vidas - e não quer dizer apenas o corpo físico, a mente também precisa estar saudável. A arte e a cultura vão ser muito importantes no segundo momento”, avaliou.
Empenhado em planejar ações de incentivo a projetos culturais que colaborem com a recuperação do RS, o secretário de Economia Criativa e Fomento Cultural (Sefic), Henilton Menezes, se solidarizou com a situação e demonstrou confiança. “Espero que muito em breve a gente possa fazer uma reunião presencial deste conselho em Porto Alegre. Nós vamos reconstruir esses espaços.”