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MINAS GERAIS
Ministra reinaugura complexo arquitetônico do século 18, em Mariana (MG)
Foto: Luciele Oliveira/Audiovisual MinC
Cidade do circuito do ouro em Minas Gerais, Mariana, é referência em arquitetura colonial no país. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), entidade vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), o município recebeu em festa nesta quinta-feira (28), a reinauguração da Igreja de São Francisco de Assis e da Casa do Conde de Assumar, local onde funcionará o Museu de Mariana.
Para a ministra Margareth Menezes, um povo sem memória é um povo sem referência. “Nesse patrimônio e também um lugar de religiosidade, onde a história da construção se impregna de memória, nesta área do patrimônio histórico é onde se registra também o desenvolvimento de um país na direção da sua civilização, é onde cada geração que passa deixa registrado seu nível de civilidade. Está contido também nessa força de preservar a memória e o nosso país tem muito a dizer sobre isso, mas nós temos muito que entender, que valor existe na preservação da memória, na preservação dos nossos patrimônios materiais e imateriais, nas reparações necessárias para a gente cada vez mais valorizar esse país imenso que é o Brasil”, afirmou a chefe da cultura.
Presidente do Iphan, Leandro Grass, anunciou ainda a realização de outros 100 projetos executivos na região. E destacou o potencial arquitetônico e histórico da localidade. "Estamos aqui numa igreja, um templo religioso? Sim, mas também em um templo histórico. Um lugar que conta a historia da cidade, conta a historia do povo de Mariana", frisou.
O prefeito da cidade, Edson Agostinho de Castro Carneiro, lembrou que essa é a segunda vez que a ministra visita Mariana. Da primeira vez, como artista, e agora, para uma entrega fundamental “para a sustentabilidade ambiental, cultural e patrimonial”.
A Igreja, que estava interditada desde 2013 devido a riscos estruturais (duas grandes fissuras em seu arcocruzeiro, peça de cantaria entre a nave principal e o altar), será reaberta ao público no dia 4 de outubro. Já a Casa do Conde de Assumar estava com o primeiro andar inacessível, buracos no piso, ninhos de aves e outros danos.
A restauração foi executada com recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Instituto Cultural Vale, por meio do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), num valor total superior a R$ 15 milhões. A execução foi do Instituto Pedra e a gestão do museu será do Instituto Cultural Aurum, com patrocínio do Instituto Cultural Vale.
Novo PAC
A ministra e o presidente do Iphan reuniram-se com prefeitos das cidades históricas de Minas. Na pauta, a apresentação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Novo PAC, que desempenha um papel fundamental para a cultura. Leandro Grass assinou termo de compromisso para nova obra de restauração em Mariana, pelo PAC Cidades Históricas, para a Igreja de Santana, pelo valor de R$ 1.560.357,35.
De acordo com o presidente do Iphan, esse é um momento histórico de adaptação das relações das prefeituras com a instituição. “Estamos no século 21 e a população tem outros anseios”.
Para a ministra Margareth Menezes, esse é um novo celeiro de trabalho, principalmente para as novas gerações. “Nós estamos modernizando as ações e a partir do diálogo. Nós entendemos a cultura como geradora de economia, de emprego. Essa visão de chegarmos nas cidades, é para fomentar também a indústria criativa, ligada as indústrias culturais daquela cidade, isso dá um retorno”, afirmou ressaltando que a ponte de diálogo com as prefeituras está aberta.
Está no papel do Novo PAC preservar edifícios, artefatos e tradições, mas também promover o desenvolvimento sustentável, gerar empregos e fortalecer a economia local através do turismo e outras atividades correlatas.
Angelo Oswaldo, prefeito de Ouro Preto, ressaltou a necessidade de uma mesa de diálogo continua entre os municípios e o Governo Federal. “Queremos que esse diálogo seja um produto permanente de resultados positivos para a salvaguarda, a valorização do patrimônio cultural dos nosso municípios de Minas Gerais e do Brasil”. Wirley Reis, prefeita de Itapecerica, complementou: “A interiorização do Iphan nas cidades, não só nas reconhecidas patrimônios, mas nas pequenas cidades também.
