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Monteiro Lobato: cânone literário brasileiro, para a literatura infantil e para o mundo
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No segundo episódio da série de Conferências sobre Cânones Brasileiros, a professora Vanete Dezmann fala sobre a vida e a obra de Monteiro Lobato, autor de impacto na literatura infantil e juvenil, e ativo nos grandes debates políticos da primeira década do século XX no Brasil.
José Bento Monteiro Lobato (1882-1948) foi escritor, editor e empreendedor. Sua obra se caracteriza pela preocupação indelével com os problemas nacionais, apresentada com irreverência, sarcasmo e ironia, principais marcas de sua personalidade, e ia desde falta de políticas públicas relacionadas à saúde e ao saneamento básico até deficiências no âmbito da educação e cultura, passando pela desvalorização dos estratos sociais mais baixos e o subdesenvolvimento.
Monteiro Lobato criou através de sua obra um novo mundo em que a democracia e a liberdade, sobretudo a liberdade de expressão, não tinham restrições: o Sítio do Picapau Amarelo, uma república comandada por uma mulher idosa com o auxílio de outra mulher – esta, analfabeta e negra. E se nesta república a boneca de pano que ganhou vida tinha liberdade para ser rebelde, também a senhora negra, pobre e sem instrução formal tinha liberdade para repreendê-la, para viajar à Europa com a finalidade de aconselhar os principais estadistas sobre como bem-governar e para afirmar, pela primeira vez na história da literatura brasileira, que “preto também é gente”.
A obra de Monteiro Lobato tem sido objeto de constantes debates, e mesmo colocados num ostracismo. Há acusações que recaem sobre uma suposta manifestação de racismo – suposta, argumenta a professora Vanete Dezmann, porque creditadas a ninguém menos que o homem que apelou para que as classes mais abastadas de sua época enxergassem o modo desumano pelo qual os descendentes dos escravizados eram tratados. Seus contos “Negrinha” (1921) e “Os Negros” (data estimada: 1922) são ícones da literatura brasileira posta a serviço da denúncia das injustiças ao reforçarem a dimensão humana de seus protagonistas: pessoas maltratadas e injustiçadas por pertencerem aos estratos sociais mais baixos. Em O choque das raças ou o presidente negro, Lobato apresenta um ensaio com toda a carga de futuro despótico. Há quase um século trouxe os nefastos resultados da eugenia e ousava declarar que somos todos iguais, “mera vibração de éter”.
Vanete Santana-Dezmann é professora, pesquisadora e tradutora. É corresponsável pelas “Jornadas Monteiro Lobato” (realizadas anualmente na Universidade de São Paulo, sempre em cooperação com outras instituições) e “Encontros com Lobato” (realizados mensalmente também na Universidade de São Paulo). É autora de vários livros e artigos como “Vozes Lobatianas mm diálogo: possibilidades e desafios de estudar Monteiro Lobato” e “Lobato e os carrascos civilizados: construção de brasilidade via reescritura de Warhaftige Historia, de Hans Staden”. Graduou-se em Letras, fez mestrado e doutorado em Teorias de Tradução (UNICAMP), com estágio de pesquisa na Universidade Livre de Berlim. Tem pós-doutorado em Estudos da Tradução (USP), com estágio de pesquisa no Goethe-Museum de Düsseldorf. Como professora de Tradução na Universidade de Mainz, na Alemanha, desenvolveu em entre 2019 e 2020 o projeto de tradução do livro Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, para a língua alemã. Como professora de Língua Portuguesa e Cultura Brasileira na Volkshochschule, além de ministrar aulas, desenvolveu, em caráter voluntário, projetos voltados para a disseminação da cultura brasileira.
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Para ir direto ao segundo episódio da série de Conferências sobre Cânones Brasileiros no dia 23 de agosto às 16:00 acesse: