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MISSÃO PELA EUROPA
No G7, ministra Margareth Menezes afirma que Brasil seguirá firme no compromisso de promover a inclusão de todas as pessoas
Foto: G7
Convidado de honra do Encontro de Ministros do G7 este ano, o Brasil levou uma mensagem de inclusão, justiça social e soluções sustentáveis às maiores potências econômicas do mundo na manhã deste sábado (21). A ministra Margareth Menezes discursou diante dos líderes da Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido que, juntos, representam metade da economia de todo o planeta. Em sua fala, alertou para a necessidade da cooperação entre os membros para o avanço de políticas sociais e ações de combate às mudanças climáticas.
“Precisamos de estratégias de colaboração que combinem crescimento econômico com a redução das desigualdades e a preservação ambiental. O Brasil tem sido um defensor dessa abordagem integrada, e é fundamental que possamos expandir essas ideias para o cenário global”. E completou: “Temos visto que eventos climáticos extremos estão se tornando cada vez mais frequentes e impactando profundamente nossas vidas, seja nos grandes centros ou nos territórios onde vivem comunidades tradicionais. O patrimônio histórico e cultural está sendo impactado por esses eventos em todos os continentes, e também nos países africanos”, afirmou a ministra.
A especial menção à África se deu uma vez que Margareth Menezes foi convidada, assim como os ministros da Grécia e da Índia, a falar na sessão temática Cultura: instrumento para o desenvolvimento sustentável do mundo, com foco no continente africano.
“O Brasil abriga a maior população afrodescendente fora da África. Temos uma conexão cultural e histórica indissociável com o continente africano. Mais da metade dos nossos 200 milhões de habitantes se identificam como afrodescendentes, e essa herança está profundamente enraizada em nossa identidade nacional. Ao tratarmos da cooperação internacional para o desenvolvimento, é imperativo que qualquer forma de cooperação respeite as particularidades de cada país, suas necessidades e, sobretudo, sua autonomia”.
A ministra lembrou ainda que, no próximo ano, a África do Sul ocupará a presidência do G20 e o Brasil presidirá o Brics. "É, portanto, um período muito oportuno para, a partir do protagonismo do Sul Global, criar e avançar em agendas em torno de temas muito caros para nós como: a promoção das economias criativas, os diálogos entre cultura e meio ambiente, cultura e desenvolvimento sustentável, cultura e direitos autorais, cultura e justiça social", concluiu.
A abertura do encontro foi realizada pelo ministro da Cultura italiano, Alessandro Giuli, que pontuou a importância da economia criativa para os avanços sociais e econômicos, para o crescimento e o fortalecimento da Itália. “As indústrias criativas, como o design, podem ser um fator extraordinário de desenvolvimento sustentável para o mundo. E desenvolvimento é onde a Itália emprega quase um milhão e meio pessoas e constitui uma parte significativa do nosso Produto Interno Bruto”. Durante seu discurso, Giuli citou nominalmente Adriano Pedrosa, diretor-artístico do Museu de Arte de São Paulo (Masp), escolhido curador da Bienal de Arte de Veneza 2024. A quem atribuiu uma grande contribuição à edição deste ano.
No final da manhã - horário local - o grupo consolidou o documento final do segmento. Nele, destaca a “importância da economia criativa para a prosperidade da África, proporcionando oportunidades de crescimento socioeconómico, negócios e criação de emprego, em particular para as gerações mais jovens”. A íntegra da declaração, em inglês, pode ser lida aqui.
Em seguida, os membros do encontro participaram de um almoço oferecido pelo ministro Alessandro Giuli no Palácio Real de Nápoles.
Bilaterais
A ministra da Cultura se reuniu com a diretora-geral do Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauração de Bens Culturais (ICCRON), Aruna Francesca Maria Gujral, além de representantes da delegação canadense. Nos encontros bilaterais, falou da reconstrução do MinC e de ações estruturantes, como a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), que até 2027 vai repassar R$ 15 bilhões a todos os estados brasileiros.
G7
O grupo surgiu em meio à crise do petróleo de 1973. Fruto de uma reunião informal entre os ministros das Finanças do Reino Unido, França, Japão, Estados Unidos, e da então Alemanha Ocidental, ficaram conhecidos como os "Cinco Grandes", que tentaram chegar a um acordo sobre o caminho a seguir. Desde então, os membros e seus convidados se reúnem para debater questões relacionadas à economia internacional, à segurança, ao comércio, à igualdade e às alterações climáticas.
Veja a íntegra do discurso da ministra da Cultura, Margareth Menezes:
É com grande honra que me dirijo a todos nesta Sessão Especial da Reunião de Ministros da Cultura do G7, de grande importância nas articulações da geopolítica mundial.
Quero começar agradecendo ao convite do Ministério da Cultura da Itália, em nome do Ministro da Cultura Alessandro Giuli, para o Brasil estar presente nesta reunião. Trago saudações do Presidente Lula, que vem nos orientando nesse momento histórico da retomada das relações internacionais do Brasil. Agradeço a hospitalidade da Itália. Estamos nesse país há quatro dias. Estive no Vaticano num encontro com o Papa Francisco, onde pude manifestar um pedido do nosso presidente Lula para que ele reze pelo nosso país.
Neste momento, estamos atravessando um período de seca histórica no Brasil, com o agravamento de grandes incêndios em proporções nunca vistas. Infelizmente, os estudos indicam que grande parte dos incêndios têm sido provocados por ingerência humana, o que é considerado um crime no nosso pais. O governo brasileiro tem combatido com veemência e unido forças para dirimir essas ações. A presença brasileira nesta reunião demonstra que o compromisso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está sendo compreendido: a luta pela justiça social, o chamado para que possamos encontrar soluções sustentáveis para o combate das mudanças do clima, de estabelecer espaços democráticos para uma governança global, observando a complexidade do nosso tempo presente.