Diálogo que, como reforçou a secretária dos Comitês de Cultura do MinC, Roberta Martins, é aprofundado e qualificado com a realização da Conferência Nacional de Cultura. “Municípios precisam pensar o que é a institucionalidade da Cultura. Fundos municipais de cultura precisam ser ativados. Como a gente pensa conselhos de política cultural. Não há cidade no Brasil que não tenha uma manifestação cultural, portanto, não há cidade no Brasil que possa ter um conselho municipal de politica cultural. É a participação que constrói a forma da cultura brasileira”
Secretário de Economia Criativa e Fomento Cultural, Henilton Menezes, secretário, pontuou junto às lideranças mineiras a importância da Lei Rouanet, fortemente atacada, no entanto grande incentivadora de ações culturais pelo país, e único mecanismo do tipo país sem validade. “Treze por cento, mais ou menos, da Lei Rouanet é para Patrimônio e Memoria. Isso dá mais ou menos, R$ 250, R$ 300 milhões por ano. Essa obra aqui é uma prova disso”, avaliou.
Participaram do encontro os prefeitos Celso Cota, de Mariana; Celso Vaz, de Ouro Branco; Lucas Coelho, de Caeté; Alcemir, de Santa Bárbara; e Alexandre Magno, de Diamantina. Além do deputado federal Reginaldo Lopes, e dos representantes do Iphan: Desirée Tozi, diretora do Departamento de Cooperação e Fomento; Deyvesson Israel Alves Gusmão diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial; e Daniela Lorena Fagundes de Castro, superintendente em Minas Gerais.
Igreja de São Francisco de Assis
A Igreja, que já foi uma das mais visitadas de Mariana, é notável por seus elementos artísticos, com destaque para obras do mestre Manuel Costa Athaíde, o Mestre Athaíde (1782-1830), cuja importância para o barroco mineiro, na pintura, se equivale à de Aleijadinho na escultura. De especial valor artístico estão dois painéis pintados por ele no forro de uma das sacristias, representando São Francisco de Assis. Ambos restaurados.
Durante a restauração do retábulo também foram descobertos anjos e outros desenhos que estavam escondidos por camada de tinta aplicada posteriormente - possivelmente, de autoria de Mestre Athaíde, dado estilo, cores e a existência de uma encomenda da Ordem Terceira para a pintura.
Todo o piso onde estão as campas/túmulos foi reforçado com madeira de lei - um dos muitos elementos de restauro estrutural que não são tão visíveis quanto as obras artísticas. É o caso, também, das barras metálicas instaladas no arco-cruzeiro para comprimi-lo e "fechar" as fissuras, restaurando a geometria original da peça, ou de todo o restauro do telhado. Detalhes ornamentais do altar e do paravento também foram restaurados à sua cor dourada original, com a aplicação de novas folhas de ouro.
Museu de Mariana
A restauração da Casa do Conde de Assumar envolveu trabalho rigoroso de recomposição de toda sua estrutura, do piso ao teto, passando por pilares e vigas. Como imóvel de sua época, chama atenção a distribuição de seus espaços, que contam um modo de vida das autoridades no Brasil oitocentista, com cômodos frontais utilizados para comércio, abertura para rua, pátio central de distribuição e piso superior reservado para família do proprietário.
O Museu de Mariana terá a história da cidade como tema, evoluindo da condição de vila para a de cidade, além de espaços destinados aos distritos do município. Vai abordar também a história do Arcebispado de Mariana, por meio de réplicas de tronos, indumentárias e outras peças, além de manifestações culturais mais tradicionais da cidade, como bordados, tapetes de sisal, artesanatos de pedra sabão de cachoeira e os Zé Pereiras, grandes bonecos alegóricos usados em desfiles de Carnaval. O espaço promoverá, além das exposições permanentes e de longa duração, programações de eventos diversos, buscando tornar-se novo centro cultural de Mariana.
Mariana
Mariana, fundada em julho de 1696, no início do ciclo do ouro em Minas Gerais, é uma das cidades históricas mais importantes do Brasil. Além de monumentos do período colonial, o município guarda rico acervo de tradições e de manifestações culturais, formado no decorrer de pouco mais de 300 anos.