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PLANO NACIONAL
Painel traça linhas em busca de democratização da leitura
Foto: Reprodução
A sala é cela. A reflexão a respeito da limitação no ensino escolar foi um dos motes do Painel 3 – O Plano Nacional de Livro e Leitura, no Seminário Nacional de Cultura e Educação: Aprender para Construir, promovido pelos respectivos ministérios.
Ativista cultural, a atriz Elisa Lucinda celebrou a cultura, cantando, interpretando textos e recitando poesia. “Cada professor é um agente natural de leitura. O professor é muito pouco cuidado. Quem cuida de quem cuida?”, indagou, sob efusivos aplausos.
À frente da Diretoria de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB), no Ministério da Cultura (MinC), Jéferson Assumção, pontuou ser necessário, além de incentivar a leitura, estimular a cultura da escrita. Na abertura do painel, ele relembrou ser um ajuste histórico a democratização da leitura. “Até 1808 era proibido fazer livro no Brasil. Não é por acaso. Que projeto de colonização é esse? São 300 anos. Fazer política nesse sentido é uma reparação histórica. Como dizia Millôr Fernandes: o Brasil tem um enorme passado pela frente”, parafraseou.
A secretária Executiva do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), Nádia César Lanser Rodrigues, trouxe à luz do debate as dificuldades das cidades pequenas. “Sou do interior e sei as dificuldades que passamos para ter acesso a uma biblioteca minimamente capaz de receber para fazer leitura, pegar um livro. Leitura é uma mola transformadora. Deixaremos de ter muitas mazelas quando tivermos um País efetivamente de leitores”, prenunciou.
Representante do Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e o Caribe (CERLALC), Andrés Ossa Quintero trouxe um panorama do cenário de incentivo à leitura de forma global. Segundo o escritor, 14 dos 20 países da América Latina trabalham para ampliar a democratização da leitura. “Nos últimos anos, temos percebido aumento de políticas públicas na Íbero-América para incentivar a leitura. E existe uma concentração de políticas para atingir grupos em situação de exclusão de acesso à cultura escrita, como a população rural, povos indígenas, pessoas com deficiência, afrodescendentes, LGBTs, imigrantes, população carcerária”, revelou.
Ele também destacou ser necessário inovar no processo da coletivização da leitura, considerando ciência e conhecimento.
Doutor em filosofia, José Castilho foi outro debatedor do painel a reverberar otimismo em relação ao cenário da socialização da leitura, especialmente no atual momento político no Brasil. “A recriação do Ministério da Cultura abre uma avenida de possibilidades”.
A professora de Teoria Literária, Eliana Yunes, por sua vez, discorreu a respeito da relação entre conhecimento resultante da leitura e dignidade social. “Leitura é aquilo que dá a cada pessoa a capacidade de se tornar cidadã e interagir com o mundo, ‘lendo’ o que está à sua volta. Porque não é só ler quadros, filmes, novelas, música, política; mas é, na verdade, saber se relacionar com quem está à sua volta. Essa capacidade de leitura torna uma pessoa cidadã, corresponsável, na sociedade, pelo desenvolvimento das práticas que nos tornam efetivamente agentes de educação e de cultura”.
Elisa Lucinda
A atriz Elisa Lucinda abriu sua fala, ou melhor, apresentação musical e de recital de contos e poesia, cantando Promessa de Violeiro, de Raul Torres e Florêncio.
“A minha cama é de couro. Dos ‘bicho’ que eu mesmo caço. Rancho puro sertanejo. Mas ele é meu. Não tem ferro e não tem aço”, finalizou a canção ao som de vibrantes palmas dos cerca de 250 participantes do seminário. Lucinda também recitou os poemas Pássaro Cativo, de Olavo Bilac; e Poesia Matemática, de Millôr Fernandes.
Ao final do evento, o professor de Artes em São Sebastião, região administrativa do Distrito Federal, Vitor Hugo Leite tomou o microfone para revelar um desafio no seu ofício. Lidar com a violência. Ele lamentou ter um aluno ausente das aulas porque seu irmão foi alvo de 50 tiros e está internado em um hospital. “A sala virou cela. Precisamos sair da sala de aula”, dizia o educador, seguido por intervenção de Lucinda. “Paulo Freire dizia que o bom professor é aquele não reconhecido pelos alunos. Aquele que, no primeiro dia, os alunos, entre o professor, perguntam: quem é o professor? E eu estou identificando que esse bom professor é você”.