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MESTRAS E MESTRES
MinC participa do encontro Universidade de Ponta Cabeça em Niterói
Foto: Marcelo Valle
"Os mestres e mestras da cultura são pessoas feitas da natureza dos tempos e dos tempos da natureza. São feitos da natureza dos tempos eternos”, como diria a educadora cearense Luiza de Teodoro. Com essa reflexão, o secretário de Formação, Livro e Leitura (Sefli) do Ministério da Cultura (MinC), Fabiano Píúba, dialogou com os participantes do projeto Universidade de Ponta Cabeça. O evento, que segue até o dia 14 de novembro é realizado no Centro de Artes da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ), e tem o objetivo de dialogar com a sociedade o papel das universidades como espaços da produção do conhecimento e a relação entre a cultura e a educação, além do reconhecimento dos múltiplos saberes e fazeres de mestres e mestres da cultura popular que embasam a formação da sociedade.
O projeto é realizado no contexto da recente aprovação do Título de Notório Saber em Saberes, Artes e Ofícios Tradicionais da UFF, que possibilita a participação de mestres e mestras dos saberes populares e de conhecimentos tradicionais, como indígenas, quilombolas, caiçaras, comunidades de terreiro, entre outros, no âmbito dos cursos de graduação e pós-graduação da universidade. Essa pauta acompanha a caminhada do MinC e do Ministério da Educação (MEC) no fortalecimento das políticas públicas de cultura e educação.
Paralelo a isso, está a criação da Rede Nacional de Universidades Federais e Institutos Federais, que já detêm o título. “Hoje, são mais de dez universidades e institutos federais que têm a resolução do Notório Saber em seus regulamentos e regimentos, tais como a UnB (Universidade de Brasília), UFBA (Universidade Federal da Bahia), UFC (Universidade Federal do Ceará), UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), UNILAB (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira), UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), IFCE (Instituto federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará), UECE (Universidade Estadual do Ceará) e, mais recentemente, a UFF com sua excelente resolução”, aponta Piúba.
Para Leonardo Guelman, superintendente do Centro de Artes UFF, Universidade de Ponta Cabeça traz esse momento tão fundamental em que uma instituição de ensino repensa e revê seu arcabouço de saberes. O encontro é um marco importante na UFF para diluir fronteiras entre um saber acadêmico científico e o saber das ancestralidades, que nutre a vida das comunidades. Nesse ponto, é uma imensa conquista vermos reverberar as vozes de mestras e mestres na Universidade, produzindo uma aproximação efetiva com a realidade. A hora agora é de fazer esse amálgama tão necessário para que a universidade cumpra o seu papel de forma mais verdadeira”, afirma o professor da UFF.
Para ele, outro ponto de destaque foi a participação do MinC numa grande roda com os mestres e a comunidade acadêmica, “quando se enfatizou a conexão entre a cultura ancestral e uma educação comprometida com a realidade social brasileira. Saímos desse encontro muito energizados para seguirmos nessas transformações tão vitais e ao mesmo tempo tão cotidianas como estas”, explicou Leonardo Guelman.
Título de Notório Saber
A outorga do título de Notório Saber pelas universidades e instituições de ensino superior é uma ação político-institucional. Mas, além da dimensão simbólica do diploma, e das dimensões político-institucionais, tem a dimensão prática. “Com este título, os mestres e mestras podem lecionar no ensino fundamental, médio e superior, nas escolas de educação básica e nas universidades de nosso país. E esta é uma conquista de mão dupla. À primeira vista, podemos imaginar apenas como uma conquista dos mestres, por receberem uma titulação. Mas é também uma conquista das próprias universidades que passam a ter uma relação mais dialógica, horizontal e recíproca entre estes saberes”, aponta o secretário do MinC.
No entanto, ele reforça que o título por si não garante uma política de transmissão de saberes e a presença dos mestres nas escolas e universidades. “Pensando nisso, o Ministério da Cultura, por meio da Secretaria de Formação Cultural, Livro e Leitura, em parceria com a Secretaria de Ensino Superior e a Secretaria de Educação Básica do MEC, estamos realizando o projeto Ciclo de Saberes nas Universidades Brasileiras, com a presença dos mestres e mestras lecionando nas universidades, nas escolas de educação básica dos territórios de abrangência dessas instituições e nos próprios espaços de trabalho e de atuação destes senhores e senhoras”, finaliza.
Fabiano Piúba ressalta ainda que o MinC iniciou o projeto Ciclo de Saberes com a Universidade Federal do Cariri (UFCA) e existe o interesse de ampliar para mais dez universidades brasileiras, com o investimento de R$ 10 milhões, compreendendo a centralidade destes ciclos na transmissão dos saberes dos mestres e mestras da cultura, bem como a presença de seus grupos e comunidades. Nesta mesma linha, o MinC e o MEC vão realizar o projeto Territórios de Arte e Cultura nas Escolas de Tempo Integral, incorporando a presença dos mestres nas escolas.