Excelências, como Ministra de Estado da Cultura do Brasil, estou trabalhando para o fortalecimento das políticas culturais. A cultura é fundamental no mundo. Além da representação simbólica da diversidade e da criatividade humana, a cultura representa um setor de geração de emprego e renda, acolhendo milhões de trabalhadores com diversas especificidades. Sabemos que a cultura também é fundamental para a garantia de direitos. O tema deste encontro, Cultura para o desenvolvimento sustentável da África e do mundo, é bastante oportuno, e também urgente. Nos traz grandes reflexões.
Estamos em um momento crucial da história, marcado por profundas transformações sociais, econômicas e ambientais, mas também o caminho de reconstruirmos novos ambientes para as relações humanas. Senhoras e Senhores, o Brasil abriga a maior população afrodescendente fora da África. Temos uma conexão cultural e histórica indissociável com o continente africano.
Mais da metade dos nossos 200 milhões de habitantes se identificam como afrodescendentes, e essa herança está profundamente enraizada em nossa identidade nacional. Ao tratarmos da cooperação internacional para o desenvolvimento, é imperativo que qualquer forma de cooperação respeite as particularidades de cada país, suas necessidades e, sobretudo, sua autonomia.
No caso dos países africanos, as ações de cooperação devem estar alinhadas com suas prioridades de desenvolvimento, para que possamos fortalecer suas capacidades de promover crescimento sustentável e inclusivo. A cultura desempenha um papel central nessa agenda. As economias criativas, por exemplo, são uma das maiores fontes de emprego para jovens em muitos países, gerando oportunidades de renda e inclusão social. Atualmente estamos trabalhando profundamente a retomada das relações com os países africanos. Essa é uma das bandeiras do governo do Presidente Lula.
Ações de reparação no contexto do combate ao racismo estrutural dentro do Brasil e o reavivamento e fortalecimento das relações políticas e culturais com os países africanos. Quando falamos de África, estamos falando de um conjunto de países com uma diversidade cultural, social, humana e econômica, que têm profundas colaborações na história da humanidade. Reconhecer esse aspecto nos abre potencial de novas oportunidades para o desenvolvimento, geração de emprego e renda, na busca de um mundo com mais justiça social e um ambiente melhor para todas as pessoas.
Precisamos de estratégias de colaboração que combinem crescimento econômico com a redução das desigualdades e a preservação ambiental. O Brasil tem sido um defensor dessa abordagem integrada, e é fundamental que possamos expandir essas ideias para o cenário global. Outro aspecto que gostaria de destacar é a relação entre cultura e as mudanças climáticas. Temos visto que eventos climáticos extremos estão se tornando cada vez mais frequentes e impactando profundamente nossas vidas, seja nos grandes centros ou nos territórios onde vivem comunidades tradicionais. O patrimônio histórico e cultural está sendo impactado por esses eventos em todos os continentes, e também nos países africanos.
É preciso construir, junto com esses países, políticas de acesso a recursos e mecanismos que lhes permitam proteger seus sítios de patrimônio e suas comunidades contra esses impactos. Por ocasião da COP28, foi criado o Grupo de Amigos da Ação Climática Baseada na Cultura, presidido pelos Emirados Árabes Unidos e co-presidido pelo Brasil. Esse grupo visa fomentar a troca de experiências e de conhecimento sobre o combate ao desequilíbrio climático, usando a cultura como parte da solução para essa questão.
Excelências, neste ano, o Brasil teve a honra de sediar a Conferência da Diáspora Africana nas Américas, promovida pela União Africana, que, pela primeira vez, foi sediada fora da África, em Salvador, na Bahia. A conferência foi etapa preparatória para 9º Congresso Pan-africano, que ocorrerá no Togo, em outubro deste ano. Foi um importante marco no fortalecimento dos laços entre os povos da diáspora negra e o continente africano e reforçou o papel da cultura como ponte entre diferentes nações. Em 2024, o Brasil preside o G20, e, no Grupo de Trabalho da Cultura, trouxemos para o centro do debate questões sobre diversidade cultural e inclusão social; direitos autorais no ambiente digital; economia criativa e desenvolvimento sustentável; salvaguarda, promoção e proteção do patrimônio e da memória como imprescindíveis para a construção de um “Planeta justo e sustentável.”
No próximo ano, a África do Sul ocupará a presidência do G20 e o Brasil presidiará o BRICS. É, portanto, um período muito oportuno para, a partir do protagonismo do Sul Global, criar e avançar em agendas em torno de temas muito caros para nós como: a promoção das economias criativas, os diálogos entre cultura e meio ambiente, cultura e desenvolvimento sustentável, cultura e direitos autorais, cultura e justiça social. Em 8 de novembro deste ano, teremos em Salvador, Bahia, a reunião de Ministros da Cultura do G20. Será uma grande honra receber os ministros de cultura do G20, incluindo nossos novos membros da União Africana.
Estamos certos de que poderemos, juntos, construir consensos sobre a cultura e os desafios da nossa agenda multilateral. Por fim, quero reiterar meu agradecimento pelo convite para estar presente nesta importante reunião. O Brasil, sob o comando do Presidente Lula, seguirá firme no compromisso de construir pontes, alavancar oportunidades de crescimento mútuo e promover a inclusão de todas as pessoas. Acreditamos no potencial da humanidade e em nossa capacidade de construir a paz.
Que possamos, através do poder transformador da cultura, encontrar soluções para os desafios globais e construir um futuro mais justo, sustentável e inclusivo para todas as pessoas, a natureza e o mundo.
Muito obrigada!